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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 24,42-51)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada.

Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá. Qual é o empregado fiel e prudente, que o senhor colocou como responsável pelos demais empregados, para lhes dar alimento na hora certa? Feliz o empregado, cujo senhor o encontrar agindo assim, quando voltar.

Em verdade vos digo, ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. Mas, se o empregado mau pensar: ‘Meu senhor está demorando’, e começar a bater nos companheiros, a comer e a beber com os bêbados; então o senhor desse empregado virá no dia em que ele não espera, e na hora que ele não sabe. Ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.

O Evangelho de hoje nos fala de servos ou funcionários a quem o patrão ou dono da casa encarrega de distribuir aos empregados a ração diária, ou seja, a quantidade de alimentos devida diariamente.

É interessante compreender que, enquanto esperamos a vinda do Senhor, há um tempo que chamamos de “tempo da Igreja”, no qual só podemos perseverar e crescer no amor de Deus se tivermos um alimento diário, o “pão de cada dia”, a que Jesus se refere no Pai-nosso: o “pão cotidiano”.

Acontece que este pão é uma ração diária. A palavra ‘ratio’ quer dizer ‘medida’. Uma ração é o alimento de um dia. O que está por trás é a ideia do maná. Quando o povo de Deus caminhava no deserto, Deus o alimentou dando-lhe um pão vindo do céu, o maná, e proibiu o povo de Israel de recolher uma medida, ou seja, uma ração (ratio) maior do que a necessária para um dia.

Nós precisamos do pão de cada dia, e é este pão de cada dia o que nos fará atravessar este deserto até chegarmos à Terra prometida, o Céu. Precisamos, pois, estar de coração atento, voltado para o Senhor que vem.

Ao mesmo tempo, a santa Igreja de Deus nos dá o alimento diário, a ração diária, o pão de cada dia. Que pão é esse? É o “pão da Palavra” e o pão da Eucaristia. Em resumo, é o “pão da graça” de Deus, que deve agir em nossos corações.

Pois bem, aquilo para que Jesus quer chamar a atenção na parábola é que existem administradores, isto é, pessoas encarregadas de realizar esse papel na Igreja. É por isso que Jesus escolheu doze Apóstolos e os designou para isso.

Precisamos compreender que na Igreja de Deus existem homens escolhidos por Nosso Senhor para uma vocação específica: alimentar os filhos e filhas de Deus. Eis o sacerdócio católico, uma missão a serviço dos outros, para dar às pessoas o alimento diário, a porção de cada dia.

É preciso que você se alimente diariamente, tanto pela meditação da Palavra de Deus, na sua oração diária de intimidade, quanto — se possível, da Eucaristia —, na sua comunhão diária. E assim vamos passando por este mundo com o nosso alforje, com a nossa porção de comida para conseguir viver a travessia. Mas não fiquemos desleixados.

Nosso Senhor não quer que tenhamos um grande celeiro, no qual esteja contido todo o alimento necessário, a ponto de nós “não precisarmos mais de Deus”. Não, Ele nos dá o pão de cada dia; é a porção diária, o alimento de que precisamos. Sejamos fiéis na vida de oração. Enquanto isso, rezemos pelos bons administradores da casa de Deus.

Estamos já encerrando o mês de agosto, mês das vocações; mas não é porque está terminando o mês de agosto que iremos deixar de rezar pelas vocações. Nosso Senhor assim o quer. Sim, enquanto Ele não vem, precisamos de operários para a sua messe.

Peçamos, pois, ao Senhor que nos dê bons e fiéis administradores de sua casa, que nos dêem a cada dia o pão de que necessitamos.

COMENTÁRIO

O ladrão inesperado (cf. Lc 12,39s).Se o pai de família soubesse a que hora (gr. ποίᾳ φυλακῇ = em que guarda, i.e., em qual das quatro vigílias da noite [1]) havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria minar a sua casa. Alguns traduzem: “Se tivesse sabido… teria vigiado… nem teria deixado” [2]; parece mais adequada, no entanto, a versão Vg, haja vista que os verbos ‘ᾔδει’ e ‘ἔρχεται’ designam antes um caso hipotético do que um fato pretérito. — Minar: alusão às casas orientais que, fabricadas muitas vezes com barro, podiam ser facilmente terebradas com um punhal ou outro instrumento.

A aplicação da imagem à espera pela vinda de Cristo faz-se sem qualquer dificuldade. Cristo (melhor, o dia do Senhor, i.e., o dia do juízo) virá ocultamente e sem aviso, trazendo para os pecadores a justa retribuição. Cumpre pois vigiar, para que tal dia não nos encontre despreparados (cf. 1Ts 5,2; 2Pd 3,8ss; Ap 16,15). — Muitos Padres e não poucos autores recentes interpretam a parábola em referência à morte de cada homem, sobretudo porque a passagem paralela em Lc se encontra num contexto não escatológico. Embora a última vinda de Cristo demore muito tempo, os verdadeiros discípulos de Jesus devem estar preparados, como se ele os fosse assaltar a qualquer instante (cf., e.g., João Crisóstomo, Hom. 77 in Matth. 2,3: MG 58,705; Gregório Magno, Hom. 13.6: ML 76,1127).

O servo fiel e o infiel (cf. Lc 12,41-48). — O texto é o mesmo no I e III Evangelho (de Lc são próprios os vv. 41.47s), mas são diversas as circunstâncias de tempo e lugar. Se se trata da mesma instrução, é preferível seguir a ordem de Lc, mais fiel à cronologia e à indicação dos lugares.

a) Imagem. — As famílias ricas contavam com um grande número de servos, que recebiam em remuneração uma quantidade determinada de alimento (σιτομέτριον = porção racionada de grãos, cf. Lc 12,42). Estavam sob os cuidados de um οἰκονόμος, ou administrador, ele mesmo um servo, o mais grato e próximo ao senhor, ao qual competia vigiar os demais e prover às necessidades de cada um. Se, na ausência do dono, o despenseiro cumprisse fielmente o seu dever, era constituído sobre a família, i.e., tornava-se responsável pelos bens de toda a casa, o que era a maior recompensa que podia receber um servo; se, no entanto, maltratasse os companheiros e se aproveitasse da ausência do senhor para se entregar ao ócio e a divertimentos, o patrão poderia voltar de repente, cortá-lo em dois (i.e., supliciá-lo, segundo o costume dos déspotas orientais) e pôr a sua parte com (i.e., dar-lhe a mesma sorte que têm) os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes [3]. Estas últimas palavras se referem mais à doutrina espiritual do que à imagem, evidentemente. — Família (gr. οἰκετεία) = servos domésticos, famulício etc. (cf. Mt 24,49: σύνδουλοι = conservos).

b) Doutrina espiritual. — A parábola fala especialmente dos Apóstolos e demais ministros do Evangelho (cf. Lc 12,41; 1Cor 4,1), mas não exclui outras classes de fiéis (cf. 1Pd 1,10). — Todo o que for constituído sobre a família de Cristo e cumprir fiel e prudentemente [4] o seu dever há de estar sempre alerta, como se a qualquer hora o Senhor fosse voltar para pedir contas. O que se encontrar procedendo assim no advento do Filho de homem (quer no juízo particular, quer no universal) será constituído administrador de tudo quanto possui, i.e., no tempo da parusia Deus lhe retribuirá generosamente ou o cumulará, após a morte, de honra e glória na felicidade eterna.

Àquele, porém, que tiver procurado somente os próprios interesses nem for achado digno da função recebida, dividi-lo-á (gr. διχοτομήσει = cindirá, cortará em partes), i.e., o separará “do consórcio dos santos” (Jerônimo) ou o punirá severamente, e porá a sua parte (sorte, herança etc.) entre os hipócritas e pérfidos, i.e., entre os infiéis (L.), o que equivale a dizer: “Dar-lhe-á o mesmo fim dos ímpios”, sobre os quais paira a condenação à geena, onde haverá choro etc.

N.B. — 1) Cumpre entender esta última parte em referência ao juízo de cada homem em particular, como se depreende do texto de Lc. — 2) Lc 12,47s ilustra ainda mais a doutrina da parábola: a punição do administrador infiel será maior ou menor em função do maior ou menor conhecimento que tiver tido da vontade do senhor. (Há quem queira ver aqui outra parábola, mas não há razões textuais nem doutrinais para sustentá-lo.)

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