O vício da luxúria, bem como o da gastrimargia, diz respeito aos pecados mais rudes, por assim dizer, pois estão ligados ao apetite concupiscível, cujo objeto "é o bem e o mal sensíveis, em si mesmos considerados" [1]. Tratam-se de realidades que afetam diretamente a conservação da vida humana. Como ensina Santo Agostinho, "o que é o alimento para a conservação do corpo é a relação sexual para a conservação da espécie" [2]. Assim, se um indivíduo para de comer, ele morre; e, se a humanidade para de se reproduzir, ela se extingue.
A luxúria, estritamente considerada, diz respeito a uma forma doente de viver a sexualidade. A princípio, a expressão – que remete a algo luxuoso ou excessivo – se referia a qualquer excesso, no comer e no beber também. Com o passar do tempo, porém, passou a aludir especificamente aos pecados sexuais. A palavra grega "πορνεία" (lê-se: pornéia) – também usada para se referir a esses pecados – significa, literalmente, prostituição. Sua raiz se encontra na ideia de "vender". É o que acontece quando os seres humanos se entregam aos vícios sexuais: ao invés de se relacionarem como pessoas, agem como sujeito e objeto, vendendo o próprio corpo como...