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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 35-38)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade, eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar!”

V. 35a. Que vossos rins estejam cingidos. — Como Jesus tivesse mencionado antes o Reino dos Céus e acendesse nos discípulos o desejo de buscá-lo (cf. 12, 31s), ensina-lhes agora de que modo, com que empenho, com quanta vigilância e com quais disposições hão de esperá-lo. E o ilustra por meio da parábola dos servos que, obrigados a esperar pela volta de seu senhor à noite, devem estar não só em vigia, mas preparados, com os rins cingidos, atentos e de lâmpadas em punho, a fim de não se atrasarem quando ele chegar, por terem de se vestir e acender as lâmpadas às pressas.Era costume entre os povos orientais, e ainda o é em alguns deles, utilizar vestes compridas. Por isso, os que serviam a outros amarravam-na com um cordão na altura dos rins, para trabalharem sem impedimentos ou incômodo. Isso fica claro pelo que se lê tanto no v. 37 quanto em 17, 8. Também Cristo, antes de lavar os pés aos Apóstolos na Última Ceia, pegou uma toalha e cingiu-se com ela (Jo 13, 4); a Pedro, para sair da prisão e dali fugir mais rápido, mandou o anjo que se cingisse (cf. At 8, 3); e o filho de Tobias encontrou, sob forma humana, o arcanjo Gabriel equipado como para uma viagem (Tb 5, 5), isto é, de túnica amarrada. Também Elias passou adiante de Acab, tendo os rins cingidos (1Rs 18, 46). E Eliseu disse a Giezi, seu filho: Põe o teu cinto, toma na mão o meu bastão e parte (2Rs 4, 29).

Ter, pois, os rins cingidos é o mesmo que estar preparado. É este, portanto, o verdadeiro sentido dessa passagem, como a interpreta Cipriano. É o mesmo que dizem S. Paulo: Ficai alerta, à cintura cingidos (Ef 6, 14), e S. Pedro: Cingi, portanto, os rins do vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na graça que vos será dada (1Pd 1, 13). Daí se vê que a interpretação de muitos autores antigos que entendiam por “rins cingidos” a castidade se refere mais ao sentido moral, por acomodação, do que ao propriamente literal; e, mesmo quanto ao moral, não é de todo adequada ou plena, uma vez que o Senhor nos manda aqui estar preparados e munidos não só de castidade, mas de todas as virtudes, especialmente das teologais, já que sem elas, ao menos em estado habitual, não é possível entrar no Reino dos Céus [1].

V. 35b. E as lâmpadas acesas. — Os servos, quando chega de noite o seu senhor, devem ir diante dele, levando nas mãos tochas acesas, para recebê-lo e iluminar a casa. Jesus nos manda fazer o mesmo, e as “lâmpadas acesas” não significam mais do que a necessidade de termos tudo tão bem preparado quando Ele viver, que não nos reste nada mais que fazer. O que, com efeito, é mais fácil para o servo vigilante do que acender a lâmpada ou a tocha, tão-logo o dono da casa bata à porta? O Senhor, porém, quer que o façamos antes mesmo de sua chegada, de forma que Ele não precise esperar ninguém vir recebê-lO, enquanto os servos correm para acender as lâmpadas, o que seria não só indecoroso, mas impróprio da pessoa de tão divino Senhor. Não é, pois, por outra razão que Cristo nos manda manter acesas nossas lâmpadas senão por ser isto o que costumam fazer os bons servos (cf. v. 36). Logo, o que dizem Agostinho, Gregório, Ambrósio, Beda, Teofilacto, Eutímio etc., a saber, que as lâmpadas significam o exemplo das boas obras, ou simbolizam a reta intenção, ou que há duas lâmpadas: uma interna, do coração, e outra externa, da língua, pois é crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação (Rm 10, 10), são interpretações boas e úteis à pregação, mas fundadas no sentido moral, não no literal.

V. 37. O prêmio dos servos vigilantes: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. — Com isso, Jesus quis significar que o senhor da parábola ficará tão agradecido àqueles servos diligentes, vigilantes e preparados, que ele mesmo lhes fará o que nenhum senhor costuma fazer a seus criados, ou seja, os porá à mesa para lhes servir o jantar. Isso significa que Cristo irá comunicar sua própria glória aos servos bons de sua casa assim como o senhor da parábola, ao voltar do casamento, tornou os da sua participantes de sua própria honra, fazendo-os sentar-se como senhores, enquanto ele os servia à mesa. O sentido deste v., portanto, é o seguinte: Cristo, se nos encontrar vigilantes e preparados para o juízo, nos fará senhores no Céu: Para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos (Lc 22, 30). Não porque Cristo se fará nosso servo (nisto, a parábola não deve ser acomodada ad rem). De fato, que o senhor, ao voltar das bodas, tenha posto à mesa e servido seus criados significa apenas que lhes prestou uma honra extraordinária e inusitada. É nesse sentido que se deve aplicá-lo a Cristo, ou seja, no Céu, Ele nos há de prestar uma honra inusitada e inacreditável (participando-nos sua bem-aventurança), igualando-nos de certo modo a si mesmo (deificando pela luz da glória o nosso intelecto), porque nos porá ao seu lado na mesa do seu Reino (colocando-nos entre os convidados perpétuos da festa eterna do Céu) [2].

Referências

  1. Como se sabe, a posse da graça santificante é indistinta e absolutamente necessária a todos os homens, com necessidade de meio física ou em sentido estrito, para a salvação tanto primeira quanto última, isto é, para ser justificado (nesta vida) e salvo (na outra). Ora, como a graça santificante vem sempre acompanhada das virtudes teologais e das morais infusas, segue-se que, assim como ninguém pode salvar-se sem aquela, tampouco se poderá salvar sem estas, ao menos como disposições habituais potencialmente redutíveis ao ato.
  2. Esta homilia é uma tradução adaptada de J. de Maldonado, Commentarii in Quattuor Evangelistas. 3.ª ed., Monguntiar, sumptibus F. Kirchhemii, 1863, vol. 2, p. 223B–227A.
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