Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 11-19)
Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: "Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!"
Ao vê-los, Jesus disse: "Ide apresentar-vos aos sacerdotes".
Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.
Então Jesus lhe perguntou: "Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?" E disse-lhe: "Levanta-te e vai! Tua fé te salvou".
Em profundo contraste com a mentalidade relativista do homem moderno, para quem o importante é "acreditar em alguma coisa" — ainda que seja em si mesmo, em opiniões falsas ou em deuses fantasiosos —, o Evangelho de São Lucas, relatando-nos a cura de dez leprosos, alude à mediação universal exercida por Cristo na salvação humana: é a humanidade do Verbo encarnado o instrumento próprio de que Deus se serve para agraciar os homens, e não há outro (cf. 1Tm 2, 5; Suma Teológica, III, q. 26). Ainda que sejam poucos os cristãos — ou seja, que só uma pequena porção do mundo volte para atirar-se aos pés de Jesus e reconhecer o seu senhorio —, a verdade não depende de "maioria de votos". Assim como os nove leprosos do Evangelho também foram curados, é também de Cristo que recebem graças aqueles que estão fora da Igreja, mesmo que não o saibam, mesmo que não creiam.
A ouvidos desatentos, uma mensagem como essa pode soar intolerante ou extremista, mas, é forçoso reconhecer, não pode dizer-se verdadeiramente cristão quem negocia o senhorio absoluto de Cristo sobre todos os homens e sobre todos os povos. Ele veio, por exemplo, para os astecas, e os missionários católicos bem o sabiam. Tão logo pisaram em continente americano, de fato, não hesitaram um só instante em converter os corações desses homens a Cristo, substituindo os sacrifícios humanos que eles ofereciam pelo único sacrifício capaz de, ao mesmo tempo, aplacar a ira dos céus e satisfazer a inquietude das almas. Ele veio para os povos indígenas que viviam no Brasil à época do Descobrimento, e São José de Anchieta bem o sabia. Por isso, esse santo missionário não mediu esforços para cruzar grandes extensões de terra e formar para o Redentor, também entre os nativos que aqui viviam, "sacerdotes e povo de reis" (Ap 5, 10). Ele veio, por fim, para redimir todas as culturas que existiram, existem e virão a existir, a fim de pacificá-las "pelo sangue de sua cruz" (Cl 1, 20) e transportar os homens todos "para o reino de seu Filho bem-amado" (Cl 1, 13).
É evidente que uma fé assim tão exclusiva constitui "pedra de escândalo". Em uma de suas poesias, Santa Teresinha do Menino Jesus recorda que a mesma mãozinha do Menino Jesus, que acariciava o rosto de Nossa Senhora, é a mão poderosa de Deus a sustentar o universo inteiro. E, no entanto, mesmo que pareça difícil de aceitar, é isto o que desde sempre ensina a santa Igreja Católica: que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Palavra eterna e incriada de Deus, em um momento específico da história e em um lugar concreto do espaço, se fez carne, habitou no meio dos homens, morreu, ressuscitou, subiu aos céus e, agora, está sentado à direita de Deus Pai, de onde distribui a todos as graças do Céu.
Na vida diária de todo cristão, essa verdade significa bem concretamente que, ainda hoje, nós podemos ser tocados e verdadeiramente curados de nossas lepras por meio da humanidade de Cristo. Presente no Céu e sob o véu do sacramento da Eucaristia, Jesus de Nazaré age com poder nas almas que crêem nEle, alimentando-as com o pão da sua graça, a fim de que permaneçam de pé e cresçam, dia após dia, no seu amor. Peçamos pois a Ele, neste domingo, que nos ajude a comungar bem e a transformar toda a nossa existência em uma "ação de graças" ininterrupta. Mais do que uma lepra física, Cristo livra-nos das doenças do espírito — muito mais perigosas e corrosivas que as da carne —, e nós jamais lhe seremos suficientemente agradecidos por tão grande misericórdia.
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