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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9, 27-31)

Naquele tempo, partindo Jesus, dois cegos o seguiram, gritando: “Tem piedade de nós, filho de Davi!” Quando Jesus entrou em casa, os cegos se aproximaram dele. Então Jesus perguntou-lhes: “Vós acreditais que eu posso fazer isso?”
Eles responderam: “Sim, Senhor”. Então Jesus tocou nos olhos deles, dizendo: “Faça-se conforme a vossa fé”. E os olhos deles se abriram. Jesus os advertiu severamente: “Tomai cuidado para que ninguém fique sabendo”. Mas eles saíram, e espalharam sua fama por toda aquela região.

Caminhando no tempo do Advento, o Evangelho de hoje nos mostra Jesus curando dois cegos. No entanto, percebemos que eles já “enxergavam” ao clamarem por Jesus, chamando-o de Filho de Davi e reconhecendo-o como Messias. 

De fato, Jesus é o Filho de Davi esperado. No Antigo Testamento, anunciou-se que viria um rei para instaurar um reino em que não haveria sofrimento, dor e males. Quando Jesus começa a realizar curas, de certa forma Ele realiza essa profecia. Contudo, no capítulo 11, versículo 5, João Batista demonstra estar um pouco perplexo. 

Ele sabe que Jesus é o Messias, mas Cristo não parece estar realizando tudo o que havia sido previsto, ou seja, a instauração do seu Reino. Porém, Nosso Senhor usa a cura que foi proclamada hoje para explicar que tudo está acontecendo conforme o planejado; mas bem-aventurado aquele que não se escandaliza com Ele e não tropeça. Por quê? Porque, embora seja o Messias esperado, Ele não se encaixa exatamente no padrão que as pessoas imaginavam. 

Nós estamos no tempo do Advento, um período da espera por Jesus Cristo, que veio no passado, na Encarnação; virá no futuro, na sua glória; mas vem também no dia a dia, em nossas vidas. Entretanto, é necessário que nós sejamos “curados” de nossa cegueira e que a nossa fé seja capaz de interpretar as visitas de Cristo em nosso cotidiano, mesmo que elas não se adequem e não se encaixem perfeitamente em nossas expectativas.

São Máximo, o Confessor, disse certa vez uma frase bastante dura, mas verdadeira: “Os idiotas clamam a misericórdia de Deus o dia inteiro e, quando ela aparece, não a reconhecem”. Temos o perigo de viver isso. São Máximo estava habituado aos monges do Oriente que passavam o dia inteiro com uma espécie de terço na mão, repetindo constantemente a mesma frase: “Senhor, tende piedade”. No entanto, eles não reconheciam a misericórdia de Deus quando ela aparecia, porque esta acontece, às vezes, a partir de um sofrimento, de uma cruz, de uma doença ou de uma tragédia.

Sim, Jesus é o Messias e vem da forma esperada, mas não completamente. Realmente, Nosso Senhor realiza as profecias, como quando os cegos recuperaram a vista; contudo; ao mesmo tempo, não instaura um Reino sem sofrimento. Ao contrário, Ele nos pede que carreguemos a nossa cruz no dia a dia, transformando a nossa dor em amor. 

É por esse motivo que, de alguma forma, o Deus cristão é desconcertante. Ele nos salva e nos liberta da morte, da dor e da miséria, mas também pede que nós abracemos a morte, a dor e a miséria, a fim de darmos o salto na direção do Reino do Céus.

O tempo do Advento, portanto, é um tempo de esperança, e é muito importante que a nossa fé esteja solidamente alicerçada e a nossa cegueira seja curada, para que possamos esperar de Deus o que Ele verdadeiramente deseja nos dar de presente.

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