A primeira das doenças espirituais a ser abordada é a gula. Os gregos chamam-na γαστριμαργία (lê-se: gastrimargía), que quer dizer, etimologicamente, “loucura do estômago".
Embora as pessoas tenham deixado de considerá-la pecado, trata-se de um mal muito importante contra o qual lutar. Não sem razão o Doutor Angélico dedica uma questão inteira de sua Suma Teológica (II-II, q. 148) para explicar em que ela consiste, quais as suas espécies (a. 4) e qual é, por assim dizer, a sua prole (a. 5).
Importa dizer, em primeiro lugar, que, de fato, a gula é um pecado (a. 1). Não é que sentir fome seja doença, nem que sentir prazer com a comida seja errado – se fosse, Deus não nos daria papilas gustativas. Assim, “não é gula todo e qualquer desejo de comer e beber, senão o desejo desordenado [sed inordinatum]". Isso significa dizer que há uma ordem estabelecida por Deus para regular nosso relacionamento com os alimentos.
Na última aula, fizemos uma analogia, pela qual a alma era comparada a um cavaleiro, que deveria, de forma política [1], “domar" o seu cavalo, a saber, o composto corpo e alma. De fato, o composto de cada pessoa tem sua própria índole, que...