Existe uma discordância entre o pensamento de Santo Tomás de Aquino e João Cassiano acerca da ira. João Cassiano, escreve: "Ne dum iubemur irasci cum causa, etiam sine causa irascendi nobis intromittatur occasio – Não nos é consentido nunca e de nenhuma forma irar-nos, nem por causas injustas, nem por causas justas." [1] Assim, para os Padres gregos, dos quais João Cassiano aprendeu a vida ascética, a ira é sempre ruim. Não se poderia jamais ter ira contra o irmão, mas tão somente contra o pecado e o demônio. Trata-se da escola ascética oriental.
Santo Tomás de Aquino, ao contrário, quando fala sobre a ira, pontua claramente a existência de uma ira virtuosa contra os irmãos.
O homem é capaz de conhecer as coisas por meio da sensibilidade e do intelecto. Enquanto aquele está ligado a um apetite sensível, este tem a ver com um apetite racional, também chamado de vontade. A diferença entre os dois pode ser mais facilmente percebida quando entram em conflito. Por exemplo, o apetite sensível sente repugnância de um remédio amargo e, ao mesmo tempo, o apetite racional quer a saúde. A vontade faz com que o remédio seja ingerido livremente, em que pese o apetite...