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O transplante de coração necessário para rezar

“Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.

Texto do episódio
1565

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11, 1-4)

Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.

No Evangelho de hoje, vemos uma especificidade do evangelista Lucas: ele, com muita frequência, apresenta Jesus em oração, interrompendo o ritmo da sua narrativa para dizer que Cristo estava rezando. Quando isso acontecia, as pessoas ficavam fascinadas, assim como os discípulos, que disseram a Ele: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11, 1-2). 

A humanidade não entendia que, para falar com Deus, não era necessário aprender uma língua diferente como sânscrito ou árabe, e sim ter um coração que aprenda a rezar. Ora, não há oração sem um “transplante de coração”, porque, no fundo, só Jesus pode rezar por meio de nós. O Papa Paulo VI, na Constituição Apostólica Laudis Canticum — a qual instituiu a reforma da Liturgia das Horas —, afirma que Cristo, ao se encarnar, trouxe para este mundo uma pequena parte do hino que é entoado a Deus nas moradas celestes. 

Deus veio a este mundo para que o homem tivesse um coração com o qual pudesse orar, porque somente um coração como o de Jesus é capaz de rezar. Por isso, São Paulo nos diz que nós não recebemos um espírito de escravos, mas recebemos um espírito de adoção filial (cf. Rm 8, 15). Ou seja, o Espírito Santo derramado em nossas almas gera em nós o coração de Nosso Senhor, que pode dizer exclusivamente: “Abba, Pai”. Nesse contexto, percebemos como o pedido dos discípulos dirigido a Jesus é muito mais profundo do que imaginávamos. Pedir para Deus nos ensinar a orar é o mesmo que dizer para Ele realizar em nós a transformação necessária para que possamos rezar, porque o nosso coração, miseravelmente, é como o de uma Marta agitada, perdido entre as panelas da cozinha. 

Quantas vezes vamos rezar e a nossa imaginação é levada para longe através de tantas preocupações e inquietações? Deus é a razão de ser da nossa vida, mas nós não nos damos conta dessa e realidade, e, por isso, nossa alma é jogada de um lado para o outro como um barquinho num mar revolto, pensando nos diversos problemas da vida, como a conta bancária, o desemprego, a saúde, a família, o trabalho. Tantas coisas nos parecem muito mais importantes que a oração e acabamos não dedicando tempo para ela. No entanto, Jesus é o Único necessário para nossas vidas, e somente o coração d’Ele é capaz de dirigir ao Céu o clamor verdadeiro: “Abba, Pai”.

Por isso, peçamos ao Espírito Santo que renove o nosso coração, para que este seja capaz de amar verdadeiramente Aquele a quem devemos infinitamente a nossa vida.

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