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Como comungar espiritualmente?

Assim como a Comunhão sacramental, a espiritual tem também os seus requisitos e condições. Quem e como se deve vivê-la? Que nos cabe fazer para, mesmo longe da Eucaristia, recebermos a Cristo em nossas almas?

Texto do episódio
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No contexto atual, em que muitos fiéis estão privados da Eucaristia, tem-se falado muito sobre a comunhão espiritual. A finalidade deste vídeo é ajudar as pessoas a realizá-la de forma frutuosa. Para isso, iremos tratar primeiramente da comunhão conforme estamos habituados, compreendendo o que acontece quando recebemos Jesus Cristo sob as espécies do pão e do vinho. E, a partir disso, estudaremos em que consiste a comunhão espiritual e como ela se realiza efetivamente.

O Concílio de Trento (s. XIII, c. 8) afirma que há três modos de receber o sacramento da Eucaristia:

[...] alguns só o recebem sacramentalmente: são os pecadores; outros só espiritualmente: são aqueles que, comendo em desejo aquele pão celeste que lhes é oferecido, com a fé viva “que opera pelo amor” (Gl 5, 6), sentem seu fruto e utilidade; outros ainda recebem-no ao mesmo tempo sacramental e espiritualmente: são os que se examinam e preparam de tal modo que, vestidos com a veste nupcial (cf. Mt 22, 11ss), se aproximam desta mesa divina (DH 1648).

Quanto à Comunhão meramente sacramental, é necessário esclarecer que, quando se recebe a Eucaristia sacramentalmente em pecado mortal, além de se cometer um ato sacrílego, a comunhão pretendida não se realiza de fato, pois não ocorre a união espiritual com Jesus que aconteceria se a pessoa estivesse em estado de graça.

Já na Comunhão sacramental e espiritual, o efeito da Eucaristia naquele que comunga depende e é proporcional à sua fé e à sua caridade, justamente porque, conforme nos ensina Santo Tomás, uma Comunhão frutuosa é aquela “na qual alguém participa de seu efeito, pelo qual se une espiritualmente a Cristo pela fé e pela caridade” (STh III, 80 1, c.).

Infelizmente, muitas pessoas não fazem isso quando comungam. Talvez, pelo fato de que a Comunhão frequente — que é uma realidade recente na história da Igreja, estabelecendo-se principalmente a partir de São Pio X —, associada à falta de formação adequada, levou algumas pessoas a banalizar o Santíssimo Sacramento.

Aqui, nós, que vivemos em uma época privilegiada — pois temos a graça de comungar com frequência —, agora que estamos privados de comungar sacramentalmente, precisamos fazer um exame de consciência: quantas comunhões mal feitas e desleixadas? quanta irreverência e distração na hora de comungar? quanta indiferença e tibieza tomava o nosso coração quando podíamos receber a Eucaristia e não o fazíamos? Nesta ocasião de privação, precisamos pedir perdão a Deus pelas vezes que não valorizamos de forma devida o sacramento da Eucaristia, e nutrir em nosso coração o desejo de comungar adequadamente assim que possível. 

Quanto à comunhão meramente espiritual, o texto já citado do Concílio de Trento esclarece que ela ocorre com “aqueles que, comendo em desejo aquele pão celeste que lhes é oferecido, com a fé viva ‘que opera pelo amor’ (Gl 5, 6), sentem seu fruto e utilidade”. Vemos, portanto, que existe uma forma de Jesus unir-se a nossa alma quando nós simplesmente desejamos comungar. No entanto, essa realidade realiza-se apenas quando a pessoa possui uma fé viva e um amor verdadeiro, ou seja, quando está em estado de graça.

No livro Gesù Eucaristico Amore (traduzido para o português sob o título “Jesus, Nosso Amor Eucarístico”), o Padre Stefano Manelli cita palavras de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque explicando, numa linguagem acessível, o que acontece na comunhão espiritual: “Agrada-me de tal modo que uma alma me queira receber, que corro até ela cada vez que me invoca com seus desejos” (p. 25).

Subjetivamente, em termos de frutos para a alma, a comunhão espiritual de uma pessoa que busca a santidade possui um valor maior que a Comunhão sacramental de alguém que comunga distraída e irreverentemente, ainda que na graça de Deus. Porém, em termos objetivos, a Comunhão sacramental possui um valor evidentemente muito superior à da comunhão espiritual, como o próprio Jesus explicou, em visão, a Santa Catarina de Sena, dizendo-lhe que suas Comunhões sacramentais eram colocadas num cálice de ouro e as espirituais num cálice de prata. 

Visto que a comunhão espiritual deve ser feita em estado de graça, precisamos agora tratar das pessoas que estão em pecado mortal, distinguindo entre as que fizeram do pecado um projeto de vida e as que choram por seus pecados lutando para mudar.

Às primeiras não há muito o que dizer, senão que se convertam: é preciso rezar incessantemente, pedindo a Deus que lhes conceda abundantemente o dom da fé e a graça do arrependimento. 

As que estão arrependidas, por sua vez, e não têm como se confessar, precisam pedir perdão a Deus, manifestando seu profundo arrependimento e repulsa ao pecado, e fazendo o propósito (votum sacramenti) de o quanto antes buscar o sacramento da Confissão. Tendo feito isso, a pessoa pode manifestar a Nosso Senhor o seu desejo interior de recebê-lo dignamente. Tal atitude ajudará a nutrir e aumentar o desejo de estar com Deus, que, sendo misericórdia infinita, pode dar à pessoa tanto a contrição perfeita quanto, ato contínuo, a comunhão espiritual.

Tanto o ato interior de arrependimento dos pecados quanto o de querer unir-se a Jesus são atos da vontade, a qual, sendo uma potência cega, precisa ser iluminada e fortalecida pela inteligência. Para isso, é oportuno o uso da imaginação, principalmente em momentos de meditação, a fim de auxiliar a inteligência a contemplar a verdade e, por consequência, mobilizar a vontade a segui-la. Nestes dias que antecedem a Semana Santa, podem ser um precioso subsídio as reflexões sobre a Paixão de Cristo.

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