Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 4, 21-25)
Naquele tempo, Jesus disse à multidão: “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. Jesus dizia ainda: “Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais; do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”.
Com grande alegria celebramos hoje a memória de S. Tomás de Aquino, Doutor da Igreja. Poucas pessoas são verdadeiramente devotas dele. Existe hoje muito preconceito em volta não só da imagem, mas também da personalidade histórica de Tomás, visto muitas vezes como um homem “frio”, “cerebral”, que transformou a teologia em jogos escolásticos de precisão matemática. Essa caricatura está muito longe do verdadeiro Tomás, cuja obra também está muito longe de ser um “joguinho” matemático. Quem foi, então, verdadeiramente, S. Tomás de Aquino? Para descrevê-lo, é preciso usar a palavra sábio. A sabedoria é diferente da inteligência. É inteligente quem vê a verdade, mas sábio é quem, amando-a, quer buscá-la cada vez mais. Isso é o que caracteriza a sabedoria e a verdadeira vida espiritual. De fato, o que devemos fazer ao rezar? Devemos buscar uma verdade para amá-la. Não é possível, na vida espiritual, partir do amor desde o início. O amor se dá na vontade, e a vontade é uma potência “cega”, ou seja, é preciso lançar luz sobre ela, e é da inteligência que vêm nossas luzes. Na oração, a inteligência deve buscar a verdade, não por curiosidade ou para aumentar a própria cultura, mas para apresentá-la à vontade e, deste modo, amá-la. Isso se vê desde o início da vida de S. Tomás, que, ainda pequenino, aluno na abadia de Montecassino, pergunta: “Quem é Deus?”, não por curiosidade de criança, mas por ter um coração abrasado. Ninguém ama o que não conhece. Tomás sabia, como lhe diziam, que era preciso amar a Deus; mas ele também sabia ser necessário conhecê-lo para poder amá-lo. É a resposta dessa pergunta — quem é Deus? — que ele dedicará toda a sua vida. Quantas vezes os biógrafos nos dizem que, ao escrever suas obras, Tomás se detinha em oração! Quando ditava a seus vários amanuenses suas muitas obras, se surgia alguma dificuldade, ele parava, ia até o crucifixo, abria os braços e rezava, buscando a luz sobrenatural para continuar seu magistério. Porque somente os sábios, ou seja, os que conhecem e amam, são capazes de ensinar. Atestam-se vários fenômenos sobrenaturais, êxtase místico, em que Tomás recebia de Deus luzes maravilhosas, e no entanto era o seu coração como o de uma criança, como disse uma vez seu secretário pessoal, frei Reginaldo, após atender uma de suas últimas confissões, quando o santo estava prestes a expirar na abadia cisterciense de Fossanova. “Se não fordes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus!” (Mt 18, 3). Com esse coração de criança, S. Tomás não tinha medo de, no meio de dúvidas, de perplexidades, parar o que estava fazendo, ir até a igreja, abrir o sacrário e pôr lá dentro a cabeça! Gesto de criança, de um homem que realmente crê na Encarnação do Verbo eterno, cujo toque físico, por sua presença no sacrário… como não iria iluminá-lo? Como aquela hemorroíssa, que queria tocar na orla do manto de Jesus, Tomás queria tocar no Verbo feito carne. Eis a grandeza do santo Doutor, um sábio que buscou a verdade para amá-lo, cumprindo assim a missão dos dominicanos: Contemplata tradere, transmitir a verdade contemplada, um dos maiores atos de caridade para com o próximo, caridade de tirá-lo das trevas da ignorância para, na verdade, unir-se a Deus. Porque se a nossa vocação é a união com Deus, como a esposa deseja e se une o esposo… como amar a quem não conhecemos? O serviço dos santos Doutores e sábios é esse! Conheçamos de perto a obra de Tomás. Não tenhamos preconceito, nem nos deixemos ludibriar por quem diz que Tomás é um homem “frio”. Não. Ele pode nos ensinar a amar mais Jesus, porque nos ensina a conhecê-lo melhor.
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