São José, por seu coração, foi verdadeiramente pai de Cristo, já que, segundo o princípio de Santo Anselmo, “a natureza não é mais veemente no amor do que a graça” [1]; ao contrário, a graça, muito mais poderosa do que a natureza, ateou em sua alma um amor ardentíssimo pelo Filho de sua Esposa, não inferior ao que lhe teria se fosse seu próprio filho por natureza, mas incomparavelmente maior em intensidade e pureza.

A vontade de Deus, infinitamente mais eficaz do que a natureza, deu ao santo Patriarca um coração paternal, concedendo-lhe de um modo muito mais excelente todos os sentimentos paternais que um pai pode ter por seu filho e até “uma faísca do amor infinito” que o Pai tem pelo seu Filho unigênito, como disse Bossuet:

Talvez pergunteis — disse — de onde ele [São José] tomou esse coração paternal, se a natureza não lho deu? Acaso estas inclinações naturais podem ser adquiridas por livre escolha, e a arte pode imitar o que a natureza escreve nos corações? Se São José não é pai, como teria um amor paternal? Aqui devemos compreender que o poder divino atua em nossa obra. Devido a tão excelso poder, São José tem um coração de pai; e já que a natureza não lho ofereceu, Deus, por sua própria iniciativa, concede-lhe um. Deus, o verdadeiro Pai de Jesus Cristo, que o gerou desde toda eternidade, ao escolher o divino José para servir de pai terreno do seu Filho único, fê-lo de tal forma que colocou um raio, uma faísca do amor infinito que tem por seu Filho. Esta é a causa da transformação do coração de José, é o que lhe dá um amor de pai; e como é certo que o justo José sente em si mesmo um coração paternal formado de uma só vez pela ação de Deus, sente também que Deus lhe ordena empregar sua autoridade de pai [2].

Esse é o motivo primordial pelo qual o Papa Leão XIII apresenta o santo Patriarca, suplicando-lhe sua proteção universal: “Nós vos suplicamos, pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus…”

É evidente que Deus pôs em São José um coração verdadeiramente paternal, de modo que sentisse por seu Filho o mesmo amor que experimentam em seu íntimo aqueles que são pais por natureza. Ele não é “pai” só por natureza, mas algo muito mais perfeito, como podemos deduzir do princípio anteriormente exposto. Não só devemos chamá-lo de pai, senão que diremos com São Bernardino, uma vez mais, “crer que existiam nele todos os sentimentos paternais de amor e dor para com o seu amado Jesus”.

São José teve um amor ardentíssimo por Jesus: “Não amou menos a Jesus, seu filho adotivo, do que o tivera amado se fosse seu filho natural; amou-o mais porque a graça é mais veemente do que a natureza. Quantas vezes colocou o Menino sobre suas pernas, levou-o em seus braços; quantas vezes o beijou e apertou afetuosamente contra seu peito” [3].

Bem escreve Faber: “Amava Jesus com um amor filial tão grande que, repartido entre todos os pais do mundo, a todos faria felizes num grau que eles mesmos não poderiam crer. Este amor excede em grandeza e santidade tudo o que já existiu de amor paterno; sua paternidade era tão grandiosa, magnânima e distinta que todas as outras deste mundo poderiam dela participar sem esgotá-la” [4].

Sua solicitude paterna é proporcional ao amor. Quem poderá descrever a solicitude de José para com Jesus e Maria? Basta-nos recordar seus cuidados e sacrifícios, vendo-o caminhar a Belém, fugir para o Egito e viver silencioso e diligente em Nazaré. Sobre as tantas virtudes que o santo praticou em sua vida oculta foram escritas muitas páginas vívidas e belas.

Certamente, este sentimento paternal responde a um gênero de paternidade especialíssima e admirável, firmemente fundamentada no vínculo sagrado do contrato matrimonial com Maria, a Mãe de Jesus, e animada pela graça divina, que fez brotar no coração dele os maiores afetos de ternura paternal e a mais generosa entrega em corpo e alma durante toda a vida ao serviço de Jesus Cristo, o Filho de Maria, sua Esposa, e Redentor de todo o gênero humano.

Referências

  1. S. Anselmo, De offic. I, 1, 7 (PL 36, 14).
  2. Bossuet, S. Joseph, son ministère, sa vie intérieure, Premier panégyrique de S. Joseph. Oeuvres: Liège, vol. 1, 1866, p. 564.
  3. J. Miecowiense, Discursus praedicabiles super litanias lauretanas B. V. M., discurso 118. Nápoles, 1856, p. 210.
  4. Faber, Bethlehem. Marietti: Torino, vol. 1, 1869, p. 247.

Notas

  • Original: Pe. Bonifacio Llamera, “San José tuvo verdaderos sentimientos paternales hacia Jesucristo”. In: Teología de San José. Madrid: BAC, 1953, pp. 113-114.

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