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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 17, 1-11a)

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique a ti, e, porque lhe deste poder sobre todo homem, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe confiaste.

Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e àquele que tu enviaste, Jesus Cristo. Eu te glorifiquei na terra e levei a termo a obra que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-me junto de ti, com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse.

Manifestei o teu nome aos homens que tu me deste do meio do mundo. Eram teus, e tu os confiaste a mim, e eles guardaram a tua palavra. Agora eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, pois dei-lhes as palavras que tu me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente que eu saí de ti e acreditaram que tu me enviaste.

Eu te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. E eu sou glorificado neles. Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti”.

O Evangelho desta terça-feira, extraído do capítulo 17 de S. João, dá início à oração sacerdotal de Nosso Senhor, a qual se divide em três grandes partes: na 1.ª (v. 1-5), Cristo reza por si mesmo; na 2.ª (v. 6-19), reza pelos Apóstolos; na 3.ª, por fim (v. 20-26), reza por toda a Igreja. A leitura de hoje nos propõe os v. 1-11, correspondentes à 1.ª parte completa e à metade da 2.ª. Vejamos o que contêm os v. desta belíssima oração de Cristo, nosso Sumo pontífice.

a) Jesus reza por si mesmo (v. 1-5). — Prestes a voltar para o Pai, o Filho pede-lhe que o glorifique, por já ter cumprido na terra a obra que lhe fora confiada, a saber: transmitir aos homens o conhecimento do Pai e do Filho, no qual consiste a vida eterna. Era justo e conveniente, por conseguinte, que a humanidade de Cristo se tornasse plenamente partícipe da glória divina, e não só como prêmio de seus trabalhos, mas também porque a glória do Filho redunda na glória do Pai. Nosso Senhor — lembra S. Agostinho — poderia muito bem ter feito em silêncio esta oração; mas quis apresentar-se ao Pai como quem tem necessidade de rezar, a fim de ensinar-nos como nós mesmos havemos de orar.

V. 1. “Glorifica o teu Filho”, isto é, pela paixão, morte, ressurreição e ascensão, pelo envio do Espírito Santo e, sobretudo, pela sessão celeste à direita do Pai (cf. v. 5); “para que o teu Filho te glorifique a ti”, isto é, para que se cumpra a obra da Redenção e para que o nome de Deus seja glorificado em todo o mundo ou, em palavras de S. Agostinho: “Ressuscita-me, Pai, que te deste a conhecer à terra inteira por meio de mim”. — V. 2. “E, porque lhe deste poder sobre todo homem, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe confiaste”, quer dizer, submetestes todos a mim, para que a todos eu dê a vida eterna.

V. 3. Em seguida, declara em que consiste a vida eterna: “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro”, por oposição aos falsos deuses, “e àquele que tu enviaste, Jesus Cristo”. A vida eterna pode ser entendida aqui em dois sentidos: (i) em estado de via, isto é, como posse da graça santificante, pela fé informada pela caridade; (ii) ou em estado de pátria, isto é, como a visão beatífica que os santos têm de Deus no céu. A vida eterna, com efeito, não é outra coisa senão a contemplação da divindade: nesta vida, enquanto caminhamos sob o véu da fé, temos já um certo conhecimento obscuro de Deus; na outra vida, poderemos vê-lo finalmente face a face, e este conhecimento claro nos encherá de eterna alegria, porque veremos a Deus e, vendo-o tal como Ele é em si mesmo, seremos de certa forma transformados pela glória no que é Ele por natureza. Note-se, contudo, que o conhecimento (γιγνώσκειν) de que fala Nosso Senhor não se reduz a um ato intelectual nu e estéril, senão que inclui e denota um verdadeiro afeto ou gosto pelo objeto conhecido (cf. Jo 8, 55; 10, 15; 16, 3 etc.).

V. 4-5. Esta glorificação de Cristo é, além disso, a recompensa devida pela obra da Redenção: “Eu te glorifiquei na terra”, porquanto “levei a termo a obra que me deste para fazer” (cf. Jo 4, 34; 19, 30), a qual, embora ainda não se tivesse cumprido plenamente quando Cristo ainda pronunciava estas palavras, se havia de cumprir dali a pouco, antes de o Pai glorificar o Filho. — “E agora, Pai, glorifica-me junto de ti, com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse”. De que glória fala Nosso Senhor? Alguns a entendem como a glória da humanidade, ou seja: “Glorifica esta minha humanidade com a glória digna do Filho de Deus, e fazei com que a luz e a glória que eu, enquanto Deus, tenho em comum contigo desde a eternidade se comunique e estenda também à minha carne”. Outros, porém, pensam tratar-se, não da natureza humana de Cristo, mas da pessoa, ou seja, do Verbo encarnado: “O que até agora só teve a glória da divindade enquanto Verbo, seja igualmente glorificado doravante como Verbo encarnado”, isto é, como Homem-Deus.

b) Jesus reza pelos Apóstolos (v. 6-19).  — Cristo pede ao Pai, em favor dos Apóstolos, duas coisas principais: “guarda-os” (v. 11)  e “santifica-os” (v. 17):

V. 6-8. Cristo prepara sua oração pelos Apóstolos, mostrando tudo o que fez por eles e o que eles mesmos farão pela glória de Deus. — “Manifestei o teu nome aos homens”, isto é, dei-lhes, por meio de minha pregação e exemplos, um conhecimento mais perfeito sobre ti; “que tu me deste do meio do mundo” na qualidade de discípulos, e é por eles que eu rezo especialmente. — “Eram teus”, segundo a tua eleição eterna, “e tu os confiaste a mim, e eles guardaram a tua palavra”, isto é, abraçaram a doutrina que em teu nome lhes anunciei, e eles fielmente me seguiram. Daqui se depreende o especial cuidado com que Jesus trabalhou e rezou pela formação e preparação dos Apóstolos.

V. 9. Em seguida, começa a orar pelos discípulos. “Não te rogo pelo mundo”: não rezo indistintamente por todos, mas de forma especial pelos discípulos, como se vê pelos motivos e o conteúdo das petições. Daí não segue, de forma alguma, que o Senhor não tenha rezado pelo mundo, pois Ele, que por todos morreu na cruz, é óbvio que também por todos rezou e a todos amou. — V. 10. Em seguida, afirma que os discípulos são dignos de ser queridos pelo Pai, primeiro “porque são teus”; segundo, porque “eu sou glorificado neles”, isto é, eles hão-de anunciar a todos o meu nome, a minha cruz e o meu Evangelho.

V. 11. Por fim, declara por que motivo reza por eles: “Já não estou no mundo” (isto é, em breve deixarei este mundo), “mas eles permanecem no mundo” (isto é, aqui permanecerão sem a minha presença visível), “enquanto eu vou para junto de ti”. Por isso, “Pai santo, guarda-os em teu nome”, isto é, no conhecimento de ti, na tua fé, com a qual os iluminei, e na tua comunhão; “os que me encarregaste de fazer conhecer” às gentes o nome que me deste, “a fim de que sejam um como nós”, imitando pelo amor mútuo, pela fé e em espírito a unidade de natureza, inteligência e vontade que o Pai tem com o Filho.

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