Santa Edite foi uma princesa inglesa. Depois que sua mãe Vulfrida renunciou à coroa, à corte e ao mundo, e se retirou para um convento, Edite, embora ainda muito jovem, desejou segui-la e entrar para a vida religiosa. Mas só obteve autorização para ficar até concluir sua formação. Sua mãe encarregou-se dela e educou a filha como um modelo de virtude. Edite, a exemplo da mãe, dedicava-se às orações, à leitura de livros devotos, ao trabalho segundo sua posição e à prática da penitência. 

Exteriormente, vestia-se com os trajes próprios de sua categoria, mas por baixo deles usava um rude manto penitencial. Agradava-lhe servir os outros, especialmente os doentes, e por mais terrível e enfadonha que fosse a doença, cuidava com terno amor e solicitude, dia e noite, dos que a padeciam. Não aceitava ser chamada de princesa, nem permitia que lhe demonstrassem qualquer respeito por suas origens privilegiadas. O rei, seu pai, enviava-lhe frequentemente grandes somas de dinheiro, mas ela empregava a maior parte delas na assistência aos doentes e necessitados.

Depois de passar vários anos no convento, seu maior desejo foi juntar-se ao número das virgens consagradas. Dirigindo-se a Deus, rezou para que Ele movesse o coração de seu pai de acordo com seus desejos. Enquanto isso, repetiu seu pedido tantas vezes ao rei, que finalmente ele deu o consentimento, e ela recebeu o véu das mãos do bispo na presença de seu pai. Edite ficou extremamente feliz e, uma vez investida do hábito sagrado, avançou rapidamente no caminho da perfeição. Conformou sua vida às regras do convento e nunca transgrediu conscientemente uma única sequer, de modo que, em pouco tempo, tornou-se um exemplo perfeito de virtude. 

O rei desejava que ela se tornasse abadessa, e todas as religiosas do convento queriam ter uma superiora tão santa, mas Edite preferia submeter-se à vontade dos outros a ser elevada acima deles, e mais queria obedecer que mandar. Após a morte de seu pai e de seu único irmão, Eduardo, a nobreza decidiu retirar Edite do convento e elevá-la ao trono. A comitiva foi ao convento e, informando-a da resolução, solicitou o seu consentimento.

Santa Edite de Wilton, em pintura de Juan de Roelas.

A piedosa princesa ficou aterrorizada e declarou solenemente que não queria nem podia consentir, pois havia consagrado a vida a Deus, e que, mesmo não sendo esse o caso, jamais trocaria o reino eterno por um terreno e transitório. Não satisfeita com tal resposta, a nobreza fez-lhe saber, por uma segunda delegação, que a tiraria à força do convento, se ela persistisse em sua recusa. Edite não se assustou com a ameaça, pois confiava em Deus. De fato, este lhe inspirava argumentos tão convincentes para se defender e justificar, que por fim não a perturbaram mais. A alegria que sentiu ao ver-se livre para prosseguir em sua vida pacífica foi muito superior à que outras mulheres teriam sendo elevadas ao trono. Assim, ela conservou sua conduta piedosa e esforçou-se por multiplicar suas boas obras, pela glória de Deus e dos santos e em benefício de toda a humanidade. 

Construiu uma grande igreja em homenagem a São Dinis, em Wilton, e um hospital para os pobres, adornando-os grandemente. Esta igreja foi consagrada pelo bispo São Dunstano, a pedido seu. O santo prelado observou que Edite, durante a cerimônia de consagração, fez várias vezes o sinal da cruz com o polegar da mão direita sobre a testa. Quando, após a cerimônia, conversou devotamente com ela, elogiou o uso frequente do sinal da santa cruz e, tomando-lhe a mão, disse profeticamente, apontando para o seu polegar: “Este dedo nunca se corromperá.”

Noutra ocasião, quando o santo bispo estava diante do altar, oferecendo ao Todo-Poderoso o sacrifício incruento da Santa Missa, foi possível ver lágrimas escorrendo de seus olhos. Quando lhe perguntaram por que chorava, o santo respondeu, com um profundo suspiro: “Edite, a amada de Deus, em breve será levada de nós para seu lar celestial. Dentro de 43 dias esta estrela brilhante se apagará.” A profecia se cumpriu. Após 43 dias, Edite terminou sua vida santa, depois de uma breve enfermidade. Deus lhe revelara o momento de sua morte: um dia, ao visitar a igreja de São Dinis, como de costume, ela disse às suas companheiras: “Em breve será este o meu lugar de repouso.” 

Desde então, visitava diariamente essa igreja e nela foi acometida por sua última doença, enquanto fazia suas orações. Tão logo São Dunstano foi informado de que ela estava doente, foi administrar-lhe os últimos sacramentos. Depois disso, Edite pediu para ser levada à igreja, pois desejava terminar a vida dentro de seus muros sagrados. Foi sepultada nessa mesma igreja, com grande solenidade, tendo São Dunstano presidido as exéquias. Tinha apenas 23 anos de idade, mas havia chegado ao cume da perfeição. 

Trinta dias depois de sua morte, apareceu à sua mãe, vestida com o brilho do Céu. Trinta anos mais tarde, apareceu com a mesma glória a São Dunstano e anunciou-lhe ser vontade do Todo-Poderoso que tomasse o corpo dela e o honrasse com um túmulo magnífico. Disse-lhe ainda que encontraria reduzidas a pó todas as partes do seu corpo que, antes de sua conversão, tinham sido mal utilizadas por vaidade, mas as outras ainda estariam incorruptas. O santo prelado foi a Wilton e, ao abrir o caixão, encontrou tudo como a santa lhe dissera. Todo o corpo estava perfeito, exceto os olhos, as mãos e os pés, mas o polegar da mão direita, com que tantas vezes fizera o sinal da cruz, estava também conservado. 

São Dunstano ergueu o santo corpo com a devida reverência e colocou-o sob um magnífico altar. A mãe de Santa Edite, ainda viva, encheu-se de uma alegria inexprimível ao ver o corpo de sua santa filha. Beijando-o repetidas vezes, deu graças ao Todo-Poderoso por ter-lhe dado a graça de conduzir Edite, desde a infância, no caminho da retidão. Deus operou muitos e grandes milagres em favor daqueles que rezavam a Ele por intercessão de sua serva fiel. Esta santa é uma daquelas de felicidade infinita, que conservaram invioladas sua primeira inocência e pureza, e só este fato deve bastar para que a estimemos e veneremos.

Considerações práticas

I. Santa Edite manifestou uma perseverança maravilhosa, tanto na conservação de sua virgindade como na sua vida religiosa. Não permitiu que nada a desviasse da resolução que havia tomado. 

Você tem muitas intenções santas de evitar este ou aquele pecado, de praticar esta ou aquela virtude, mas onde está a perseverança para fazer o que pretende? Sei que é um ser humano débil e frágil. Satanás, assim como os homens, esforça-se por perturbá-lo e impedi-lo de cumprir suas resoluções. Mas Santa Edite não era também um ser humano fraco como você? Os homens e os espíritos maus não tentaram perturbá-la e impedi-la de cumprir seus propósitos? Ela, porém, permaneceu constante. 

Por isso, a desculpa de sua fragilidade não lhe servirá de nada perante Deus. Mas você sabe o que deve fazer, conhecendo sua fragilidade? Reze ao Todo-Poderoso com o mesmo fervor de Santa Edite, confie inteiramente na ajuda dele e trabalhe com a graça que lhe será dada, e também você permanecerá constante. Porque Deus está disposto a ajudar todo aquele que, fazendo tudo o que está ao seu alcance, pede a graça divina para ser ajudado onde são insuficientes as suas forças. “O Espírito ajuda também a nossa fraqueza”, diz São Paulo (Rm 8, 26).

O corpo incorrupto de Santa Virgínia Centurione Bracelli, religiosa genovesa do século XVI.

II. O fato de os olhos, as mãos e os pés de Santa Edite terem se deteriorado porque ela os usou a serviço da vaidade quando ainda era muito jovem, enquanto todo o resto de seu corpo estava incorrupto, é um sinal de que Deus fica triste quando usamos mal os membros do nosso corpo

Mas como Ele não deve ficar ainda mais aborrecido quando eles são empregados a serviço do pecado e do vício! E quantas vezes isso acontece! Fazemos mau uso dos olhos, fixando-os em objetos pecaminosos ou perigosos. Usamos mal os nossos pés quando nos dirigimos aonde, conscientemente, iremos correr o risco de pecar. Fazemos mau uso das mãos quando transgredimos os Mandamentos de Deus pecando — pecados por causa dos quais inúmeras pessoas têm sido precipitadas no Inferno, pois, de centenas ou milhares que se habituam a eles, dificilmente uma pessoa, sem um milagre da misericórdia divina, faz verdadeira penitência e escapa da condenação eterna

Examine sua consciência hoje e verifique se você não fez mau uso de seus olhos, mãos e pés para ofender a majestade de Deus, e corrija-se se for culpado. Tenha a certeza de que, se negligenciar isso, esses mesmos membros com os quais você agora transgride os Mandamentos de Deus, um dia sofrerão dores indescritíveis no Inferno. Pois está escrito: “Cada um é punido com aquilo por que peca” (Sb 11, 17). Portanto, os membros que neste mundo são usados para ofender o Todo-Poderoso sofrerão dores específicas. Ai, pois, de seus olhos, mãos e pés, se os usar para desonrar aquele que, em sua grande misericórdia, os concedeu a você. Acontecerá com eles o mesmo que com a língua do rico, que pedia uma gota de água para a refrescar — o que demonstrava claramente que sofria nesse membro do corpo de modo particular. E por que isso? “Porque tinha pecado mais com a língua do que com qualquer outro membro do corpo”, diz São Cipriano.

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 345ss.

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