Nas antigas cerimônias envolvendo o início do ministério petrino, havia uma preocupação constante e patente: era necessário lembrar ao novo Papa que, não obstante o ofício que assumia, ele continuava a ser um mero mortal

Um desses ritos (muito famoso) consistia em queimar uma mecha de estopa diante do Pontífice, enquanto o mestre de cerimônias lhe dizia: Sancte Pater, sic transit gloria mundi!“Santo Padre, assim passa a glória do mundo!” 

O gesto se dava durante a antiga Missa de coroação papal. Paulo VI foi o último a celebrá-la. O bispo de Roma era coroado como um rei, de fato, e conduzido com toda pompa pela Basílica de São Pedro, mas rituais como este eram um verdadeiro antídoto à vaidade e lembravam a todos: o ofício papal é muito nobre e grandioso; mas o Papa não é Deus, nem está acima dele.

Monumento em torno da Igreja de São Pedro “in Gallicantu”, em Jerusalém, recordando a negação do Apóstolo.

Outro símbolo comovente nesse sentido acontecia na Basílica de São João de Latrão, na Missa de posse da “cátedra romana”. (Leão XIV rezará esta Missa no próximo domingo, dia 25 de maio.)

A cerimônia envolvia um galo de bronze, empoleirado numa coluna, ao lado das portas da igreja. De acordo com alguns historiadores, o animal era apontado ao Papa em um dado momento do rito, lembrando-lhe aquele galo do Evangelho e exortando-o a “compadecer-se das falhas de seus súditos, assim como Cristo teve compaixão e perdoou a tríplice negação de Pedro”. 

Este rito durou até o século XVIII e não devemos esperar nada parecido no próximo domingo. Mas a realidade a que ele faz referência continua válida, e o Papa recém-eleito já aludiu a ela em pelo menos duas ocasiões. 

Primeiro, na audiência aos cardeais dois dias após sua eleição como Pontífice: “O Papa, começando por São Pedro até mim, seu indigno sucessor, é um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso”. E, depois, na homilia da Missa para o início do ministério petrino:

Se a pedra é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas; pelo contrário, é pedido a ele que sirva a fé dos irmãos, caminhando com eles.

Não nos esqueçamos, portanto: o Papa é sucessor de Pedro, é vigário de Cristo, é Pontífice dos pontífices, sim; mas, em última instância, é também um homem, como nós. Quando nossas antipatias pessoais (ou entusiasmos emocionais!) nos agitarem para lá e para cá, arriscando minar a nossa fé… lembremos do galo! 

Pois o galo desperta aqueles que dormem — assim como despertou o primeiro Papa. E alerta-nos para a fragilidade lamentável da natureza humana: sempre pronta para o pecado e, por isso mesmo, sempre necessitada da misericórdia de Deus.

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OS
Olmiria Sturaro
31 Mai 2025

 muito bom explica muito  bem

Deu pra entender  

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TR
Thiago Rover
26 Mai 2025

Mais sabedoria em minha fé e no meu catolicismo.

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RC
Regina Costa
24 Mai 2025

Que Deus nos conceda a graça de uma alma atenta

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