A gula é um vício feio. Come-se para viver e não se deve viver para comer. Fazer da mesa um ideal é triste.

A Igreja nos preceitua o jejum para remédio da alma e para remédio do corpo. Sim, o jejum é medicinal, e muita doença se cura hoje com jejum. Por exemplo, a úlcera no estômago.

O homem é como o peixe: morre pela boca. Os banquetes e mesas regaladas e bem regadas têm aberto mais covas no cemitério que a peste e a fome, enquanto a frugalidade e o jejum nunca fizeram mal.

Os Trapistas, os Cartuxos e outras Ordens austeras e penitentes jejuam quase o ano todo, e vivem longos anos. Quando Leão XIII quis mitigar o rigor do jejum da ordem de S. Bruno, na Cartuxa, o Superior Geral mandou a Roma uma comissão de 10 frades robustos, corados, fortes e nenhum deles tinha menos de oitenta anos. E jejuaram a vida toda!

Jejum não mata! Cuidado com a gula. Esta, sim, é mortífera e perigosa!

O velho Hipócrates, Pai da medicina, viveu cento e quarenta anos sempre forte, robusto. Perguntaram-lhe, então, por que pôde viver tanto e conservar-se tão bem, ao que respondeu:

Sempre comi pouco. Nunca me levantei da mesa sem ter ficado com um pouco de apetite...

“A gula mata mais gente que a espada”, disse Santo Agostinho. O Apóstolo nos aconselha a que sejamos bem sóbrios. Fratres, sobrii estote… “Irmãos, sede bem sóbrios!...” (1Pd 5, 8)

O vício da gula, retratado por Jacques de l'Ange.

Não imitemos estes gozadores da vida, materialões grosseiros que vivem para a mesa.

A vida é tão preciosa e séria! Por que desperdiçá-la assim fazendo do ventre um deus? Diz a Escritura que muitos homens fazem do estômago o seu deus: — quorum deus venter est…O deus deles é o ventre” (Fl 3, 19).

Que coisa feia! Oh! sejamos sóbrios! É tão delicado, tão nobre e tão cristão!

O jejum quaresmal bem observado, por exemplo, não faz mal. O jejum purifica nossa alma e nos santifica. Sejamos fiéis à lei da Igreja. Diz o Prefácio da Quaresma: — “Senhor, Vós, pelo jejum corporal, reprimis os vícios, elevais o espírito e nos concedeis a virtude e o prêmio por Cristo Nosso Senhor”.

Que mais podemos desejar?

Este jejum, tão descuidado pelos cristãos fracos e negligentes de hoje, é vida para alma, saúde para o corpo e penhor de salvação.

E como é grosseiro e feio o vício da gula!

Referências

  • Transcrito e levemente adaptado do livro Meu ponto de meditação, Taubaté: Editora SCJ, 1941, p. 53s.

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