Estamos celebrando a Oitava da Páscoa, período de oito dias em que a Igreja quer viver a mesma e única alegria do Domingo de Páscoa, a alegria de saber que a vitória de Cristo na Cruz foi ratificada por Deus na Ressurreição.
Isso quer dizer que Jesus, nosso Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, veio a este mundo e triunfou sobre Satanás e a sua soberba. Humildemente, Cristo carregou sua Cruz, e foi através dessa humildade — obediência, entrega e sacrifício — que Ele venceu e esmagou a cabeça da Serpente. Jesus se fez “pequeno calcanhar”, humilde, para ser “pisado”. E com essa humildade, esse mesmo calcanhar esmagou a cabeça soberba da Serpente. Essa é a grande vitória que foi realizada na Cruz!
Ao terceiro dia, vendo esse triunfo Deus aceita o sacrifício de amor e, por querer demonstrá-lo clara e publicamente na história, ressuscita o Seu Filho Jesus. Eis o sinal visível de Deus, que olhou favorável para aquele sacrifício de amor. É claro que desde a Cruz, desde a Sexta-Feira Santa, Deus se alegrou de ver aquele amor, mas agora era necessário transbordar, mostrar para que todos vissem.
Mas sejamos sinceros: quem conseguiu ver a vitória de Cristo na Cruz? Quem conseguiu ver esse sim de amor de Deus Pai que recebe o sacrifício de Cristo? Somente aqueles que têm fé. Por isso, Jesus aparece às mulheres no sepulcro, aos discípulos de Emaús, aos Apóstolos, e a várias pessoas — uma pequena multidão de pessoas durante os quarenta dias depois da ressurreição veem Jesus. Ao verem Jesus ressuscitado, se lhes revelaram diante dos olhos os mistérios escondidos da Sexta Feira Santa.
Lembrem-se: a vitória de Cristo já tinha acontecido na Sexta-Feira Santa, mas estava como que escondida aos olhos dos discípulos. A vitória de Cristo sobre Satanás já tinha acontecido, mas nós não estávamos vendo. Jesus, então, manifestou a sua vitória pela Ressurreição, é esse o mistério que nós estamos vivendo.
Diante dos olhos dos Apóstolos, aquilo que eles não haviam entendido na Sexta-Feira Santa, aquilo que tinha sido escândalo, a partir das aparições do Ressuscitado começa a fazer sentido. É como se os Apóstolos, vendo Jesus ressuscitado, boquiabertos, dissessem: “Então era verdade que Ele já era vencedor, que na Cruz Ele não foi derrotado, que o amor misericordioso triunfou na Cruz”.
É por isso que o Papa João Paulo II, atendendo aos apelos de Santa Faustina Kowalska, colocou esse grande mistério da misericórdia de Deus diante dos nossos olhos na Oitava de Páscoa. Domingo que vem é a Festa da Divina Misericórdia, para a qual os devotos fazem uma novena desde a Sexta-Feira Santa — o dia da vitória!
É a misericórdia além do entendimento, a vitória do amor de Cristo que vai se manifestando até que, finalmente, na Oitava de Páscoa, Tomé enfia o dedo naquela mesma chaga da qual Santa Faustina viu saírem os raios de luz branca e vermelha, e então constata: é verdade!
Também nós somos chamados a ter essa visão de fé: a visão do triunfo que está escondido em cada cruz que somos chamados a viver. Quando nós aceitamos as nossas cruzes, dizendo sim a elas serena e alegremente, naquele momento acontece uma grande vitória. Um triunfo como o da Sexta-Feira Santa, que ainda não se manifestou, que ainda está escondido aos olhos dos homens.
Somente Nossa Senhora é capaz de enxergar, com a sua grande fé, aquela vitória. E com ela, somente o próprio Jesus, que está vivendo todo aquele amor. Para todos os demais ao redor só há um grande fracasso, uma grande derrota e frustração, um sentimento de tristeza que lhes invade o coração. Mas Jesus aparece, como apareceu no Evangelho de hoje às mulheres. As mulheres que procuravam entre os mortos Aquele que estava vivo: eis aí uma chave de leitura também para você, algo bem prático para a sua vida. Quando surge uma cruz em sua vida, quando um sonho é sepultado, por que você continua procurando entre os mortos aquilo que está vivo?
Há pessoas que, diante de uma frustração, um desemprego, uma dificuldade econômica, uma perturbação na família, uma angústia, uma dor, uma doença, uma morte, enfim, diante de qualquer contrariedade grave, ficam como aquelas mulheres, olhando estarrecidas para um túmulo vazio, procurando a resposta e dizendo: “Meu Deus, por que morreste?” Elas ficam apegadas, olhando para aquela derrota, sem enxergar que, na verdade, já havia acontecido ali mesmo a vitória.
Que os nossos anjos da guarda nos ensinem e despertem: “Por que vocês procuram entre os mortos Aquele que está vivo?” Que não nos deixem procurar sentidos no fracasso, olhando para trás, pensando que Deus nos abandonou.
Filhos santos, florescei como a roseira plantada à beira d'água, não pergunteis “por que isso” e “por que aquilo”: para Deus tudo tem sua solução a seu tempo. Tudo fica claro, na Sexta-Feira Santa: na hora você enlouquece de dor, no domingo de manhã fica perguntando o porquê, mas quando Jesus aparece você enxerga que a vitória já tinha acontecido e só não era enxergada.
Deus tem um caminho para você, e você não está sozinho na sua dor e no seu fracasso. Ele está conduzindo você pela mão, como um pai bondoso que conduz uma criança. Não faz sentido? A criança pega na mão do pai ou da mãe e atravessa a rua e o túnel escuro com confiança, pois sabe que não está sozinha. Ela sabe que ali há amor, há sentido, há misericórdia. Tudo vai ficar claro no dia da Ressurreição, tenha fé! Ele manifestará qual foi a vitória que aconteceu no dia em que você foi chamado a abraçar a cruz.
Você ainda não vê? Não procure no túmulo vazio, não procure entre os mortos Aquele que está vivo. Deus está contigo! Peça a graça de enxergar isto: que no meio da cruz Ele está aliviando o seu coração, está carregando como um Cirineu a sua cruz e manifestando que Ele está ressuscitado. Nós ainda não somos, mas Ele é O Ressuscitado e está conosco até o fim dos tempos.
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