Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
Mateus (Mt 22, 34-40)
Perguntado pelos fariseus sobre qual era o maior mandamento da Lei, Jesus indica “o maior e o primeiro mandamento”: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento” [1]. Ao apontar como deve ser amado – “de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento” –, porém, parece que Cristo coloca um fardo muito pesado em nossos ombros, como se o Evangelho, ao invés de ser uma boa nova e uma mensagem de libertação, fosse uma exigência extrema e nos obrigasse a um amor de cuja medida nós não somos capazes.
Mas, será isso mesmo? Afinal, em que consiste esse amor que Deus pede de nós?
Santo Tomás de Aquino, em seu tratado sobre a caridade, define esta virtude como “uma amizade do homem para com Deus”, explicando que, na amizade, mais do que a benevolência, “é preciso que haja reciprocidade de amor” [2]. Com esse ensinamento, o Aquinate retoma as palavras do próprio São João: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro” [3]. Assim, a primeira atitude do homem em relação a Deus é de gratidão pelo grande amor com que Ele nos amou, uma vez que “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” [4].
Então, para pôr em prática o mandamento do amor, é preciso, em primeiro lugar, ter fé no amor de Deus e gratidão para com Ele. Depois, importa observar o que diz o Decálogo: “Não terás outros deuses além de mim” [5]. O amor a Deus exige que se combata a idolatria, que Ele seja amado com prioridade, “sobre todas as coisas”, como ensina a Igreja.
Por fim, é preciso crescer no amor. É o próprio Doutor Angélico quem recorda que o amor, neste mundo, não tem limites, sendo sempre possível ao homem atingir um grau maior de caridade [6]. O seu grande inimigo neste caminho é a tibieza – que se trata de uma caridade “morna”, “frouxa”, “fraca”, “medíocre” –, pela qual se corre o risco de “estacionar-se” na vida espiritual. O fato é que quem ama de verdade não se contenta com a mediocridade. Enquanto, em relação às virtudes humanas, é possível dizer que “a virtude está no meio”, como um “ponto de equilíbrio” entre dois extremos – a fortaleza, por exemplo, está entre a temeridade e a covardia –, no que diz respeito às virtudes teologais, sempre se pode crescer mais. Por isso, precisamos nos determinar a amar a Deus sempre com mais fervor, procurando chegar “à estatura do Cristo em sua plenitude” [7].
Para tanto, seguem algumas dicas bem concretas para crescer no amor de Deus:
Primeiro, pedir perdão a Deus. A primeira forma de um pecador demonstrar o seu amor a Deus é pedir perdão: dos pecados graves, mas também dos veniais; dos pecados não perdoados, mas também daqueles que já foram perdoados. Muitas vezes, as pessoas acham que só podem pedir perdão das faltas não perdoadas. Mas, na vida de oração, podemos repassar a nossa vida e constantemente pedir perdão a Deus por nossos pecados passados. Isso não é “complexo de culpa”, nem “neurose”, mas atitude de amor, de quem errou e se determina a não mais pecar.
Segundo, conformar a própria vontade à de Deus. Deve-se fazê-lo não só seguindo os mandamentos, mas também amando e adorando a vontade divina nas situações concretas do dia a dia, dirigindo um perene ato de agradecimento por tudo o que a Sua providência dispõe em nossa vida.
Terceiro, querer aumentar Sua glória nesta terra, levando as almas a conhecê-Lo e amá-Lo. Todo verdadeiro discípulo é também um missionário. É necessário que nos entreguemos, pois, pela conversão do próximo, oferecendo a sua alma como presente a Deus, para agradar o Seu coração.
Após falar do maior e primeiro mandamento, Nosso Senhor fala do segundo, “semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Diz-se que este mandamento é semelhante ao primeiro porque também o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus [8]. O amor ao próximo torna-se, então, o sinal mais claro e evidente da sinceridade de nosso amor a Deus: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. (...) Quem ama a Deus, ame também seu irmão” [9]. É preciso tomar cuidado, no entanto, para não confundir esse amor ao próximo com uma falsa caridade, uma espécie de “filantropia vaidosa”, pela qual se ama o outro mais por causa de si mesmo que por causa de Deus. A verdadeira caridade tem Deus como objeto formal, ainda que seu objeto material seja o próximo.
Nós precisamos crescer. Faz parte do organismo espiritual a necessidade de progredir. Assim como o corpo, a alma também precisa avançar; caso contrário, torna-se uma “anã espiritual”: fica estagnada na vida interior, porque não cresce na caridade. Nesta vida, ninguém pode dizer de si mesmo: “Já fiz o suficiente”. Sempre se pode fazer mais por amor a Deus.
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