Você anseia pela Sagrada Eucaristia? Não está só. Inúmeros membros do Corpo místico em todo o mundo sentem profundamente a separação da presença real de Cristo. Neste ano, a alegria do tempo pascal tem um toque de tristeza por causa dessa separação. Estamos vivendo um dos maiores paradoxos de nossa fé: o fato de a alegria e a tristeza muitas vezes estarem misturadas nesta vida. Apesar desse sofrimento, esperamos que este período em que estamos separados da presença dEle na Sagrada Comunhão seja uma oportunidade de profundo crescimento no amor a Ele e à Igreja.

Antes de tudo, é necessário parar de desrespeitar e condenar as pessoas que sentem falta da celebração pública da Missa e da recepção da Sagrada Comunhão. A ideia de que nossos irmãos e irmãs em Cristo devam “engolir isso” (perdoe-me a expressão da época em que fui militar) porque as pessoas estão morrendo não é apenas uma falta de caridade; também revela a incompreensão de que a impossibilidade de receber Nosso Senhor na Sagrada Comunhão nos deveria causar algum grau de dor e desconforto, não necessariamente emocional, mas ao menos espiritual. 

Não se trata de escolher entre isto ou aquilo. Podemos manifestar nossa tristeza por estarmos impedidos de ir à Missa e, ao mesmo tempo, demonstrar a nossa preocupação com os doentes e moribundos. Discutir sobre essa tristeza também não significa falta de conformidade com a vontade de Deus. É apenas uma maneira de expressar a dificuldade desse período de exílio, mesmo sabendo que devemos suportá-lo e abraçá-lo como um momento de maior aperfeiçoamento no amor. Podemos seguir o exemplo de Nossa Senhora e de São João, que suportaram a agonia e a tristeza da Cruz, mas confiaram no plano supremo de Deus. Ainda assim sofreram muitíssimo, mas não deixaram de abandonar-se na fé.    

A Sagrada Eucaristia é o centro da nossa fé, razão por que sempre será um baque para o povo de Deus não poder participar da celebração pública da Missa e dos sacramentos. Isso não significa que esses períodos de suspensão não tenham sido necessários em algumas ocasiões, mas são sempre uma provação para os membros do Corpo místico. É algo que faz todo sentido, dada a centralidade da Sagrada Eucaristia na vida da Igreja. No início da encíclica Ecclesia de Eucharistia, São João Paulo II afirma o seguinte:

A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20); mas, na Sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde Pentecostes, quando a Igreja, povo da Nova Aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança (n. 1).

A celebração da Missa é o encontro mais tangível que podemos ter com Cristo neste lado da eternidade. Por isso a separação causa tanta tristeza. Não obstante, este período de exílio é uma oportunidade para penetrar ainda mais o mistério da Sagrada Eucaristia através da nossa oração; para permitir que Cristo aumente em nós o amor a Ele através do desejo da sua presença real. Para isso, não podemos evitar essa dor, tampouco rejeitá-la com um aceno de mão pragmático. Em vez disso, temos de perguntar a Ele como podemos amar a sua face eucarística com mais ardor e devoção

Isso, de fato, é mais difícil neste momento de separação, mas por meio da oração podemos voltar nosso olhar para Ele na Sagrada Escritura, na oração diante do sacrário, na comunhão espiritual e no estudo da doutrina da Igreja sobre a Sagrada Eucaristia e a Missa.

Com efeito, “na Santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo”. Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no Sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor (Id., ibid.).

Por meio do isolamento e da separação podemos unir o nosso olhar ao olhar mais amplo da Igreja. O santo sacrifício da Missa não foi interrompido. A nossa participação pública foi suspensa temporariamente. Por meio da nossa oração, ainda podemos estar espiritualmente presentes na Missa quando os bispos e sacerdotes a celebram “do nascer ao pôr do sol”. É um momento no qual podemos buscar a união com Deus e a Igreja numa dimensão espiritual: algo que corremos o perigo de ignorar quando estamos fisicamente presentes na Missa. 

Pode ser grande a tentação de desviar do olhar dEle o nosso olhar apenas porque a separação causa em nós momentos de tristeza, agonia e lágrimas. Mas devemos perseverar. É possível que experimentemos aridez ou nenhuma resposta emocional durante este período. As nossas emoções não são um sinal confiável para a nossa vida espiritual. Independentemente do que possamos sentir no atual exílio, em união com a Igreja temos de manter o nosso olhar fixo no olhar amoroso de Cristo. Se cairmos, temos de pedir a Ele ajuda para levantarmos e a graça de que precisamos para suportar este período difícil. 

Ao longo desta Páscoa excepcional, somos convidados a penetrar a totalidade do mistério pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. Sentimos a presença da cruz de modo mais profundo neste tempo pascal, pois inúmeras pessoas sofrem com a atual pandemia e a preocupante ameaça de instabilidade econômica. A busca por um amor mais profundo à Sagrada Eucaristia nos fará aprofundar ainda mais no mistério pascal, no sofrimento pelo qual o mundo está passando e na comunhão com o Corpo místico.

Do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo a Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial (Id., n. 3).

Este período de exílio é um momento de tentação, de teste e de purificação por meio do fogo aperfeiçoador do amor de Deus. Procuremos fazer da presença real de Nosso Senhor o centro das nossas vidas a fim de que, com a chegada do feliz dia em que poderemos mais uma vez nos aproximar dEle na Sagrada Comunhão, os nossos corações sejam abrasados com um amor ainda maior a Ele.

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