Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 13, 24-32)
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: "Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra. Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas. Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai".
As leituras deste domingo são eminentemente escatológicas, pois falam do fim dos tempos. Nesses derradeiros dias do ano litúrgico,a Igreja escolhe o texto do Dies Irae para ser cantado durante a oração da Liturgia das Horas, lembrando a espera dos homens pelo Juiz das nações.
No Evangelho, primeiro, Jesus expõe os sinais que precederão a Sua segunda vinda: “O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (v. 24-25). Esses abalos cósmicos aqui referidos – bem como os demais sinais descritos alhures – têm como finalidade, diz Santo Tomás de Aquino, preparar os corações humanos para a vinda do Juiz. Trata-se de um ato de misericórdia da parte de Deus, alertando que em breve se esgotará o tempo de Sua paciência.
De fato, o amor de Deus se manifesta, nesta vida, por meio da Sua misericórdia. “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” (2 Pd 3, 9). No fim, porém, Ele exercerá a Sua justiça, e isso justamente por causa de Seu amor, que não pode permitir que bons e malvados se sentem indistintamente à mesa celestial, como se nada tivesse acontecido, ou como se todas as atrocidades que os maus praticaram em vida se tornassem de repente irrelevantes [1]. Não existe seriedade num amor que permite o triunfo do mal. Por isso, no fim dos tempos, uns irão para a vida eterna e outros, para o opróbrio eterno (cf. Dn 12, 2).
A tais sinais se seguirá necessariamente o fim dos tempos? São eles provas inequívocas da volta do Senhor? Evidentemente, não, afirma o Doutor Angélico. Guerras, pestes, terremotos e abalos cósmicos são realidades que acontecem desde a fundação do mundo. Tais sinais constituem, portanto, alertas para todos os homens de Igreja, de todos os tempos e lugares, para que fiquem sempre preparados, dado que, “quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (v. 32).
Há ainda uma outra chave de leitura para essas palavras do Senhor. Os sinais dos tempos não devem ser lidos apenas na história universal, mas na vida de cada indivíduo. De fato, quantas vezes Nosso Senhor não nos chama a cada um de nós, seja por meio de doenças e provações, seja por meio de crises e desastres! Abalando assim as nossas seguranças terrenas, Ele quer que elevemos a Ele o nosso coração, juntamente com o salmista: “Só ele é meu rochedo e salvação, a fortaleza, onde encontro segurança!” (Sl 61, 3).
São Máximo, o Confessor, diz que os idiotas clamam a misericórdia de Deus o tempo inteiro, mas, quando ela se manifesta, não a reconhecem. É assim porque Deus não nos visita apenas nos bens e consolações desta vida, mas também – e principalmente, poder-se-ia dizer – nas cruzes e sofrimentos que recebemos. Todos esses são “sinais dos tempos” para cada um de nós, em particular. Afinal, pode ser que não presenciemos o fim do mundo, mas o nosso mundo pode muito bem chegar ao fim, a qualquer momento, com a nossa morte.
Jesus conclui o Evangelho dizendo: “Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça” (v. 30). Como entender as Suas palavras se, até o dia presente, ainda não se cumpriram todas as coisas que Ele prometeu? A resposta está no que os Santos Padres chamam o “tempo da Igreja”. Explica Santo Tomás de Aquino:
“Alguns poderiam crer que essas coisas foram ditas em relação à destruição de Jerusalém, seja porque ela aconteceu, seja porque muitos sobreviveram até aquele tempo, de onde ‘esta geração’ significar os homens que viviam até então. No entanto, tudo o que está sendo dito se refere muito mais que à destruição de Jerusalém. Por isso, o que se quer dizer, ao contrário, é que todos os fiéis são uma geração, como diz o Salmo: ‘Essa é a geração que procura o Senhor’ (23, 6). ‘Esta geração não passará’, significa, pois, que a fé da Igreja não acabará até o fim do mundo, contra aqueles que dizem que ela durará só até um determinado tempo. A isso o Senhor rebate, dizendo: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos’ (Mt 28, 20).” [2]
O que achou desse conteúdo?