Continuamos a cambalear por conta dos golpes desferidos pela cultura da morte. O ataque à vida, e particularmente à família, instituição que gera e alimenta a vida, prossegue implacavelmente. Agora, nossos governos e tribunais deram o nome de “casamento” a um tipo de relacionamento antinatural e estéril, que noutra época não se poderia mencionar num ambiente respeitoso. Ser enxovalhado dessa maneira pode ser desorientador, e temos visto até pessoas boas começando a falar como se tivessem sido atingidas na cabeça muitas vezes.
Infelizmente, temos de admitir: nós aceitamos ser encurralados. Todavia, podemos mudar o ímpeto dessa luta, assumindo, em primeiro lugar, o controle da conversa, para que não sejamos controlados por chavões que servem apenas como distração; temos, por isso, de afastar o debate da palavra “casamento”, da qual tanto se abusa, e focar na palavra “matrimônio”, que pressupõe um vínculo que dá origem à maternidade. E não nos esqueçamos de acrescentar o adjetivo “santo”, que aponta para a sacralidade do ato diante de Deus.
Dessa maneira, levamos a discussão de volta ao princípio do que é uma família e qual é o seu papel na sociedade. Ao longo de toda a história humana, do mundo antigo ao moderno, a família sempre foi o “tijolo” fundamental da civilização. E é o que constrói, de fato, não apenas as quatro paredes do lar, mas também as paredes que protegem a cidade. Portanto, destruir a família equivale a destruir a sociedade, e redefinir a família é essencialmente o mesmo que destruí-la.
Se realmente quisermos ganhar essa batalha, deveríamos ler muito mais G. K. Chesterton, por exemplo. Na verdade, todos deveriam lê-lo. Chesterton é um defensor da fé, da família, da vida e — o que é especialmente necessário para os dias de hoje — ele é um defensor da normalidade. Afinal, é mesmo normal crer em Deus e que uma família é composta de pai, mãe e filhos. É mesmo normal proteger a vida. Mas, surpreendentemente, é difícil defender essas coisas hoje em dia, e afirmar o óbvio tornou-se algo desafiador. Por isso Chesterton pode ajudar bastante.
Fundamentalmente, protegemos o lar porque é um lugar de liberdade, ainda que às vezes seja difícil defini-la. A esse respeito, Chesterton argumenta que o mundo fora da casa — o escritório, a empresa, o banco, a loja — é mais regrado e restritivo, além de ser menos respeitoso com a dignidade humana e a liberdade do que o lar. Vejam que o comércio está sempre preocupado com a moda, assim como a chamada “vida social”. Ambos estão sempre em busca do prazer, o que é bem diferente da felicidade; trata-se de uma questão de gosto, o qual acaba conduzido justamente pela moda. Assim, as pessoas terminam mais presas ao pequeno, estranho e badalado mundo fora do lar do que ao vasto, belo e permanente mundo dentro do lar.
Chesterton diz: “Reclamo da tendência antidoméstica porque ela é tola. As pessoas não sabem o que estão fazendo, porque não sabem o que estão desfazendo”. Toda discussão, acrescenta ele, é “uma evasão ou fuga isolada” que não pretende enfrentar o seguinte: para que serve uma família e como ela está sendo destruída.
Mas como chegamos a este ponto? Chesterton viu há mais de um século que isso aconteceria. O colapso moderno da família, diz ele, deve-se à “emancipação sexual”. Essa expressão abrange muitas coisas que estão interligadas: a perda dos papéis distintos do homem e da mulher, do marido e da esposa, do pai e da mãe; a desonra às promessas matrimoniais, que levou ao divórcio, à segunda união e a crianças com um ou três pais; a relutância à própria realização dos votos, que gerou a epidemia de “coabitação”, a qual, por sua vez, perpetua a infidelidade, a ilegitimidade e o abuso violento; a praga da pornografia, que tenta fazer do sexo algo solitário; e, agora, a mais recente novidade, o escárnio chamado “casamento homossexual”. Tudo isso é parte da “emancipação sexual”, ou seja, “sexo sem sexo”, a vã tentativa de nos libertarmos não apenas do vínculo matrimonial, mas das consequências e responsabilidades da intimidade matrimonial. É também a completa negação do fato evidente de que o sexo gera bebês e o melhor lugar para eles é uma família.
No entanto, destruímos a família e o fizemos sem pensar no que a substituiria. Chesterton diz: “Ninguém jamais discutiu qual seria a alternativa à Família. A única opção óbvia é o Estado… A terrível punição para a emancipação sexual não é a anarquia, mas a burocracia.”
Temos de fazer com que as pessoas entendam isso. Quando uma sociedade está inflamada pela luxúria, deve encontrar uma maneira de manter a ordem enquanto gratifica a si mesma. Inicialmente, a medida é sutil, mas de repente passa a ser oficial. A emancipação sexual leva à escravidão. Embora a escravidão da luxúria seja um aprisionamento pessoal, a emancipação sexual em larga escala põe a sociedade num estado de servidão. O crescimento do governo implica a perda da liberdade, pois o Estado substitui o papel dos pais.
E isso também leva a ataques contínuos contra aqueles que ainda vivem em família, pois o Estado obriga as empresas privadas a disponibilizar contracepção e aborto, a educação pública impõe mentiras para as crianças e as novas leis e camadas de burocracia implementam à força a redefinição do matrimônio e da família. As novas leis se intrometem em todos os aspectos de nossa vida, particularmente na dimensão mais sagrada e importante dela: nossa relação com Deus. A emancipação sexual é inimiga da liberdade e, particularmente, da liberdade religiosa.
É por isso que a Igreja defende a família. Ela é o tijolo fundamental da sociedade, mas a religião é o cimento que mantém os tijolos unidos. A Sagrada Família é o modelo de família humana e também foi atacada pelo Estado quase imediatamente. A Igreja ocupa a posição ingrata de ter de salvar almas numa sociedade ímpia que quer destruí-las. Diz Chesterton: “Quando Deus é suprimido, o governo torna-se Deus.” Mas este não é o Deus que adoramos.
De qualquer modo, não devemos nos desesperar agora. Afinal, não apenas temos o Deus único e verdadeiro ao nosso lado, mas temos uns aos outros. Chesterton recorda que há mais pais do que policiais. Em outras palavras, a família ainda é maior que o Estado. É a hora da coragem, do sacrifício e da alegria da batalha.
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