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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc
17, 7-10)

Naquele tempo, o Senhor disse: "Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: 'Vem depressa para a mesa.' Não dirá antes: 'Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber.' Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: 'Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer'".

No Evangelho desta 3.ª-feira, Nosso Senhor nos narra a parábola do escravo inútil (δοῦλος ἀχρεῖος). A expressão pode soar estranha, num primeiro momento; mas são estes os termos de que se servem os originais gregos. A nossa tradução litúrgica, porém, refere-se inadequadamente a um "empregado", o que dificulta, em parte, o entendimento desta pequenina história. Um empregado, com efeito, é um assalariado, com direitos e garantias legais. Como então poderia Jesus nos falar aqui de alguém que, mesmo após um estafante dia de trabalho, sequer tem a chance de alimentar-se ao final do expediente? Na pureza, contudo, e na sabedoria de suas expressões, o Evangelho de hoje fala, na verdade, de um escravo, coisa e propriedade de seu senhor. A chave desta leitura, portanto, é a nossa pertença a Deus: somos feitos por Ele e para Ele. Ora, ao contrário do que se poderia pensar, a escravidão amorosa dos filhos de Deus não é uma submissão cega e aborrecida; trata-se antes de servir a Deus para reinar com Ele: servire Deo regnare est.

Aqueles que se lhe submetem, o Senhor os eleva à condição de filhos, fá-los livres das amarras do pecados, dá-lhes o verdadeiro desprendimento e liberdade de espírito a que todo homem, no fundo do coração, aspira e almeja. Como ao filho pródigo, que retorna humilhado à casa e pede ao pai que o aceite de volta, ainda que como reles servo, Deus nos abre Seus braços paternais e, prostrados diante dele como escravos indignos e sem valor, Ele nos revela os tesouros de sua misericórdia ao tratar-nos sempre como filhos muito amados. O homem dos nossos tempos, entretanto, rejeita sua total dependência de Deus e quer fazer-se dono de si mesmo. E neste afã por querer substituir-se a Deus, por desejar uma liberdade sem barreiras, vendemo-nos a toda sorte de mesquinharias; tornamo-nos, assim, escravos do pecado, do dinheiro, do prazer, das paixões que, explosivas e desgovernadas, irrompem em nosso peito. E é com estes "senhores" que havemos de perecer: se é ao diabo que servimos, é para o Inferno que iremos; se é às criaturas que adoramos, será a podridão o remate de nossas vidas. O Evangelho de hoje, por outro lado, nos ensina que Deus não precisa de nós, mas deseja nos dar a honra de poder servi-lo neste mundo, pois é nEle que está a nossa alegria, é no serviço simples e generoso, de quem se sabe um nada perto da majestade de um Senhor tão bom, que consiste a maior felicidade que se pode ter nesta terra. Que Ele faça de nós servos solícitos, embora de todo inúteis, e nos conceda a graça de reinar com Ele na glória dos Céus.

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