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A santa que via seu anjo da guarda

Santa Rosa de Lima nos dá um exemplo luminoso de relacionamento íntimo com o mundo angélico, sem “pieguices” infantis. Como tantos outros santos, ela tinha a presença dos anjos como uma realidade muito clara.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13, 44-46)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “O Reino do Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo.

O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”.

I. Reflexão

Com alegria celebramos hoje a festa de Santa Isabel Flores y Oliva, mais conhecida como Rosa de Lima, a primeira santa canonizada da América Latina. É de fato uma grande alegria saber que o nosso continente, desde o início, foi visitado pela graça de Deus na pessoa de seus santos. Como disse o Papa Bento XVI, de certa forma, Santa Rosa de Lima personifica a Igreja na América Latina, ou seja, uma Igreja que vive, sim, na pobreza material, mas tem grande devoção e proximidade espiritual a Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem foi Santa Rosa de Lima? Rosa de Lima nasceu no final do século XVI, em 1586. O Peru, naquela época, era sinônimo de riqueza devido às suas jazidas de prata, o que tornava o país um foco de atração para muitos exploradores espanhóis à procura de riqueza. A família de Santa Rosa foi uma das muitas que saíram da Espanha com a esperança de fazer dinheiro na mineração. A empresa deles, no entanto, veio à falência, obrigando a menina a trabalhar para ajudar nas despesas. Ela vendia pequenos produtos artesanais e flores. Foi apelidada ainda pequena de Rosa, não só por sua beleza, mas em alusão ao seu modesto ofício.

Os pais quiseram casá-la, mas ela fizera voto de celibato e, como quisesse consagrar-se inteiramente a Jesus, queixava-se de ser chamada com aquele apelido, que lhe parecia uma vaidade e excessiva apreciação de sua beleza física. Um dia, porém, Nossa Senhora apareceu-lhe e disse que era do seu agrado que ela fosse chamada de Rosa. Obediente, Isabel começou a chamar-se Rosa de Santa Maria dali em diante. Como Catarina de Sena, Rosa fez-se terciária da Ordem dos Pregadores, isto é, uma dominicana secular, que vivia a virgindade no meio do mundo. Ele habitava nos fundos da própria casa, sempre em íntimo colóquio com Jesus e Nossa Senhora. Era comum, aliás, que os dois lhe aparecessem, e conta-se que numa destas manifestações Cristo e sua Mãe santíssima impuseram-lhe sobre a cabeça uma coroa de rosas.

Há ainda outro detalhe da vida de Santa Rosa que tem muito a nos ensinar espiritualmente. É o fato de ela ter-se mantido sempre na presença de seu anjo da guarda, um companheiro e amigo constante. O relacionamento entre eles é realmente comovedor. Muitos, infelizmente, desconhecem o mundo angélico, achando que é conversa para criancinhas, e por isso não se dão conta de que a devoção aos santos anjos é um elemento fundamental da espiritualidade de todo cristão maduro. De fato, enquanto vivemos neste mundo, estamos no meio de uma batalha e, como diz São Paulo, não é contra a carne e o sangue que lutamos, mas contra os espíritos malignos espalhados pelos ares. 

Ora, se estamos em tal situação, assediados por legiões de demônios que não fazem outra coisa a não ser tentar nos levar para o inferno, precisamos do auxílio de nossos anjos da guarda. É necessário tomar consciência disso. Santa Rosa de Lima é para nós um exemplo claríssimo de uma santa tão unida a Jesus e a Maria, que o seu anjo da guarda se lhe tornava visível constantemente. Deus não nos deu a graça de ver o nosso anjo, mas nos deu a de tê-lo sempre ao nosso lado. Agora pensemos: temos conosco uma pessoa santíssima, ao nosso serviço dia e noite, e no entanto a ignoramos! Isso raia quase à loucura! Por que não aproveitamos essa presença? E não só a do anjo da guarda, mas a de todas as miríades de santos anjos que Deus põe à nossa disposição, para nos proteger e iluminar? Santa Rosa de Lima nos dá um exemplo luminoso de relacionamento íntimo com o mundo angélico, sem “pieguices” infantis. Como tantos outros santos, ela tinha a presença dos anjos como uma realidade muito clara. 

Olhemos enfim para os nossos santos anjos e nos perguntemos: como podemos amar a Deus? Ora, nós que vivemos no mundo, e não na clausura, só temos um jeito de amar a Deus: tendo devoção e vida de oração, fazendo boas confissões e piedosas comunhões, amando o próximo para nele servir e amar a Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas não é justamente essa a forma que Deus escolheu para os nossos santos anjos da guarda amarem a Ele? Por que o anjo da guarda, com efeito, cuida de nós? Porque ele ama a Deus. Ou seja: ele, que é por natureza tão superior a nós, nos serve o tempo todo pelo amor abrasadíssimo que tem a Deus. Se os nossos anjos, sendo como são tão sublimes, servem aos que somos tão pequenos e miseráveis, sempre e acima de tudo por amor a Deus, por que não iríamos nós amar e servir ao próximo, sobretudo aos mais necessitados? Foi o que fez Santa Rosa de Lima. Com a ajuda do nosso santo anjo da guarda, amemos profundamente a Deus, tenhamos uma vida espiritual profunda e estejamos dispostos a servir a Deus servindo até aos seus menores servidores!

II. Comentário exegético

Circunstâncias. — Segundo Mt., Cristo, depois de proferir parábola do fermento, despedidas as turbas, foi para casa (v. 36). Ali, explica aos discípulos a parábola do joio (v. 37-43). Logo em seguida, sem nenhuma transição, acrescenta a parábola do tesouro (v. 44), à qual se seguem as parábolas da pérola (v. 45s) e da rede (v. 47-50); por último, dirigindo-se aos discípulos, o Mestre encerra todo o discurso. Portanto, as três últimas parábolas foram ensinadas somente aos discípulos.

O tesouro (v. 44).O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, i.e. a uma urna repleta de ouro, prata e outras pedras preciosas, que alguém outrora, em tempo de guerra ou por medo de furto, escondera num campo, como costumavam fazer os antigos [1]; o qual, quando um homem o acha (pret. ὃν εὑρών = o que o achou), esconde-o e, pelo gosto que sente de o achar (gr. ἀπὸ τῆς χαρᾶς αὐτοῦ = pela alegria dele, i.e. que ele mesmo tem), vai e vende tudo o que tem (porque, supõe-se, de outra forma não poderia conseguir o dinheiro necessário) e compra aquele campo. O tesouro é para esse homem mais precioso que tudo o que possui.

O direito romano adjudicava o tesouro a quem o achasse: “Tesouro é certa deposição antiga de dinheiro da qual não resta memória, de forma que já não tem dono. Assim, torna-se de quem o achar, por não ser [mais] de outrem” (Digest. XLI, tit. I, lei 31). — Não se sabe ao certo que direito entre os judeus estava em vigor, por serem dúbios alguns testemunhos; é provável, no entanto, que o tesouro pertencesse ao dono do campo, como parece supor a parábola. Seja como for, não está em questão aqui se agiria corretamente ou não quem assim adquirisse um tesouro; trata-se simplesmente de declarar a felicidade de quem possui um.

A pérola (v. 45s). — A pérola (ὁ μαργαρίτης) era estimada como a mais preciosa de todas as pedras: “Têm as pérolas o principado e o cume das coisas de valor” (Plínio, Hist. Nat. IX 34). — Como certo negociante, à procura de boas (gr. καλούς = belas) pérolas, encontrasse uma delas e de grande preço, vai, vende tudo o que tem para conseguir dinheiro e a compra. Plínio expõe o valor das pedras preciosas: “Todo o valor das coisas raras está no brilho, no tamanho, na esfericidade, na leveza, no peso…” (ibid. 35).

Doutrina espiritual das duas parábolas. — Com esta dupla semelhança, Cristo mostra qual é o preço e a excelência do reino dos céus: é necessário antepor as riquezas do reino a todas as outras coisas. Logo, assim como aquele homem vendeu tudo alegremente, a fim de comprar o tesouro descoberto; assim como o negociante, tendo achado uma única pérola preciosa, vendeu tudo o que possuía, a fim de adquiri-la; assim também, para lucrar os bens do reino de Deus, é necessário entregar livre e alegremente quaisquer outros bens que se possuam, i.e. todas as comodidades temporais. “Uma só coisa é necessária, e por esta única se devem deixar todas” as outras (Vosté, 264).

A maioria dos intérpretes pensa que ambas as parábolas ensinam a mesma doutrina. Alguns poucos, seguindo a Jansênio, identificam uma leve diferença entre elas, na medida em que parecem revelar um duplo aspecto do reino dos céus, o qual ora se nos oferece sem que o estivéssemos buscando (o tesouro), ora se deixa buscar com grande esforço e empenho nosso (a pérola).

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