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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16,16-20)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. Alguns dos seus discípulos disseram então entre si: “O que significa o que ele nos está dizendo: ‘Pouco tempo, e não me vereis, e outra vez pouco tempo, e me vereis de novo’, e: ‘Eu vou para junto do Pai?’”

Diziam, pois: “O que significa este pouco tempo? Não entendemos o que ele quer dizer”. Jesus compreendeu que eles queriam interrogá-lo; então disse-lhes: “Estais discutindo entre vós porque eu disse: ‘Pouco tempo e já não me vereis, e outra vez pouco tempo e me vereis?’

Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria”.

Celebramos há quarenta dias a festa da Páscoa, e embora devêssemos celebrar hoje a da Ascensão, transferida no Brasil para o domingo próximo, vale a pena dizer algumas palavras sobre esse mistério, o último da vida de Cristo neste mundo. Como sabemos, a Ascensão de Nosso Senhor aos céus marca o fim das aparições com que Ele se manifestou ressuscitado aos Apóstolos (cf. At 1,13), a fim de reavivar neles a fé que deixaram sepultada sob o medo, a frustração e a covardia.

Mas ainda que os tenha reerguido à fé de antes, dando-lhes sinais certíssimos de sua Ressurreição e a alegria de o saberem vivo e glorioso, era-lhes necessária a graça que só receberiam dez dias depois, na festa de Pentecostes, quando finalmente se lhes infundiria a plena inteligência dos mistérios: a) a cruz, que para eles foi motivo de queda e tristeza, se tornará motivo de gozo e sinal de vitória; b) a Ressurreição, que experimentaram primeiro como remédio da incredulidade, passarão a vê-la em sentido profundo, como complemento da Redenção, causa exemplar de nossa glorificação futura e incentivo eficacíssimo a praticarmos o bem, já libertos do pecado; c) e a Ascensão, que, embora nos tenha privado em certo sentido da presença corporal de Cristo, não foi um adeus, mas o penhor de que o Corpo da Igreja se unirá um dia na glória à sua divina Cabeça: “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e vos tomarei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais” (Jo 14,3).

Que já nos toquem hoje o coração as palavras de Cristo: “Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai” (Jo 14,28), e nos encham de santa alegria, pois Nosso Senhor, verdadeiramente ressuscitado, subiu aos céus e nos assiste sempre com as graças do Espírito Paráclito, para que cheguemos seguros à pátria bem-aventurada.

* * *

O Mestre voltará (v. 16-27). — Na primeira parte do colóquio, Jesus consolou os discípulos com a promessa de seu retorno (cf. Jo 14,3.18s); agora desenvolve o mesmo tema com mais amplitude, 1) opondo à presente tristeza a futura alegria (cf. v. 16-22) e 2) prometendo-lhes o cumprimento de todos os seus desejos (cf. v. 23-27).

1. A tristeza se transformará em alegria (v. 16-22).Um pouco (gr. μικρόν, lt. modicum), e já não me vereis. E outra vez um pouco, e me vereis de novo. Estas palavras são interpretadas de diversas formas: a) após um breve tempo, i.e., quando eu morrer, não me vereis; mas após um breve tempo, i.e., após minha ressurreição, de novo me vereis; — b) Maldonado e outros, baseando-se no v. 20ss, entendido como explicação do v. 16, propõem a seguinte interpretação: após pouco tempo, i.e., após minha ascensão, já não me vereis; mas após pouco tempo, ou seja, após o tempo que passareis nesta vida, de novo me vereis; — c) outros, enfim, forçando o texto, entendem-no em relação ao abatimento dos discípulos com a morte do Mestre e à ressurreição “espiritual” de Cristo e sua “aparição” na alma dos fiéis. — As palavras porque vou para junto do Pai são omitidas no v. 16 em vários manuscritos gregos, mas aparecem no v. 17.

V. 20. Não responde à pergunta tácita (cf. v. 17ss) dos discípulos nem explica o que significa um pouco ou quando isso acontecerá, mas diz o que entrementes lhes há de suceder: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará etc. — Também este versículo é interpretado de diversas maneiras, conforme a interpretação que se dê ao versículo 16. As lágrimas e o choro dos discípulos indicam tristeza e dor pela morte de Cristo, ao passo que a alegria do mundo significa o triunfo (aparente) dos judeus. De acordo com Maldonado, Cristo refere-se, de um lado, à tristeza que os Apóstolos e, de outro, à alegria que mundo hão de ter durante todo o tempo desta vida. — Mas a vossa tristeza se transformará em alegria (εἰς χαρὰν γενήσεται), a saber: em alegria que ninguém vos poderá arrebatar (cf. v. 22). Subentende-se facilmente o segundo membro: “e a alegria deles em tristeza”.

Santo Tomás de Aquino, Super Ioh. XVI, l. 5, n. 4 (ed. Turim, nn. 2127-2130)

Aqui [v. 20] expõe o seu dito, removendo uma dúvida, sem pôr expressamente as palavras que dissera, dando satisfação mais aos discípulos do que a si: onde faz três coisas. — 1) Primeiro, mostra a alternação da alegria e da tristeza; 2) segundo, a tristeza interior; 3) terceiro, a consequente alegria.

1) Diz pois quanto ao primeiro: “Em verdade, em verdade vos digo” que, neste pouco em que me não vereis, a) “haveis de chorar”, emitindo exteriormente som doloroso, b) “e gemer”, lacrimejando: “Chora sem cessar durante a noite”, quanto ao primeiro, “e as suas lágrimas inundam as suas faces”, quanto ao segundo (Lm 1,2); “Cesse a tua boca de se lamentar” (Jr 31,16).

2) A tristeza interior deles será por contrariedade à alegria do mundo; donde diz: “O mundo, porém, se há de alegrar”, o que pode entender-se: a) particularmente, quanto ao tempo da paixão de Cristo, e assim “o mundo”, i.e., os escribas e fariseus, “se há de alegrar” com a morte de Cristo: “Eis o dia que esperávamos; aqui o temos, aqui o vemos” (Lm 2,16); ou “o mundo”, i.e., os maus que há na Igreja, “se há de alegrar” na perseguição aos santos: “Os habitantes da terra se encherão de pasmo” (Ap 17,8); b) ou universalmente, “o mundo”, i.e., os homens que vivem carnalmente, “se há de alegrar” nas coisas mundanas: “Há prazer e alegria, matança de bois e de carneiros, come-se carne e bebe-se vinho” (Is 22,13).

Segue-se a tristeza dos discípulos; donde diz: “Haveis de estar tristes”, a saber: pelos padecimentos que suportareis no mundo, ou antes por minha morte. Assim também os santos se entristecem pelos padecimentos que lhes inflige o mundo e pelos pecados: “A tristeza, que é segundo Deus, produz uma penitência estável para a salvação” (2Cor 7,10). 

3) Mas à tristeza se seguirá a alegria: porque “a vossa tristeza”, a saber, a que tereis em minha paixão, “há de converter-se em alegria” na ressurreição: “Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor” (Jo 20,20). Mas, universalmente, a tristeza de todos os santos se converterá na alegria da vida futura: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,5); “Vão andando e chorando, os semeadores na hora da sementeira; quando porém voltarem, virão com alegria, trazendo os seus feixes” (Sl 125,6). Com efeito, choram os santos no tempo do mérito, semeando; mas alegrar-se-ão no tempo do prêmio, recolhendo.

Referências

  • Tradução de H. Simón–G. G. Dorado, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 6.ª ed., Turim: Marietti, 1944, vol. 1, p. 916, n. 681.

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