Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 2, 1-12)
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: "Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".
Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: "Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo".
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a Belém, dizendo: "Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo".
Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
*
Durante homilia para a Solenidade da Epifania de 2010, o Papa Bento XVI fez uma importante reflexão a partir dos presentes que os Magos ofereceram ao Menino Jesus:
"Eles levaram ouro, incenso e mirra. Sem dúvida, não são dons que correspondem às necessidades primárias ou quotidianas. Naquele momento, a Sagrada Família certamente teria tido mais necessidade de algo diferente do incenso e da mirra, e nem sequer o ouro podia ser-lhe imediatamente útil. Mas estes dons têm um profundo significado: são um ato de justiça. Com efeito, segundo a mentalidade em vigor nessa época no Oriente, representam o reconhecimento de uma pessoa como Deus e Rei: ou seja, são um ato de submissão. Querem dizer que a partir daquele momento os doadores pertencem ao soberano e reconhecem a sua autoridade."
O "ato de justiça" a que Sua Santidade alude nesta meditação é o que a moral católica tradicionalmente chama de virtude da religião. Não tem a ver tanto com uma questão de utilidade, mas com uma obrigação moral de todo ser humano. Ao refletir sobre essa virtude (cf.S. Th., II-II, q. 81), o Doutor Angélico considera a sua preeminência sobre as demais virtudes, já que ela ordena o homem à glória de Deus, "princípio e fundamento" de sua existência.
A ilustração de uma sala de aula pode ajudar a entender em que consiste essa virtude. Quando um professor se depara com um bom aluno, a sua reação de justiça é admirá-lo – uma reverência interna que, a partir do momento em que se manifesta exteriormente, é transformada em honra. A consequência disso é que o bom estudante se torna glorioso aos olhos dos demais. Se o tratamento é justo, tudo está em seu devido lugar; se não, a estima do professor pode alimentar no aluno o pecado da vanglória.
Trazendo o exemplo para a relação dos homens com Deus, é importante lembrar que os louvores das criaturas nada acrescentam à glória do Criador. Há em Deus, eterno, infinito e sumamente perfeito, uma glória intrínseca ao Seu próprio ser. A honra que Lhe prestam os homens tem como fim torná-Lo cada vez mais conhecido e amado, a fim de que, "de glória em glória", por assim dizer, as criaturas participem da glória de seu Criador. Assim, providencialmente, quando os homens glorificam a Deus por meio da virtude da religião, esse ato redunda em seu próprio benefício.
Mas quando pode o homem cantar glórias ao seu Criador? A resposta é: sempre e em toda ocasião. "Quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa – exorta o Apóstolo –, fazei tudo para a glória de Deus (omnia in gloria Dei facite)" (1 Cor 10, 31). Por esse motivo, a virtude da religião como que se sobressai sobre as outras, orientando a prática de todas as virtudes para o seu devido fim. Quem obedece aos seus pais, é paciente com os seus filhos, dá esmolas, jejua ou resiste virilmente às tentações da carne, se não faz tudo isso "ad maiorem Dei gloriam – para a maior glória de Deus", ainda não está na senda da verdadeira santidade.
"A consequência a que isto dá origem é imediata", continua o Papa Bento XVI:
"Os Magos já não podem continuar pelo seu caminho, já não podem regressar para junto de Herodes, já não podem ser aliados com aquele soberano poderoso e cruel. Foram conduzidos para sempre pela senda do Menino, aquela que lhes fará ignorar os grandes e os poderosos deste mundo e que os conduzirá para Aquele que nos espera no meio dos pobres, o único caminho do amor que pode transformar o mundo."
Depois de adorarem o Rei, os Magos "retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho" (v. 12). Isso significa conversão. Quem passa a reconhecer a glória de Deus, não pode voltar ao mesmo caminho de antes. Quem começa a orientar a sua vida pela estrela de Belém, muda a sua vida de uma vez por todas e para sempre.
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