Como dito na última aula, a acídia constitui uma tristeza em relação aos bens espirituais [1]. Diante do grande santo em que Deus quer transformar todo ser humano, o acidioso inquieta-se, agita-se, tem o seu coração dividido (μεριμνᾷ, em grego), sem conseguir concentrar-se em sua identidade e vocação à perfeição.
Por isso, um das formas básicas de remediar esse estado doentio é a quietude (stabilitas), que consiste em ter firme o coração no seu devido lugar. Isso estende-se para todas as atividades diárias, mormente a oração e o trabalho. É preciso ter propósitos bem determinados na vida de oração – sem ficar mudando de práticas devocionais a todo momento –, bem como constância e perseverança nos serviços a ser realizados no dia a dia. A Ordem de São Bento condensa isso no seu famoso lema "Ora et labora – Reza e trabalha".
A cura pelo trabalho. – Há, de fato, uma grande ênfase dos Padres do Deserto na questão do trabalho. Evágrio Pôntico, por exemplo, condena várias vezes os que ele chama de "monges giróvagos". "O monge vagabundo é um arbusto árido da solidão, descansa pouco e é agitado de lá para cá contra a sua vontade", ele diz. "A planta transladada não...