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Afinal, Santo Tomás de Aquino está ultrapassado?

Embora o Magistério lhe atribua, por sua inigualável contribuição à teologia, o título de "Doutor Angélico", Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano. Mas qual é a verdadeira posição da Igreja em relação à teologia tomista? A doutrina do Aquinate estaria porventura ultrapassada?

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Embora o Magistério lhe atribua o título de Doctor Angelicus, por sua inigualável contribuição à teologia, Santo Tomás de Aquino vem caindo no esquecimento ano após ano. Em alguns casos, chega-se a considerá-lo matéria ultrapassada, sobre a qual não valeria mais a pena discutir. Os estudos teológicos, com efeito, deveriam ser pautados apenas pelos conceitos modernos de investigação, não por teses medievais.

Mas essa, sem sombra de dúvida, não é a posição da Igreja Católica. O Concílio Vaticano II, superando qualquer outra afirmação conciliar já feita - mesmo as de Trento -, deu a Santo Tomás de Aquino o posto de “o guia" da teologia e da filosofia. Por duas vezes, os padres conciliares se referem a ele nesses termos. A Declaração Gravissimum Educationis, que versa sobre a educação cristã, por exemplo, diz o seguinte: “se veja mais profundamente como a fé e a razão conspiram para a verdade única, segundo as pisadas dos doutores da Igreja, mormente de S. Tomás de Aquino" [1]. E assim também a Optatam totius, sobre a formação dos sacerdotes: “Depois, para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita, aprendam a penetrá-los mais profundamente pela especulação, tendo por guia Santo Tomás, e a ver o nexo existente entre eles" [2].

Contudo, apesar das claras admoestações do Concílio, bastou que Paulo VI dissesse “Ite, missa est", para que Santo Tomás de Aquino fosse varrido do mapa. A impressão que se tinha era que o Vaticano II havia relativizado a importância do Doctor Angelicus, como se já não importasse mais a sua contribuição. Nada mais fantasioso.

O Magistério posterior ao Concílio continuou a insistir na teologia de Santo Tomás. Paulo VI, na Carta Apostólica Lumen Ecclesiae. João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio. O Código do Direito Canônico, no cânon 252, dizendo, novamente sobre a formação dos sacerdotes, que “haja lições de teologia dogmática, baseadas sempre na palavra de Deus escrita, juntamente com a sagrada Tradição, com cujo auxílio os alunos aprendam a penetrar mais intimamente o mistério da salvação, tendo por mestre principalmente a S. Tomás". E, finalmente, Bento XVI: “A profundidade do pensamento de São Tomás de Aquino brota – nunca o esqueçamos – da sua fé viva e da sua piedade fervorosa".

Ora, está mais do que óbvio que nem o Concílio nem o Magistério posterior a ele descartaram a teologia de Santo Tomás. A Igreja, muito pelo contrário, fez um esforço imenso para que o seu modelo fosse adotado em todos os âmbitos da formação cristã. Se, no entanto, surgiu a impressão de que o Doctor Angelicus estava obsoleto, tratou-se de uma mentira, de uma falsidade ideológica que, infelizmente, ainda hoje, faz muitas vítimas e que se pauta numa visão totalmente alheia ao Vaticano II, muitas vezes lhe subtraindo o sentido, dividindo a Igreja de Cristo em pré e pós Conciliar. Foi exatamente essa visão que Bento XVI tanto combateu durante os seus oito anos de pontificado, ensinando que “a alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes de que vive a árvore".

Muitas das declarações equivocadas que circulam nos corredores de seminários, paróquias e, até mesmo, jornais devem-se à falta de conhecimento de Santo Tomás. Falta-lhes a capacidade de ordenar as coisas, tal qual pedia o Doutor da Igreja. Sem a ordem, é impossível um diálogo sincero, uma vida limpa e, sobretudo, o encontro com a Verdade. É exatamente assim que surge sobre o sentido da fé cristã aquela “névoa de incerteza" - da qual falava o então Padre Joseph Ratzinger, em sua Introdução ao Cristianismo - “mais pesada do que em qualquer outro momento da história".

É preciso voltar a Santo Tomás de Aquino. Nele, não somente se encontram ensinamentos seguros, como também a piedade cristã que leva para Deus. Com o Doctor Angelicus, todos são instados a orar, suplicando ao Senhor: "Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma perseverança que vos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a possuir-vos".

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