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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 3,7b-15)

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: “Vós deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”. Nicodemos perguntou: “Como é que isso pode acontecer?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre em Israel, mas não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade, te digo, nós falamos daquilo que sabemos e damos testemunho daquilo que temos visto, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se não acreditais, quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.

No Evangelho de hoje, continuamos o encontro de Jesus com Nicodemos. Nesse encontro, Jesus está mostrando a transformação sobrenatural que Ele quer fazer em nossas almas. No segundo capítulo de São João, Jesus fez uma transformação natural: a água foi transformada em vinho; agora, no terceiro capítulo, com Nicodemos, Jesus quer mostrar a transformação que existe nesse nascer de novo, ou nesse nascer do alto de que todos nós precisamos através da fé.

Eis aqui uma frase interessante de Jesus que é preciso interpretar. Logo no início do trecho de hoje, Ele diz: “Vós deveis nascer do alto”. A palavra “do alto”, em grego, significa duas coisas: “do alto”, mas também “de novo”, ou seja, “nascer de novo” ou “nascer do alto”. Nicodemos não entendeu ainda o que Jesus está querendo dizer. Jesus então faz uma metáfora ou analogia com o vento, o qual é, ao mesmo tempo, o Espírito Santo.

A palavra πνεῦμα [pneuma], em grego, quer dizer “espírito” e “vento” ao mesmo tempo. Então, a tradução está correta: “O vento sopra onde quer”. É a realidade do vento, mas é também a realidade do Espírito. O Espírito sopra onde quer, “e tu podes ouvir o seu ruído”.

A palavra “ruído”, no original grego, é φωνή [phōné], que quer dizer “voz”: “Podes ouvir a sua voz”, ou seja, a voz do vento, que é o ruído ou rumor dele; “mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo aquele que nasceu do Espírito”, ou seja, “que nasceu do vento”. A palavra “vento” aparece outra vez.

Vamos interpretar. Jesus primeiro usa uma metáfora básica: o vento sopra onde quer, ou seja, os seres humanos não mandam no vento. 

Se nós conseguíssemos mandar no vento, evitávamos furacões, calmarias no mar etc. Mas nós não mandamos no vento; ele sopra onde quer. É a liberdade do vento. Não sabemos de onde ele vem nem para onde vai, porque existem ventos imprevistos.

Por mais que a meteorologia consiga prevê-los, sempre há um grau de imprevisibilidade: “Nem de onde vem nem para onde vai”. Mas conseguimos ouvir a sua voz, isto é, o barulho do vento. Esta metáfora é então aplicada ao Espírito Santo: o Espírito Santo sopra onde quer, o que quer dizer que não adianta querer prender a Deus em fórmulas mágicas. Deus é Deus. Ele é livre; Ele inspira, age e faz conforme a liberdade do seu amor.

No entanto, há a possibilidade de ouvir a voz do Espírito Santo. Santo Tomás recorda onde está a voz do Espírito Santo. A voz do Espírito Santo está, para aqueles que não estão em estado de graça, nas Escrituras e nos pregadores, disponível a todo o mundo; mas para aqueles que estão em estado de graça essa é voz sobretudo interior. Essas duas vozes não se contradizem; uma é mais externa, outra mais interna: “Podes ouvir a sua voz”, o seu ruído, o Espírito Santo, mas “não sabes de onde vem”.

Santo Tomás nos recorda que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho e permanece em luz inacessível. Não sabemos de onde vem e “não sabemos para onde vai”, porque o Espírito Santo nos conduz para a glória eterna de Deus, ou seja, Ele vai para a glória, que nós não conhecemos. Essa é a realidade do Espírito Santo.

Mas há um terceiro ponto. Vimos o significado original, ao pé da letra, do que Jesus está falando: “vento”, e vimos a metáfora com o Espírito Santo; mas Jesus acrescenta uma frase: “Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”. Então, se nascemos do Espírito Santo, temos de encontrar essas quatro características também em nós, pessoas nascidas do Espírito Santo. Isso já nos diz respeito, diz respeito à nossa vida: “sopra onde quer”, quer dizer, quem nasceu do Espírito Santo é livre, sobretudo do pecado; é livre para obedecer a Deus e fazer sua vontade.

Essa é a liberdade dos filhos de Deus, liberdade que gera obediência, porque a desobediência só gera escravidão. Então, é a realidade de sermos livres, é a grande liberdade de sermos movidos pelo Espírito Santo, de sermos filhos de Deus, de não sermos escravos do pecado, de não estarmos em pecado.

“Tu podes ouvir a sua voz”, o seu ruído, ou seja, as pessoas que são de Deus mostram isso na vida. Existe algo que se consegue detectar quando uma pessoa está em graça, isto é, quando está na vida de Deus: há alguma coisa que muda na vida, e isso se enxerga. Não se sabe de onde vem aquilo, porque não se está enxergando a presença do Espírito Santo, nem se enxerga para onde vai aquilo, que é a santidade e a vida eterna; mas há uma transformação.

As quatro características [1] estão presentes também naquele que foi transformado, como de água em vinho, de filho de Abraão em filho de Deus.

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