Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15, 9-17)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. E eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

Com muita alegria, celebramos hoje a Festa de São Matias, o Apóstolo que, embora não tenha sido escolhido diretamente por Jesus, foi eleito por Deus para ser aquele que substituiria Judas. 

No Evangelho de hoje, Jesus fala aos Doze Apóstolos que estavam no Cenáculo com Ele, naquele momento de intimidade em que não estava mais ninguém, algo que São Matias não presenciou, mas depois foi chamado a viver: “Não fostes vós que me escolhestes, mas Eu que vos escolhi. Já não vos chamo mais servos, chamo-vos amigos. Permanecei no meu amor” ( Jo 15, 15-16). 

Eis aí algumas características da amizade verdadeira. Santo Tomás de Aquino, ao analisá-las, disse: “Toda amizade é uma eleição”, ou seja, ela deve ser escolhida racionalmente, não passionalmente, sendo necessário ver se a pessoa tem virtudes para ser nosso amigo. É a primeira coisa que os nossos pais fazem quando somos pequeninos: selecionar as pessoas que se aproximam de nós, percebendo que existem aqueles que nos levam para o mau caminho e procuram nos afastar de Deus. Portanto, existe uma eleição e, uma vez que escolhemos alguém como amigo, começamos a revelar o nosso coração a ele. Então, gradualmente, acontece a “concórdia”, onde nossos corações estão no mesmo lugar, amamos as mesmas coisas e, de alguma forma, permanecemos um no outro, mesmo que haja alguma distância. 

Os amigos mais profundos que podemos ter na vida são aqueles que amam as mesmas coisas que nós amamos, e é exatamente por isso que, muitas vezes, encontramos pessoas desconhecidas que se comportam como nossos verdadeiros amigos. Assim, acontece a comunhão, um fenômeno inicialmente humano, mas que Jesus eleva a um nível sobrenatural. Aquilo que Jesus é com seus discípulos na Última Ceia, na intimidade da vocação especialíssima do Apóstolo, Ele quer ser também — com todas as adaptações — para os demais cristãos. 

Como católicos, precisamos estar com Jesus na Última Ceia, reclinando nossa cabeça em seu peito para que haja cada vez mais concórdia e amemos o que Ele ama, escolhendo-o como nosso verdadeiro amigo. Por isso, vamos ao sacrário e digamos: “Cristo, eu fiz tantas coisas erradas na vida, mas hoje vos escolho como meu mais profundo, perfeito e grande amigo, porque sei que Vós me escolhestes também. Ainda que eu não seja merecedor de sua bondade, desejo que haja concórdia entre mim e Vós, meu Senhor”.

Portanto, assim como São Matias, devemos colocar nossos corações no mesmo lugar que o coração de Jesus, de tal forma que Cristo permaneça em nós e nós permaneçamos nele, a fim de podermos dar frutos de vida eterna, porque nunca mais estaremos sozinhos.