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Texto do episódio
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Neste Natal, quero convidar você a fazer uma viagem no tempo, a voltar 800 anos atrás, quando São Francisco teve a inspiração divina de fazer o primeiro presépio.

Era dia 25 de dezembro de 1223, há exatamente 800 anos. São Francisco acabara de voltar da Terra Santa, onde pôde conhecer os lugares em que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Ali viu a humildade de Deus em vir abraçar a nossa pobreza. Por isso, quis transmitir a experiência aos seus amigos.

Foi numa pequena cidade do Lácio chamada Greccio, um burgo medieval pendurado em cima da montanha. Na região havia seis cavernas, e São Francisco, amigo do senhor daquele feudo, quis celebrar ali um Natal diferente. Pediu que em uma das grutas se realizasse a cena do presépio, da primeira manjedoura. Mandou trazer muita palha e, segundo a Legenda maior, de São Boaventura, um boi e um jumento. Com isso, fez-se o pequeno presépio, o cocho em que Jesus nasceria.

O primeiro presépio vivo não tinha imagens de Nossa Senhora nem de São José. Nem sequer o Menino Jesus. Só palha, boi e jumento. Diante daquela pobreza e miséria, São Francisco entrou em êxtase, arrebatado de amor. Por fim se celebrou a Missa da noite, à qual Francisco serviu como diácono. Lido o Evangelho, o santo começou a pregar, e tão arrebatado de amor pelo mistério da Encarnação estava ele, que aos presentes pareceu ver na manjedoura uma criança.

Como numa visão, tiveram a experiência de ver São Francisco pegar o Menino no colo e erguê-lo para que o povo o contemplasse. Foi o primeiro presépio.

Qual é a mensagem dele? Por que São Francisco, de todos os personagens do presépio, quis justamente o boi e o jumento, as figuras a que se dá menos atenção? A explicação está nos primeiros versículos de Isaías.

O profeta, 700 anos antes de Cristo, fala do povo de Deus e de nós, a Igreja: “Escutai, ó céus, e dai ouvidos, terra”. Isaías começa convocando testemunhas, o céu e a terra, “porque o Senhor falou”. E o que disse Deus? Um lamento: “Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se rebelaram contra mim. O boi conhece o seu dono; o burro, o cocho do seu Senhor; mas Israel não conhece. O meu povo não entende”.

Meus queridos, queremos celebrar o Natal como 800 anos atrás. Queremos, junto com São Francisco, ajoelhar-nos diante da palha humilde e da presença do boi e do jumento. Os animais irracionais conhecem o seu dono. Sim, os animais têm dono, são propriedade de alguém. Nós também temos um Senhor, a razão de ser da nossa vida, o porquê de termos vindo ao mundo. Ele nasceu há 2023 anos. Jesus, o sentido de nossas vidas, veio a este mundo.

Por que você nasceu? Você nasceu para amar e servir a Jesus. Mas que miséria e que desgraça que a profecia de Isaías seja, ainda hoje, verdadeira! Os animais irracionais conhecem o seu dono; mas os filhos criados por Deus, não o conhecem nem o entendem… Não entendem que vieram ao mundo para amar e servir Jesus.

Meus queridos, neste Natal, o Senhor nos chama à conversão. Ao contemplar o presépio que você montou em casa ou na paróquia; ao olhar para o boi e para o aquele jumento, pergunte-se? “Será que não estamos nos tornando irracionais? Será que nós, povo de Deus e Igreja, não precisamos de uma profunda conversão para enfim compreender que somos nós que temos de mudar, e não Deus?”

Há tanta gente querendo adaptar o Evangelho e o cristianismo aos gostos modernos, invertendo os papéis, como se fosse Deus quem precisasse nos servir, como se fosse a Palavra de Deus que precisasse adaptar-se aos caprichos, às agendas, às ideologias de hoje… E, no entanto, Deus vem para nos chamar à conversão. 

Deus vem para mudar nossa mentalidade. Somos nós que temos de mudar; é o mundo moderno que tem de mudar, não a Palavra de Deus. Ele se encarna para nos chamar à conversão. “O boi reconhece o seu dono, o jumento sabe onde é o cocho do seu Senhor, mas os meus filhos não querem entender” (Is 1, 3). 

Deus vem neste Natal, como vem sempre; mas não vem armado, não vem para condenar, não vem para julgar. Isso, Ele o fará, sim, mas no Fim dos Tempos; agora, Ele vem como uma criança, inerme, desarmada, para que, sem medo, aproximemo-nos dele e possamos mudar. Sim, quem tem de mudar somos nós, que nos deixamos levar pela irracionalidade das ideologias, dos nossos caprichos e de nossas paixões desordenadas. Só assim poderemos reconhecer n’Ele, Nosso Senhor, o sentido desta vida. Foi para amá-lo e servi-lo que viemos a este mundo.

Terminada a primeira celebração do presépio, os fiéis repartiram a palha abundante que São Francisco mandara trazer e a levaram para casa. A palha foi fonte de bênçãos, de curas, de milagres e prodígios, uma verdadeira relíquia do Menino Jesus. 

Assim também, o Menino Jesus quer fazer hoje um milagre na palha do seu coração, nas desordens da sua casa interior. Ele quer mudar você. Ele é a Palavra de Deus que muda e opera todas as coisas.

Neste Natal, receba Nossa Senhora e São José, que batem à porta. Que você saiba responder: “Ó minha Mãe! Entrai, Senhora, no meu coração”. A casa está um pouco desarrumada, mas a Virgem Santíssima é capaz de a pôr em ordem e de achar um lugar para Jesus, como o fez em Belém, mais de dois mil anos atrás. Que a Virgem Santíssima venha, de cômodo em cômodo, colocar em ordem a casa do meu coração, para que Jesus tenha onde nascer.

No Natal, Deus vem a nós em forma humana para que nós voltemos a Ele, divinizados. A Palavra de Deus não tem de adaptar-se aos nossos gostos, às nossas agendas, às nossas ideologias. Somos nós que temos de reconhecer em Jesus o nosso Senhor, a razão da nossa vida, e mudar. Sim, o boi reconhece o seu dono, o jumento sabe onde está o cocho do seu Senhor. E nós? Iremos reconhecer o Deus que vem? Se o reconhecermos, o Natal será feliz.

Peçamos, pois, a Nossa Senhora: “Ó minha Mãe, vinde à minha alma, à minha família, à minha casa e dai-nos a graça de um santo Natal”.

O Natal só será feliz, se for santo. O Natal só será feliz, se nós reconhecermos em Jesus o sentido de nossa vida. Para você e sua família, um feliz e santo Natal!

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