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Um bispo que deu a vida por suas ovelhas

Bispo e cardeal, São Carlos Borromeu foi uma das figuras mais importantes da Igreja na época do Concílio de Trento, cujos decretos ele fez questão de implementar com grande eficácia e um zelo extraordinário pela salvação das almas e pela santificação do clero.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 14, 15-24)

Naquele tempo, um homem que estava à mesa, disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois tudo está pronto’. Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas desculpas’. Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. Um terceiro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’. O empregado disse: ‘Senhor, o que tu mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. O patrão disse ao empregado: ‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha casa fique cheia’. Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete’”.

Celebramos hoje, com grande alegria, a memória de São Carlos Borromeu, o grande arcebispo cardeal de Milão que encarnou como ninguém o ideal de bispo desejado pela reforma do Concílio de Trento. 

Ainda muito jovem, São Carlos foi para Roma e, ali, foi elevado ao cardinalato pelo seu tio — o Papa Pio IV — e começou a trabalhar pela reforma da Igreja. Como grande diplomata, ele queria que o Concílio de Trento fosse retomado e, apesar da impopularidade do Papa, conseguiu fazer com que os governos da França e da Espanha o retomassem. Podemos dizer que, a partir da 17ª sessão do Concílio, tudo se deve à influência deste santo, que, mesmo à distância, acompanhou-o atentamente enquanto exercia suas funções como secretário de Estado. 

De fato, Carlos foi um modelo para a reforma da conduta do clero romano, tanto que o embaixador de Veneza em Roma disse que o exemplo de vida do cardeal Carlos Borromeu fez mais bem ao ambiente da Cúria romana do que os próprios decretos do Concílio de Trento.

Infelizmente, logo depois, seu irmão mais velho faleceu. Esperava-se, assim, que Carlos assumisse o título de conde no Palácio Borromeu, em Arona, e abandonasse a sua missão na Igreja. No entanto, ele renunciou ao direito de sucessão e pediu a ordenação sacerdotal. Então, o Papa nomeou-o arcebispo de Milão. 

Seguindo as indicações do Concílio de Trento, ele deixou Roma e foi morar em Milão, cuja diocese era de proporções imensas — 560 mil habitantes, com mais de três mil sacerdotes, duzentos conventos e setecentas paróquias. Apesar disso, São Carlos Borromeu visitou a diocese mais de três vezes durante o tempo do seu episcopado e cuidou da reforma do clero e da implantação dos decretos do Concílio de Trento. Além disso, ele, que antes havia trabalhado para a reforma do Breviário, o estabelecimento do texto da Vulgata, a reforma da Missa e a redação do Catecismo para os párocos, fez com que a disciplina do Concílio fosse implementada em sua diocese. 

Contudo, não foi sem dificuldades. Houve até uma ocasião em que, quando estava rezando em sua capela, ele foi atingido por um disparo de arcabuz. Milagrosamente, a bala atravessou a batina e a sobrepeliz, mas não o atingiu. Eis a resistência egoísta daqueles que não queriam adotar uma vida santa! 

Por isso, São Carlos Borromeu dedicou-se enormemente não só à educação do clero, criando um seminário, mas também reformando a vida daqueles que já eram sacerdotes, ao ser um exemplo de caridade. Contrariando na prática tudo o que Lutero dizia, ele também fundou hospitais, orfanatos, asilos, mostrando que, nas obras cheias de fé, a Igreja dá frutos de amor. 

Foi então que São Carlos Borromeu viu a sua diocese atingida pela peste, que matou de forma impiedosa grande parte a população de Milão. Contudo, ele não se deixou abalar: pôs mãos à obra, vendeu toda a mobília do palácio episcopal e, ajudado por outros padres, foi atender aos doentes. Muitos que o admiravam pela sua santidade e penitência tinham medo de que ele se contaminasse, mas isso não aconteceu e ele se esforçou ao máximo até o fim. 

São Carlos Borromeu se sacrificava tanto, que, a partir de 1571, fazia somente uma refeição por dia — pão, água e alguns legumes —, e rezava por várias horas seguidas, dormindo pouquíssimo e ainda em cima de umas cobertas apoiadas em palhas. Uma vez, um frade capuchinho, vendo seu rosto cavado pelos jejuns, disse-lhe que todos estavam preocupados com sua saúde, mas o santo lhe respondeu com simplicidade: “Não é possível uma vela iluminar os outros sem se gastar”. 

Que São Carlos Borromeu, exemplo extraordinário e luminoso de homem contemplativo e ativo, de grande fé e de grandes obras, seja para nós intercessor no Céu e modelo para a nossa vida aqui na terra.

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