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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15,1-8)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

No capítulo 15 do evangelho de São João, que é o Evangelho de hoje, Jesus está com seus discípulos na intimidade da Última Ceia e Ele fala aquela belíssima parábola da videira e dos ramos. Essa parábola da videira e dos ramos é, digamos, uma espécie de tentativa de transmitir o que é a nossa vida com Cristo. Isso, que Jesus colocou na parábola da videira e dos ramos, São Paulo, mais tarde, na Primeira Carta aos Coríntios, vai falar do Corpo de Cristo, do Corpo místico de Cristo, ou seja, nós estamos tentando, através dessas comparações, transmitir para as pessoas o que é a Igreja.

É evidente que uma pessoa, a partir do batismo, foi inserida no Corpo místico de Cristo, ou seja, o batismo faz com que nós estejamos unidos à humanidade de Cristo, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus que se fez homem, e essa união nos torna filhos. Mas essa união que é dada no batismo é, de certa forma, incipiente. Ela está começando e precisa aumentar. Então, Jesus usa essa parábola para entendermos como deve aumentar a nossa união com Ele.

Nosso Senhor usa a comparação da purificação, ou seja, da poda da videira. Podar videiras para nós, brasileiros, é algo meio distante da nossa cultura. Como a maior parte dos brasileiros não lida com o cultivo da videira, precisamos antes entender como isso funciona. A videira é uma planta que, se não for podada, na próxima safra ela produz cada vez menos frutos, até que chega ao ponto de produzir somente folhas. Aqui está a realidade: é necessário podar a videira, pois não é possível que a videira dê frutos sem poda. As pessoas que viviam na época de Jesus sabiam perfeitamente disso. Nós, porém, precisamos ser recordados: “Se não houver poda, não há fruto. Não é que talvez produza menos frutos, não. A coisa vai definhando até que desapareçam os frutos”.

E o fruto o que é? São os atos de amor, os atos de caridade, porque Deus é amor, e nós, unidos a Ele, precisamos amar também. Como é que vamos ser podados? Como nós, que somos membros do Corpo de Cristo, que somos ramos dessa videira, como iremos fazer parte cada vez mais íntima dessa vida divina, para que essa vida divina produza em nós frutos? Jesus diz uma frase que deixa tudo claro: “Vós já estais podados, já estais purificados pela Palavra que eu vos dei”. Então, é a Palavra de Deus. Nós precisamos estar em permanente contato com a Palavra de Deus através da oração, de tal forma que ela vai purificando o nosso interior. Esse é o processo transformador.

Em resumo, os ramos precisam seguir o mesmo trajeto da videira, que é Cristo. Ele foi crucificado para ressuscitar. Nós precisamos também ser crucificados, e nossa crucifixão é nesse contato constante com a Palavra de Deus para que, então, possamos matar o homem velho, e acabar com o egoísmo que cresce em nós.

Essa poda do nosso egoísmo, contínua e constante, verifica-se depois na prática quando vivemos a fé, em contato com a Palavra de Deus. Mas, para que essa vida de oração seja verdadeira e autêntica, precisa apresentar frutos de amor, passamos a amar como Jesus amou, dando a vida pelos seus amigos. Retribuímos o amor de Cristo, amando os irmãos.

* * *

Jesus, a videira verdadeira (Jo 15,1-11). — Propõe-se primeiro uma imagem alegórica (v. 1s); depois, aplica-se aos discípulos (v. 3s); por último, descrevem-se as consequências de estar unido a Cristo ou separado dele (v. 5): esterilidade e punição (v. 6), realização dos próprios desejo e frutificação (v. 7s), amor (v. 9s) e alegria mútua (v. 11).

a) Imagem. — V. 1. Eu sou a videira verdadeira (ἡ ἄμπελος ἡ ἀληθινή), i.e., a videira genuína, perfeita, verdadeiramente digna do nome (opõe-se à videira imperfeita, e não à falsa), pois de um modo superior e mais perfeito (embora espiritual) do que a videira natural aos sarmentos, alimento pela fé os homens a mim unidos. — E meu Pai é o agricultor (ὁ γεωργός), i.e., o vinicultor, pois foi Ele quem plantou e cultivou esta videira, mas sobretudo porque cuida dos sarmentos.

V. 2. Ao viticultor cabe arrancar os ramos inférteis e purificar os frutíferos, cortando-lhes as extremidades inúteis, para que aproveitem ainda mais da seiva. É o Pai quem exerce tal função nesta vinha mística: Todo ramo que em mim não dá fruto, Ele o corta (αἴρει, tolhe, tira, arranca), e todo ramo que dá fruto, Ele o limpa (καθαίρει, purga, purifica), i.e., aos ramos que não dão o fruto das boas obras (a saber, aos cristãos só de nome) o Pai deixa de comunicar graças eficazes nesta vida e, na futura, os exclui da comunhão com Cristo. — Por limpar entendem alguns “provar com tentações, adversidades”, enquanto outros, como Maldonado, o interpretam como “assistir mais”, o que sucede não só quando se é provado pelas tentações como, muito mais, quando se é cumulado de maiores graças, por isso dá mais fruto ainda.

b) Aplicação aos discípulos (v. 3s).Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei, i.e., graças à doutrina que em todo o tempo de minha pregação vos transmiti e confiei. A palavra de Cristo, come feito, purifica o intelecto dos erros e a vontade dos maus desejos (cf. Jo 6,63.68; 8,31; Rm 1,16; 1Pd 1,23). Para que conserveis esta pureza que já adquiristes, permanecei em mim, e eu em vós: esforçai-vos para tornar sempre mais íntima e mútua nossa união; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós [1], tornando-vos partícipes de minha vida [2]. Reitera a necessidade desta união por meio da mesma semelhança: Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo (i.e., se for arrancado da videira), assim também etc. “O permanecer, pois, em Cristo é a razão do dar fruto” (Santo Tomás de Aquino, Super Ioh. XV, l. 1).

c) Efeitos da união ou da separação (v. 5-11). — V. 5. Eu sou a videira e vós os ramos; aquele, portanto, que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto de santidade própria, de salvação das almas etc., porque sem mim (χωρὶς ἐμοῦ, separados de mim) nada podeis fazer na ordem sobrenatural, i.e., nada de meritório e conducente à vida eterna [3]; unido a Cristo, o fiel constitui com Ele como que um só princípio de operação sobrenatural, e assim é capaz de dar muito fruto.

V. 6. Ao contrário, quem não permanecer em mim (pela fé e pelo amor), será lançado fora como um ramo etc. Os sarmentos inúteis primeiro são cortados da videira, depois reunidos, amarrados em feixes e, quando secos, lançados ao fogo, pois não tem nenhuma outra utilidade [4]. Não por que buscar o sentido específico de cada uma dessas etapas, visto que muitos elementos do gênero parabólico servem mais para complementar e enriquecer a narrativa do que para transmitir uma doutrina. O sentido é: Os que não permanecerem em Cristo pela fé e pela graça serão punidos no fogo eterno. — No texto gr., os verbos será lançado e secará estão no aoristo (foi lançado, secou [já]), para indicar a certeza da ação a ser realizada; os restantes, serão recolhidos, lançados e queimados estão no presente pelo futuro, como é frequente neste sermão.

V. 7. Se, por outro lado, permanecerdes em mim (como dito acima) e minhas palavras permanecerem em vós (não só por memória, mas por afeto e observância), pedi o que quiserdes e vos será dado, i.e., vossas preces serão certamente atendidas, como se eu mesmo as fizesse, pois as preces dos discípulos, em virtude de sua união mística, são eo ipso preces do próprio Cristo [5]. Por sua vez, os bens de Cristo, em razão do mesmo princípio, são também dos discípulos, pois uma só e mesma seiva pervade, nutrindo-os, a videira e os ramos (cf. Jo 14,13).

V. 8. Esta união com Cristo é não só frutuosa para os discípulos, mas também gloriosa para o Pai: Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos; a glória do Pai, com efeito, está em que sejais meus discípulos e progridais continuamente em minha disciplina e em meu exemplo, a fim de que deis sem cessar frutos de santidade e de virtude; ἵνα (lt. ut) com subjuntivo (gr. φέρητε, lt. afferatis) e, ao mesmo tempo, também com o futuro (gr. γένησθε, lt. efficiemini) equivale muita vez ao infinitivo (= “Nisto meu Pai é glorificado, em dardes muito fruto e serdes meus discípulos”).

Notas

  1. Para alguns intérpretes, a cláusula e eu em vós tem sentido final: “Permanecei… para que também eu permaneça em vós” (condição sine qua non). — “O homem permanece em Cristo obedecendo, crendo, perseverando; Cristo permanece no homem iluminando, ajudando, concedendo a perseverança” (Santo Tomás de Aquino, Super Ioh. XV, l. 1).
  2. A locução μείνειν ἐν (40 vezes em Jo, 23 em 1Jo) é termo técnico com que João exprime a união íntima e perpétua dos fiéis com Cristo. Corresponde à fórmula paulina ἐν Χριστῳ.
  3. Com base nesta passagem defendem os teólogos, contra pelagianos, semipelagianos e outros, a necessidade da graça para qualquer obra boa, doutrina expressamente fundada neste texto pelo II Concílio Auriscano (528), cân. 7 (cf. D 180).
  4. “O lenho da videira, quando cortado, não tem serventia alguma para os agricultores nem se destina a qualquer arte fabril (cf. Ez 15,5); ao ramo só convém de duas uma: ou ser da videira ou ser do fogo” (Santo Agostinho, In Ioh., n. 3).
  5. “Permanecendo em Cristo, que podem querer senão o que convém a Cristo? Que podem querer permanecendo no Salvador senão o que é conforme à salvação” (Santo Agostinho, ibid., n. 4).

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