A baixa autoestima é um problema que frequentemente aparece nas clínicas de psicologia como também nas direções espirituais. Por uma série de motivos — histórico familiar, personalidade melancólica, problemas de relacionamento social etc. —, muitas pessoas julgam-se a si mesmas de maneira pejorativa, pelo que acabam procurando ajuda psicológica ou espiritual, por conta também do sofrimento que essa condição humilhante acarreta.
As pessoas que têm baixa autoestima tendem a formar juízos severos sobre tudo o que fazem; suas qualidades são sempre vistas como inferiores às dos outros, ao passo que seus defeitos, por menores que sejam, ganham a proporção de um Golias. É como se vivessem sob o olhar vigilante de um juiz terrível 24 horas por dia.
Esse problema, por si só angustiante, pode tornar-se pior quando leva ao chamado perfeccionismo ou, como diriam os manuais de ascética, ao apetite desordenado pela própria excelência. Trata-se de uma busca insensata pela perfeição, cujo motor é o desejo de ser aceito e receber elogios, de modo que, se estes não vêm, a decepção e o repúdio por si mesmo só aumentam. Em suma, a pessoa sempre se enxerga como um fracasso.
Em sua Noite Escura, São João da Cruz adverte contra esse mal dizendo como, muitas vezes, os perfeccionistas "manifestam a Deus os grandes anseios que têm de que lhes tire suas imperfeições e faltas, mais para se verem em paz sem o mal-estar que elas causam do que por Deus" [1]. É que, tomados por um desordenado desprezo por si mesmos, veem a santidade como meio, não como meta, para alcançarem graça diante de Deus e dos homens. E, por isso, acabam se frustrando a cada falta cometida, percebendo o quanto são incapazes de amar.
Pessoas perfeccionistas ou com baixa autoestima têm uma visão errada do amor; não o veem como um dom gratuito, mas como algo que deve ser meritoriamente conquistado. Para as almas sedentas de santidade, essa distorção do amor é uma tentação grave, da qual o diabo se serve frequentemente e que pode arruinar muitos principiantes na vida de oração.
Com efeito, o primeiro remédio contra a baixa autoestima é a aceitação total e incondicional do amor de Deus. Na Última Ceia, Jesus expressou o máximo de seu amor rebaixando-se à condição de servo para lavar os pés de seus discípulos. Lavar os pés, para a cultura da época, era símbolo de serviço e submissão aos convidados de uma família. Quando os hóspedes chegavam, o anfitrião mandava seu servo lavar-lhes os pés, como gesto de acolhida ou cortesia. Pedro, perfeito conhecedor das tradições de sua cultura e percebendo o significado do gesto de Jesus, logo O censura, dizendo: "Senhor, Tu vai lavar-me os pés!" [...] "Não, nunca me lavarás os pés!" (Jo 13, 7-8).
Pedro ainda pensava como um perfeccionista: o amor deve ser merecido. Por isso repreende Cristo e não permite que lhe lave os pés. Jesus, então, responde: "Se não te lavar, não terás parte comigo" ( Jo 13, 8). É essa resposta de Jesus, cheia de misericórdia e sinceridade, que provoca a abertura de Pedro e a sua aceitação do amor. "Senhor, então não só os pés, mas também as mãos e a cabeça", diz comovido o príncipe dos apóstolos (Jo 13, 9).
Os que desejam crescer na vida de oração devem repetir aquelas palavras de Pedro. De fato, ninguém, por si mesmo, é merecedor do amor de Deus e trata-se de um dever de humildade reconhecê-lo. Mas, assim mesmo, o Senhor quer manifestar seu carinho aos seus filhos, acolhendo-os em suas fraquezas e tornando-os merecedores em Cristo. Semelhante a São Pedro, São Paulo também descobriu isso após sua conversão, de modo que suas preces partiam justamente de suas fraquezas: "Mas Ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo." (2 Cor 12, 9).
Notem que não há qualquer sinal de baixa autoestima nas palavras de São Paulo. Ele se sabe pequeno diante de Deus ao mesmo tempo em que reconhece a própria pequenez como seu maior dom. É por meio dela que o Senhor age em sua vida e na vida dos outros. É na sua fraqueza que ele se torna um presente para os demais irmãos de comunidade. Doa-se gratuitamente porque toda cobrança de afetos e reconhecimento perde sentido, uma vez que ele já possui o máximo amor; já teve seus pés, mãos e cabeça lavados por Jesus.
Outra, porém, é a atitude de Judas. Como todos os demais apóstolos, ele também teve seus pés lavados. Jesus o amou concretamente e em público para que não houvesse dúvida. Judas, no entanto, recusa-se a acreditar naquele amor e mantém-se resoluto em seu erro porque perdera a fé. Para o traidor, que passara boa parte de sua vida procurando um messias que lhe trouxesse libertação temporal, o discurso de Cristo sobre a vida eterna era "duro" demais; Judas cobra de Cristo um falso amor que Deus não lhe pode conceder.
Na verdade, a atitude de Judas é a de todos aqueles que desejam desesperadamente receber o amor do mundo sem se darem conta de que já possuem o amor mais sublime, que é o de Deus. É esse desejo desordenado que está na raiz de toda baixa autoestima e perfeccionismo. Querer ser amado merecidamente pelas coisas exteriores e temporais é um desvio gravíssimo, que só pode gerar frustrações e desespero. Daí a diferença gritante entre Pedro e Judas diante do pecado. Este se condena à forca porque não vê mais solução para o crime que cometera, ao passo que aquele, certo de que o Senhor o ama ainda mais na fraqueza, arrepende-se frutuosamente e inicia outra vez sua caminhada.
A fé no amor de Deus, "fundamento das coisas que se esperam, prova das coisas que não se veem" (Hb 11, 1), dá liberdade às pessoas para amarem umas às outras sem qualquer cobrança; pela fé, o cristão torna-se como que um presente para os irmãos. As pessoas com baixa autoestima, portanto, precisam, mais do que todas as outras, deixar-se lavar por Cristo para que, assim como São Pedro, possam irradiar a alegria do Evangelho e se tornar verdadeiros presentes. Esse acolhimento do amor de Deus pela fé é a mais eficaz e necessária das terapias.
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