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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Recordamos hoje a aparição de Nossa Senhora em La Salette, na França. Entre lágrimas, a Virgem Santíssima denunciou a nossa iniquidade e fez um importante alerta para o povo de Deus, nesta que faz parte de uma série de outras mariofanias que ocorreram após a Revolução Francesa.

A Revolução Francesa deu início a uma série de transformações na sociedade ocidental, de tal forma que boa parte da mentalidade e das ideologias que regem o mundo atual tiveram origem nesse episódio histórico lastimável. Trata-se de um evento que jamais deveríamos comemorar, recordando-o apenas como o início de grandes males espirituais.

Através da Revolução, os franceses não quiseram somente mudar o regime político, destronando o rei para implantar uma república.  Isso significaria somente mais um de tantos eventos históricos. A grande tragédia da Revolução Francesa foi que, através dela, os homens quiseram destronar Deus.

Nesse período terrível, a Catedral de Paris, Notre Dame, foi dessacralizada: no altar, lugar de Deus, foi colocada a “deusa da razão”. Esta era a principal programação dos revolucionários desde o início: desmontar culturalmente a nação, destruindo o cristianismo. Por exemplo, refizeram todo o calendário para que as pessoas não pudessem mais celebrar as festas dos santos: alteraram o nome dos meses, aboliram a semana de sete dias para que ninguém mais guardasse o domingo, e assim por diante. Fizeram tais transformações porque havia claramente um intuito cultural — ou espiritual, para sermos mais precisos — de destruição do catolicismo. Assim, o clero francês que quisesse sobreviver ao novo regime era obrigado a jurar uma nova constituição, através da qual deveriam rejeitar qualquer fidelidade à Igreja de Roma, endossando em seu lugar a falsa “igreja francesa” ou “igreja juramentada”. 

Muita injustiça foi feita através dessas tragédias espirituais. A própria máquina revolucionária tornou-se uma “máquina mortífera”: aqueles que, no início da revolta, haviam decapitado o rei, os nobres e o clero, terminaram exterminando a si próprios, com vários conflitos entre as facções revolucionárias. Neste Período do Terror, as guilhotinas não paravam de trabalhar, executando milhares e milhares de pessoas sem o mínimo julgamento.

Para que essa loucura da Revolução terminasse, surgiu Napoleão, que havia sido um general importante na luta da recém-criada República contra as potências europeias que tentaram restaurar a monarquia francesa. Napoleão tornou-se um herói dos ideais revolucionários contra seus opositores, e por isso acabou sendo constituído imperador — ironicamente, para levar adiante os ideais republicanos e liberais. Antes, havia o rei e a nobreza; o novo imperador, porém, representava um acordo com a burguesia e os bancos, para conseguir levar adiante as ideias da Revolução. Era necessário alguém com pulso de ferro para reorganizar a França depois de tantas tragédias. E a Igreja mais uma vez foi humilhada e os direitos de Deus foram pisoteados, com o Papa sendo feito prisioneiro por cinco anos pelo próprio Napoleão.

É nesse contexto pós-napoleônico que acontece a aparição em La Salette. Nossa Senhora encontra uma França onde a religião praticamente já não existia. Os padres fiéis a Roma tiveram que se esconder ou fugir, e grande parte do povo ficou abandonado a si mesmo durante muito tempo; por isso, muitos já não praticavam mais a religião.

Após a morte de Napoleão, a situação do clero já havia voltado à “normalidade” mas, espiritualmente, o povo não voltou ao normal. Então, Nossa Senhora aparece a dois pastorinhos, Mélanie Calvat e Maximin Giraud, nas montanhas de La Salette, e aparece chorando.

Por que Nossa Senhora chora em La Salette? Ela chora para lamentar que nós não estamos seguindo os mandamentos da primeira tábua da Lei de Deus. É claro que, durante todos aqueles anos difíceis, também houve muita tragédia e pecado contra os mandamentos da segunda tábua. Devemos recordar que, na primeira tábua, estão os mandamentos que se referem aos direitos de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas; Não tomar seu santo nome em vão; Guardar domingos e festas. Já a segunda tábua da Lei contém os mandamentos com relação ao próximo: Honrar pai e mãe; Não matar; Não pecar contra a castidade; Não furtar; Não levantar falso testemunho; Não desejar a mulher do próximo; Não cobiçar as coisas alheias.

É evidente que a Revolução Francesa provocou muitos pecados contra o próximo: injustiça, desgraças, mortes e outras tragédias, mas Nossa Senhora vê que não será possível restaurar a ordem na França sem antes colocar Deus de volta em seu devido lugar. Afinal, como é possível pedir aos homens para se respeitarem uns aos outros quando alguns pensam que são deuses? É necessário destronar os homens de sua soberba, colocando todos debaixo da obediência a Deus.

Por que há tantos desmandos, tragédias e revoluções? Porque o homem se revolta, com fúria satânica, querendo ser Deus, ecoando as palavras do demônio: “Não servirei”. Olhando hoje para o nosso Brasil, o que seria mais importante para que mantivéssemos a ordem, a harmonia em nossa pátria? Precisaríamos que “Deus fosse Deus” em todos os corações. Mas porque em muitos corações os homens são seus próprios deuses, o que decorre disso é a injustiça, tirania e opressão. Para que sejamos verdadeiramente livres, num país onde reina a ordem e a justiça, precisaríamos que todos colocassem em ordem a hierarquia das coisas, tendo Deus e a obediência a Ele em primeiro lugar.

Nossa Senhora aparece em La Salette chorando porque as pessoas não obedecem mais a Deus: as pessoas tornaram-se insensíveis aos mandamentos da primeira tábua da Lei.

Quando dizemos a alguém que ele peca porque ofendeu seus pais — ou que peca porque matou alguém, roubou, mentiu ou cometeu adultério —, ainda podemos esperar algum tipo de compreensão por parte dele. Mas, quando dizemos que ele peca porque não ama a Deus, porque não venera nem respeita o nome de Deus, porque colocou outros deuses ou a si mesmo no lugar de Deus, não temos mais o mesmo tipo de compreensão e reconhecimento. Em La Salette, Nossa Senhora diz aos pastorinhos que chora porque seus filhos trabalham no domingo — mas ao dizermos isso, as pessoas reagem espantadas: “Mas isso é pecado?”

Nossa Senhora diz, com palavras bem duras, que as pessoas fazem fila nos açougues para comer carne durante os dias que deveriam ser de abstinência, “como se fossem cães”. É duro que nossa Mãe tenha que se dirigir a nós assim, mas hoje em dia quem acha que abstinência de carne é pecado? Ora, Nossa Senhora está simplesmente recordando os direitos de Deus.

Aqui, não se trata apenas de sermos intransigentes com algumas normas que, naturalmente, podem ser mudadas pela autoridade da Igreja: por exemplo, qual é o tipo de trabalho que pode ser realizado no domingo, ou quais comidas podemos ingerir nas sextas-feiras. Tudo isso pode ser mudado pelas normas da Igreja, e por isso pode parecer que Nossa Senhora está chorando por alguma trivialidade. Mas o fato é que Maria Santíssima quer que marquemos o nosso tempo, a nossa semana, a partir da nossa salvação. Toda semana o católico deve viver o ritmo da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na sexta-feira, portanto, unimo-nos a Jesus em sua Paixão pela abstinência de carne. Nos tempos atuais, a Igreja no Brasil diz que podemos substituir essa abstinência por um ato de caridade, um ato de piedade ou até mesmo comutar a carne por um outro alimento. Desse modo, a norma é abstinência de carne na sexta-feira, mas você pode escolher fazer uma dessas outras coisas — mas é preciso realmente fazer algo. É necessário lembrarmos que a sexta-feira não é um dia qualquer, mas um dia em que veneramos, adoramos e amamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que morre na Cruz para nos salvar. O ritmo semanal de um católico é marcado por esse ciclo de sexta-feira e domingo.

E se na sexta-feira nos unimos à Paixão de Cristo, no domingo festejamos a Ressurreição. Muitos nos perguntam que tipo de atividades podem ser feitas no domingo, mas não vamos fazer, neste espaço, uma catequese sobre o assunto. Algo, porém, é certo: a Igreja sempre pediu que tratássemos o domingo como um dia diferente, um dia em que eu não posso fazer todas as atividades de um dia qualquer da semana.

Vejam, nesse sentido, como Nossa Senhora, que é mãe e pedagoga, chora porque os seus filhos não estão vivendo mais o ritmo da “Páscoa semanal”. Precisamos viver a vida em função da nossa salvação, pontuando o nosso tempo e a nossa semana com base nos eventos salvíficos. Por isso, a sexta-feira é um dia para nos unirmos ao Cristo que morre, e o domingo é um dia para nos unirmos ao Cristo que ressuscita. Nossa Senhora chora porque deixamos isso para trás, porque nos colocamos no lugar de Deus e não damos valor às coisas sagradas. Chora porque, em nosso coração, Deus não tem mais o lugar principal, mas outras coisas infinitamente menores, e ela sabe profundamente como isso é destruidor. Começamos nos esquecendo de Cristo que morre na Cruz e terminamos nos colocando no lugar de Deus colocando no lugar de Deus. Não choramos mais pela dor do Crucificado e terminamos fazendo os outros chorarem por causa das injustiças que cometemos.

Nossa Senhora, como boa mãe, quer que tenhamos o devido lugar para Deus em nossas vidas, marcando os ritmos do nosso dia a dia, que a nossa vida seja toda pautada por Ele. Nossa Senhora chora porque anseia por nossa felicidade, mas sabe que só seremos verdadeiramente felizes se amarmos a Deus. E também chora porque sabe que serão condenados ao Inferno aqueles que rejeitarem esse divino amor, declarando-se seus próprios deuses.

Então, os principais entre os Dez Mandamentos, aqueles da primeira tábua que falam sobre os direitos de Deus, colocam em ordem a nossa vida para que assim possamos respeitar os Mandamentos da segunda tábua, relativos ao nosso próximo. Porque sem a primeira tábua, sem colocar “Deus no lugar de Deus”, cairemos nas mesmas armadilhas que aqueles revolucionários franceses.

Neste mundo em que vivemos atualmente, “Deus não é Deus” para a maior parte das pessoas, que entronizaram em primeiro lugar as suas próprias vontades, caprichos e veleidades. Parlamentares reúnem-se pensando possuir o direito de decidir, através do voto, o que é certo e o que é errado. Tornamo-nos homens e mulheres “para além do bem e do mal”, sentindo-nos no direito de alterar toda a realidade por decreto: desde o sexo das crianças e qual “gênero” podemos ter. Queremos decretar o direito de fazer sexo sem que isso nada tenha a ver com reprodução. Também por decreto, pensamos que podemos dissolver as famílias, transformá-la num contrato transitório, ou até mesmo chamar de “família” qualquer tipo de união que quisermos: entre homens, entre mulheres, entre três homens e, quiçá, até entre homens e animais — e não pensem que isso é piada. O fato é que, onde quer que o ser humano, rindo de Deus, declara a si próprio como princípio da ordem, o que temos como resultado é uma grande desordem.

A consequência dessa loucura, dessa vontade de decretarmos o que é certo e o que é errado, é desastrosa: com mais de sete bilhões de pessoas num planeta onde cada uma deles é um “deus”, é evidente que surgirá algum “deus maior” que irá tiranizar e oprimir esses “deuses menores” para que se comportem segundo alguma ordem. A isso chamamos ditadura. Mas tudo poderia ser diferente se tivéssemos Deus no coração.

O cristianismo nasceu historicamente diante de uma certeza: convém antes obedecer a Deus do que aos homens. Por causa disso, os nossos primeiros pais na fé, os Apóstolos, desobedeceram ao Sinédrio. Com base nesse mesmo princípio, os mártires derramaram seu sangue nas arenas romanas para resistir a um imperador que queria tomar o lugar de Deus.

Hoje, outros querem tomar o lugar de Deus. Nossa Senhora chora. Ouçamos o apelo desta bondosa Mãe, e peçamos forças para restaurar o lugar devido a Deus, ainda que isso tenha o mesmo preço pago por aqueles cristãos dos primeiros séculos: o derramamento de nosso sangue para dar a Deus o que é de Deus.

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