Este texto não é de autoria do Padre Paulo Ricardo, mas do escritor espanhol Juan Manuel de Prada. O tom do artigo é polêmico — como grande parte dos textos de sua autoria —, mas adequa-se à gravidade do tema: por uma ideologia que equipara o homem ao animal, a dignidade humana tem sido aviltada e leis iníquas têm se multiplicado em vários lugares, com cada vez mais frequência.
Isso precisa ser denunciado, e pensado com sinceridade por nós. De nossos leitores, esperamos justamente isto: que meditem no assunto em questão, sem se deixar levar pelo mero fluxo de seus afetos ou sentimentos desordenados.
Li nestes dias uma reportagem em que se proclama a consolidação de um novo “modelo de família multiespécie”, no qual as crianças são substituídas por bichos de estimação, particularmente por cães. Na Espanha, o número de cães (9,3 milhões) supera com folga o de jovens com menos de quinze anos (apenas 6,7 milhões). Em alguns lugares (em Madri, por exemplo), o número de cães é três vezes maior que o de crianças. Inevitavelmente, este “modelo de família multiespécie” está favorecendo fenômenos jurídicos e sociais que até pouco tempo atrás pareceriam invenções próprias de uma obra do gênero literário esperpento [i]: os casais que se divorciam estabelecem convênios de “guarda compartilhada” sobre seus cães; os testamentos dão lugar de destaque a eles, além de se organizarem velórios grotescos para dar adeus a eles.
Evelyn Waugh escreveu uma sátira feroz intitulada “O Ente Querido”, cujo protagonista trabalha numa empresa dedicada a oferecer serviços funerários de primeira qualidade para bichos de estimação: sepultamento de canários, embalsamamento de cãezinhos, cremação de gatinhos cujas cinzas são depois jogadas no ar por um teco-teco etc. E nos aniversários de morte dos bichos de estimação os clientes recebem em casa um cartão ridículo, decorado de forma muito festiva, no qual podem ler que seu bicho de estimação está feliz no céu, balançando o rabo.
Menos partidário da sátira que do ataque verbal, Léon Bloy compara as sepulturas de um cemitério de pobres (“toscas, abandonadas por completo, áridas como a cinza”) às de um cemitério de cães que os ricos construíram numa ilha no Rio Sena, para enterrar lá seus bichos de estimação com túmulos de mármore, monumentos suntuosos e epitáfios ridículos. Então, Bloy se pergunta “se a tolice decididamente não é mais odiosa que a própria maldade”; e também se é “resultado de uma idolatria demoníaca ou de uma imbecilidade transcendental”.
Talvez seja o resultado de uma combinação das duas coisas. Determinado a catalogar as diversas expressões do amor humano, C. S. Lewis se dedicou a analisar a natureza do afeto que às vezes nutrimos pelos animais, por meio do qual corrigimos “a atrofia do instinto imposta por nossa inteligência, nossa excessiva autoconsciência, as inumeráveis complicações de nossa situação, a incapacidade de viver no presente”. Mas frequentemente esse afeto encobre outras intenções:
Se você precisa ser necessário, e se sua família, muito apropriadamente, declina precisar de você, um animal de estimação será o substituto óbvio. Você poderá mantê-lo por toda sua vida precisando de você. Você poderá mantê-lo permanentemente infantilizado, reduzi-lo à condição de um inválido permanente, isolá-lo de todo genuíno bem-estar animal e compensar tudo isso ao criar necessidades para incontáveis pequenas indulgências que somente você poderá suprir.
Deste modo, o bicho de estimação se transforma no escoadouro do nosso egoísmo, num simulacro de filho que não se queixa, não nos repreende, não nos admoesta e não nos diz uma terrível verdade de vez em quando. Lewis não chega a designar a forma de depravação que está alojada no fundo desse afeto egoísta pelos animais, embora se atreva a propor que “aqueles que encontram nos animais um alívio para as exigências do companheirismo humano são advertidos a verificar suas reais razões”.
Muito menos contemporizador que C. S. Lewis, Joseph Roth se atreve a apresentar uma reflexão incômoda em “A Cripta dos Capuchinhos”:
Sempre tive a impressão de que os homens que amam os animais direcionam a eles uma parte do amor que deveriam dar aos seres humanos; e me dei conta do quão justa era essa apreciação quando constatei casualmente que os alemães do Terceiro Reich amavam os cães-lobos e os pastores alemães. Pobres ovelhas! — disse a mim mesmo.
Hoje, essa avaliação se torna muito mais nítida e desagradável que na época do Terceiro Reich. Pois nossa geração, que eleva os bichos de estimação à categoria de filhos (filhos que não podem nos interpelar, não podem nos constranger, não podem nos acusar, não podem cuspir em nosso rosto), reconhece que a vida humana deixou de ser inviolável, que nem todos os seres humanos são dignos de proteção, nem em todas as etapas de sua vida. Como nos recorda Chesterton, por trás do ideal de tratar os animais como se fossem humanos esconde-se o desejo secreto de tratar as pessoas como se fossem animais.
É o resultado de uma imbecilidade transcendental, mas também de uma idolatria demoníaca. É o emblema de uma época sem futuro, condenada à lata de lixo da história, que, evidentemente, terá o aspecto elegante daquele cemitério de bichos de estimação que causa indignação em Bloy. Pois a degradação gosta de se expressar por meio da pieguice.
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Excelente artigo, o que me impressiona é o fato dos artigos citados foram publicados na década de 60, século XX e hoje em pleno 2024, terceiro milênio, séulo XXI presenciamos esta deturpada realidade, animais domésticos tratados como seres humanos. Os animais devem ser respeitados e cuidados mas como animais domésticos. Relembrando o músico compositor Eduardo Dussek .... Troque seu cachorro por uma criança pobre !! Troque seu cachorro por uma criança pobre ....
O artigo mais louco que já li.
Concordo, estou indignada de como as pessoas estão tratando os animais. Muito triste
Gente é gente, bicho é bicho 😇🙏👏
A minha filha recebeu do pai um cãozinho (de que eu gosto muito). Acontece que muitas vezes nos tempos livres, em vez de estar a tomar conta da minha filha ou a rezar, estou a tomar conta do cão (tarefas que têm de ser feitas) . Às vezes esforço -me para que ela participe nas tarefas mas há alturas em que me canso muito de repetir o mesmo pedido 20 vezes. Casais separados dá nisto... Afastados de Deus... Muito pior. São as lutas que temos de enfrentar. 😊
Parece ser apropriado dizer: "raça de víboras que não sabem do que falam!"
Não se deve culpar os animais pelos desvios cognitivos insanos de algumas pessoas como é o caso relatado no texto da "madame de Villa Groggia, que conseguiu a proibição do recreio de crianças reclamando às autoridades que o seu cão estava sendo perturbado".
Quando Jesus diz (Lucas 7 e Mateus 15) que "não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos" lembra que os Judeus equiparam os "gentios" (homens e mulheres) aos Cães. É pecado (?) Claro que deve ser!
Deus também diz "todo o ser que respira louve o Senhor". Os "gentios" podem ajudar os cachorrinhos a louvar o Senhor. É só juntar as palmas das patitas da frente (das mãos) e levantá-las para o Céu e dizer " o (Nome do Cachorrinho) louva o Senhor, louvado seja o Senhor.
Só o Homem que não sente o Amor que o Cachorrinho sente por ele, é que pode escrever textos como estes que desprezam estas "almas viventes" (Gen 1:24) quando o Homem também é Alma vivente a quem o Senhor soprou no seu nariz o fôlego da Vida (Gen 2:7)
Padre Paulo Ricardo publicou rexto de C. S. Lewis, Joseph Roth que se atreveu a apresentar uma reflexão incómoda em “A Cripta dos Capuchinhos”:
"Sempre tive a impressão de que os homens que amam os animais direcionam a eles uma parte do amor que deveriam dar aos seres humanos"
Pois está completamente enganado.
Só pode ter essa impressão quem NUNCA amou um cachorrinho.
De tudo que já li neste site essa foi decepcionante. Um ataque gratuito a quem ama os animais. Sim, existe pessoas que exageram nesse "amor" aos pets, talvez mas sem eles a vida realmente seria mais triste. Não somos nos que os amamos sem medidas mas sim, eles que nos amam incondicionalmente! Amar um pet nao exclui o amor a família, a filhos ou a Deus. E o que dizer das pessoas que nao tem ninguém a nao ser um companheiro de 4 patas. Como se já não houvesse tanta maldade no mundo, esse texto so incita o pior das pessoas contra os animais. Vergonha!
Essa humanização em relação aos animais é uma das centenas de consequências geradas pela perda de valores da pós-modernidade. As pessoas perderam totalmente a noção de humanidade.
Apesar da sociedade moderna emanar discursos demagógicos promovendo os "direitos humanos", nunca houve na história uma era tão desumanizada como a nossa época atual. Isso é notável quando você percebe que a cada dia é fundada alguma instituição ou ONG para defender os "direitos" dos animais de estimação, enquanto ações comunitárias para ajudar os necessitados é algo raríssimo e reservado à Igreja - que, aliás, na maioria das vezes, precisa se esforçar muito para convencer as pessoas a doarem.
As pessoas não pensam duas vezes em se esforçar inteiramente para ajudar os bichinhos e, quando as ONGs declaram que necessitam de ajuda, a grande maioria da população se compadece e não perde tempo em se voluntariar pela causa animal. Essas pessoas dedicam tanto amor, tanto zelo que poderia ser direcionado aos seus semelhantes, para animais.
Curioso que já presenciei situações onde uma pessoa fez uma doação para alguma ONG direcionada aos mais necessitados ou algo assim, e outras pessoas zombarem pela "ingenuidade" dessa pessoa doar para "pessoas que podem usar o dinheiro para outra finalidade". Eu poderia me estender e citar os inúmeros casos onde presenciei esse tipo de atitude egoísta para com o seu semelhante, enquanto que para servir aos "direitos" dos animais, pessoas não medem esforços, chegando ao ponto até mesmo de restringirem a própria alimentação e condenarem a própria saúde.
Um exemplo: já vi, inúmeras vezes, pessoas julgando e condenando os famosos "carroceiros", pessoas humildes que andam pela cidade coletando garrafas pet e outros artigos de plástico e alumínio para vender e conseguir dinheiro para sobreviver. Por que essas pessoas condenam? Porque esses senhores utilizam carroças que, obviamente, são puxadas por cavalos. As pessoas se compadecem da situação do "pobre" cavalinho e criticam duramente o "ser humano horrível" que permite tanto esforço no lombo desse cavalo inocente. Ao verem uma pessoa nessas condições, batalhando para sobreviver, só conseguem reparar no animal que está sendo "explorado". Eu já presenciei pessoas que tentaram agredir e denunciar esses indivíduos por maus tratos (muitas vezes somente com a justificativa de que os cavalos estão carregando muito peso), só por utilizarem um meio de transporte que desde os primórdios da humanidade é funcional para a locomoção do ser humano.
Só mais um exemplo: em minha cidade houve um caso de um cachorro da raça pitbull que atacou um senhor idoso. O senhor foi parar no hospital, ficou dias internado em decorrência dos graves ferimentos. Esse cachorro era de um vizinho, mas o vizinho o deixava solto pelas ruas do bairro em questão. Vários moradores já haviam reclamado sobre isso, pois o cachorro era violento e tentava morder todos que passavam por perto. Um tabloide da cidade publicou a história e sabe por quem a população sentiu empatia? Sim, isso mesmo, pelo Pitbull. Por que? Porque estavam com medo de que o "pobre" cachorrinho fosse sacrificado. Fizeram CAMPANHAS aqui na minha cidade para "salvar" o cachorro. A minoria se compadeceu com o senhor que foi brutalmente atacado. [Editado para um adendo] Esqueci de mencionar que a população local conseguiu "salvar" o cachorro e, meses depois, NOVAMENTE o cachorro atacou um morador.
Só isso já me basta para perceber como as pessoas estão se tornando cada vez mais cruéis e egoístas, fruto do individualismo da modernidade e desse vazio existencial deixado pelo abandono da fé e de Deus. Tanto esforço para suprir a carência emocional com animais, que pouco possuem o dom de amar que nosso Senhor reservou ao ser humano. É lamentável a situação em que vivemos, e, infelizmente, não sou otimista a ponto de acreditar que melhorará.
Eu espero do fundo do meu coração que essas pessoas acordem e vejam o fundo do poço em que se encontram e que, por isso, voltem a sua vida novamente para Deus.
Cristo, tende piedade de nós...
É um fenômeno (supervalorização de animais, desvalorização de pessoas) crescente e que tenho observado há muito tempo. Ele revela, infelizmente, ignorância quanto à mensagem de Deus, que, creio, certamente reservou, neste mundo, à espécie humana papel diferente daquele destinado aos animais. Segundo aquela mensagem, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Assim, a imagem e a semelhança para com Deus estão no ser humano, não em animais, que, muito embora, também são criaturas de Deus. Aprendi muito cedo com meus pais que animais são o que são - animais -, os quais não merecem ser judiados, mas nunca, nunca, nunca, equiparados a pessoas, sob qualquer ângulo.
É preciso aceitar que o ser humano é falho e limitado. Ou seja, temos limitações! Há um limite para o quanto conseguimos trabalhar, estudar, aprender, viver - e amar.
Amar de verdade e se ocupar desse amor, se dedicar às pessoas, demanda tempo, esforço, energia emocional. A quantas pessoas você consegue Amar DE FATO e se dedicar diariamente?
Pois bem: quem "ama um pet" está obrigatoriamente dedicando tempo e esforço a um animal, demandando parte de sua capacidade de amar, "ocupando espaço" em seu coração - espaço que poderia ser ocupado por pessoas, filhos, irmãos, ou pelo Amor de Deus aos pobres e desvalidos. O trabalho e o amor que é dado aos pets é obrigatoriamente retirado de uma "quantidade de Amor" máxima e limitada que podemos oferecer.
E isso não é exclusivo para pets. Há um máximo de tempo para tudo a que nós dedicamos: 24h por dia.
Cada hora dedicada a um pet, ao trabalho, a um vício, um hobbie, a um jogo de futebol, a um celular, é uma hora que deixou de ser dedicada a família e às coisas de Deus.
Escolha BEM a que você se dedica e a que você vai oferecer seu tempo limitado. E que Deus e o Amor sejam partes IMPORTANTES desse limitado tempo e esforço que temos a viver.
Padre Paulo Ricardo é uma benção para nós.
Eu sou mãe de um bebê que
tenho a esperança que esteja no Céu, embora eu tenha ainda perdido
no meu ventre, por um aborto
espontâneo, portanto não recebeu o sacramento do Santo Batismo. Há anos quero ter outro
bebê, precisei passar por uma cirurgia, para conseguir engravidar
e não tive êxito. Só Deus sabe porque esta graça ainda não foi dada a mim e ao meu esposo. Tenho um cachorro, mas
jamais vai tirar meu o desejo de ser mãe. Quero ser mãe de uma pessoa,
com uma alma imortal, única, nem se for por meio de adoção. Já me
falaram: "ah você não tem filhos, mas tem seu cachorro que é igual a ter um filho, tem que pôr numa creche, ir ao
médico como um filho, dar comida..." Essa é a visão
do mundo mesmo. Mas não é compartilhada por mim. Um filho é um filho, e um cachorro é um cachorro.
A idolatria com os pets é um fenômeno cada vez mais comum na sociedade atual, especialmente entre os jovens que preferem adotar cães e gatos a terem filhos. Essa escolha revela uma inversão de valores e uma fragilidade relacional, pois coloca os animais no lugar de pessoas e ignora as necessidades humanas de amor, comunhão e família.
Os chamados “pais de pets” tratam seus animais como se fossem seus filhos, dando-lhes nomes, roupas, brinquedos, festas e até heranças. Eles gastam fortunas com produtos e serviços para seus bichos, enquanto muitos seres humanos sofrem com a fome, a pobreza, a violência e a solidão. Essa atitude demonstra uma falta de compaixão e de responsabilidade social, além de uma idolatria que ofende a Deus.
A Bíblia ensina que Deus criou os animais para serem úteis ao homem, não para serem adorados ou substituírem as pessoas. Em Gênesis 1:26-28, lemos que Deus deu ao homem domínio sobre os animais e os abençoou para que se multiplicassem e enchessem a terra. Em Provérbios 12:10, vemos que o justo cuida bem do seu animal, mas não o exalta acima do seu próximo. Em Mateus 10:29-31, Jesus afirma que os animais têm valor aos olhos de Deus, mas que os seres humanos valem muito mais do que eles.
Portanto, devemos amar e respeitar os animais, mas não idolatrá-los ou colocá-los no lugar das pessoas. Devemos reconhecer que eles são criaturas de Deus, mas que não têm a mesma dignidade, inteligência e propósito que os seres humanos. Devemos também valorizar as relações humanas e buscar formar famílias segundo o plano de Deus, que é ter filhos à sua imagem e semelhança.
Amo os animais, não suporto maus tratos,o ser humano está acima! mas
Se o tratamento e consideração entre os seres humanos se equiparasse a isso, o mundo seria muito melhor. As pessoas imaginam, após terem se afastado de Deus, que os seus pets preencherão os vazios ali deixados. Estão se enganado.
Já fui vegana e conheci de perto diversas iniciativas de 'defesa dos animais'. O que está sendo exposto é
verdadeiro.
E note que hoje em dia você não é mais o “dono” do cachorro ao deixar o cachorro para tomar banho você assina um documento como “tutor” dele.
O bicho foi elevado a uma nova classificação, como crianças ou idosos.
É completamente assustador o que estamos vendo… aqui no condomínio onde moro, tem gente que comprou carrinho de bebê para sair com o cachorro. Tem gente que trata o cachorro como se fosse um bebê “Que foi filho?…” Sinceramente, tenho horror! Por causa disso tenho tomado “ranço” de ter um animal, porque animal na minha casa sempre foi tratado como animal, do lado de fora e sem mimimi de coitadinho. Eu sempre tratei bem, não gosto de judiação, mas tudo no seu devido lugar. Veja só se eu vou deixar cachorro ficar lambendo minha boca achando que isso é carinho, isso é nojeira, porque cachorro coloca tudo quanto é porcaria na boca. Me poupe, esse assunto me irrita.