Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 8, 34–9, 1)
Naquele tempo, chamou Jesus a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la. Com efeito, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perde a própria vida? E o que poderia o homem dar em troca da própria vida? Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras diante dessa geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com seus santos anjos”.
Disse-lhes Jesus: “Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão não morrerão sem antes terem visto o Reino de Deus chegar com poder”.
Celebra hoje a Igreja um daqueles santos e Doutores que, com o exemplo de sua vida, foi luz que ilustrou o mundo e, com a sabedoria de sua doutrina, foi sal que conservou sua época: S. Pedro Damião. Nascido em Ravena na virada do primeiro para o segundo milênio, viveu S. Pedro Damião um dos períodos de maior crise para a Igreja. Na época, era comum que bispos e abades fossem nomeados pelas autoridades políticas, o que punha à cabeça de dioceses e mosteiros homens não só sem vocação, mas às vezes sem nenhum escrúpulo e decência. Aí tiveram origem aqueles terríveis escândalos que todos conhecemos. O próprio santo, abandonado ainda criança e criado por uma mulher envolvida com um sacerdote, o sentiu na pele logo cedo, vendo desde jovem a miséria de um consagrado a Cristo consagrar-se à impureza, infiel às mais sagradas promessas. No entanto, o seu irmão mais velho, Damião — de quem tomou o nome em agradecimento —, conseguiu provê-lo de uma educação adequada, preservando-o do ambiente em que vivia e abrindo-lhe as portas para uma vida edificante entre os monges cluníacos. As crises da Igreja, porém, não lhe permitiram dedicar-se apenas ao estudo e à contemplação, mas exigiram que ele saísse em combate para defender a honra e pureza da Esposa de Cristo. De dentro do claustro, escreveu o seu famoso Liber Gomorrhianus, onde denuncia sem meias palavras os gravíssimos pecados sexuais do clero e a completa impunidade com que viviam, debaixo dos olhos dos superiores, os mais indignos de se chamarem “religiosos”. O livro suscitou grande polêmica. Apesar de verem o acerto das denúncias, muitos homens de Igreja, como o Papa Leão IX, a quem fora endereçado o livro, pensavam tratar-se de um exagero. Algumas reformas, contudo, foram implementadas com certa eficácia. Eleito Papa o então abade de Monte Cassino, Frederico, S. Pedro Damião foi muito à revelia sagrado bispo e nomeado cardeal. Revestido assim de maior autoridade, o santo Doutor defendeu a validade, mas não a licitude, das ordenações simoníacas e, como legado pontifício, se opôs abertamente a que o imperador Henrique IV se divorciasse. Essa intensa vida diplomática, com que a Providência quis arrancá-lo por tanto tempo ao claustro para o maior bem da Igreja Católica, chegou ao fim em 1072, quando, acometido de uma violenta febre, expirou S. Pedro em um mosteiro de Faenza. Embora quase mil anos nos separem deste grande santo, as circunstâncias em que hoje vivemos não são muito diferentes das suas. Por isso, o seu exemplo de vida, austera e humilde, e a firmeza de suas palavras na defesa da fé e moralidade evangélicas são um estímulo para que também nós, sem medo dos poderes mundanos, estejam fora ou acampados dentro da Igreja, lutemos pela Esposa sem ruga de Nosso Senhor Jesus, contra a qual as portas do inferno e de sua diabólica lascívia jamais prevalecerão. — Que S. Pedro Damião nos assista neste combate e, por seus tantos méritos, nos alcance a graça da vitória contra o pecado e o espírito do mundo.
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