Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9, 7-9)
Naquele tempo, o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que Jesus fazia e ficou perplexo. Uns diziam: “É João que ressurgiu dos mortos”; outros: “É Elias que apareceu”; e ainda outros: “É um dos antigos profetas que ressuscitou”. Mas Herodes dizia: “Eu degolei a João. Quem é, pois, este, de quem ouço tantas coisas?” E procurava ocasião para vê-lo.
No Evangelho de hoje, Herodes procura ver Jesus, embora não consiga professar a fé. Para conseguirmos interpretar esta passagem bíblica, façamos um pequeno paralelo com uma outra passagem que virá mais adiante: a profissão de fé de São Pedro. Interessante que tanto Herodes como Pedro tiveram acesso às mesmas informações, ou seja, ambos sabem qual é a opinião pública a respeito de Jesus. Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, ou ainda um dos profetas. No entanto, Herodes não consegue professar a fé, diferente de Pedro, que diz claramente: “Tu és o Cristo de Deus”.
O que aconteceu com Pedro para que ele professasse a fé, ao contrário de Herodes? Se voltarmos um pouco no Evangelho de São Lucas, iremos nos deparar com a vocação de Pedro. Ele, durante a pesca milagrosa, inclina-se diante de Jesus e diz: “Senhor, tende piedade de mim que sou pecador”, e esse reconhecimento de seu próprio pecado faz com que esse homem esteja realmente disposto a se encontrar com Cristo.
A vida de oração funciona da mesma forma. Se, em um ato de contrição, uma pessoa se encontra com ela mesma, arrependendo-se de seus pecados, ela poderá se encontrar com Deus. No entanto, se ela agir como Herodes, fechada dentro de si sem querer reconhecer os seus erros, não haverá encontro.
São João Crisóstomo comenta a passagem de hoje dizendo que é típico do pecador ser atormentado por fantasmas. Ele, sem que ninguém o acuse, acusa a si próprio. Ora, Herodes tinha dito: “Eu mandei degolar João Batista”, mas ficou perturbado pelo pensamento de que Jesus poderia ser o fantasma de João Batista não pelo fato de estar arrependido de seu grave erro, mas por temer uma vingança por parte do santo. Portanto, esse tolo rei não conseguia se encontrar com Jesus: estava mergulhado em sua imaginação egoísta. Nós também precisamos romper com o mundo fantasmagórico de nosso interior e encontrar-nos com o Cristo de verdade. Somente assim iremos professar a fé e mudar de vida.
Nesse contexto, vemos qual é a grande diferença entre o arrependimento cristão e os fantasmas de um complexo de culpa. No arrependimento cristão, a pessoa se encontra consigo mesma e enxerga a sua miséria debaixo do olhar da misericórdia de Deus. Então, ela crê nesse amor e professa a fé, dizendo: “Afastai-vos de mim, Senhor, porque sou pecador”, e ao mesmo tempo Jesus se aproxima dela, amando-a e querendo o seu bem. Já no complexo de culpa, pensa-se como Herodes, que só queria ver Nosso Senhor para se certificar de que Ele não era o “João Batista vingador e acusador que tiraria a sua vida”. Ou seja, ele não desejava se encontrar com a realidade, mas apaziguar os seus fantasmas interiores.
Infelizmente, isso acontece com frequência. Sem querer se encontrar com a verdade de si mesmos, muitos vão em busca de pequenos rituais que tranquilizem as suas más consciências, os seus complexos e os seus fantasmas; algo que o cristianismo não tolera. Nele, há um verdadeiro encontro de nós com Cristo.
Portanto, coragem! Tiremos as nossas máscaras, abandonemos as imaginações que temos a respeito de nós mesmos e, completamente nus, miseráveis e pecadores, coloquemo-nos debaixo do olhar de Deus. Assim, iremos para junto de sua sublime presença e receberemos o seu perdão, podendo assim professar a fé em seu amor infinito.




























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