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Do Presépio até a Cruz: um Deus que triunfa no escondimento

Nós talvez nunca entenderíamos a noite de Natal se não a colocássemos lado a lado com o Calvário. Assista a esta cativante Mensagem de Natal do Pe. Paulo Ricardo e entenda como, do presépio até a cruz, a salvação de Deus acontece escondida sob a aparência do fracasso.

Texto do episódio
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Um casal procura lugar numa hotelaria. A mulher está grávida, mas não havia lugar para eles. Eles, então, vão até um estábulo. E ali ela dá à luz uma criança, envolta em faixas e colocada na manjedoura.

Um acontecimento banal e até infeliz, poderíamos dizer, porque, é claro, se eles tivessem ficado na casa deles em Nazaré, ainda que se tratasse de uma casa pobre, havia ali ainda um pouquinho mais de estrutura, havia ali pelo menos ao redor famílias amigas que poderiam amparar aquela mulher que dava à luz pela primeira vez.

E, no entanto, num lugar inóspito, num lugar de solidão, de frieza — frieza não somente climática, mas frieza humana , nasce aquela criança, numa pobreza muito maior do que seria de se desejar; e, no entanto, o Céu está alegre; e, no entanto, Deus exulta de alegria e envia mensageiros, uma multidão de anjos para cantar.

Mas por que Deus exulta de alegria naquela miséria, naquele presépio? Por que Ele exulta de alegria na pobreza e no aniquilamento?

Porque Deus é amor. Deus é amor, e o amor se inclina do alto do Céu para vir até a nossa miséria. Deus é amor, e o amor quer se doar, e a felicidade de Deus é se entregar, se doar a nós.

Nós talvez nunca entenderíamos a noite de Natal se não colocássemos lado a lado aquela noite com o Calvário. Sim, para entendermos o mistério do Natal, nós temos de ir 33 anos depois, para a cruz do Calvário, a fim de contemplarmos Deus que se aniquila e se rebaixa por amor a nós. No Natal, Deus se fez homem; mas, na cruz, Deus deixou de ser homem porque, como diz o profeta Isaías, o seu aspecto era terrível, e Ele estava tão deformado que não tinha sequer aparência de um ser humano (cf. Is 52, 14).

O mistério do Natal é o mistério de Deus que se aniquila. “Ele, sendo igual a Deus, não se apegou ciosamente a essa igualdade, mas se esvaziou a si mesmo” (Fl 2, 6-7): esvaziou-se — exinanivit, em latim; ἐκένωσεν (ekenosen), em grego —, fez-se homem para nos amar.

Esta é, pois, a lei de Deus na história humana: Ele triunfa escondido. A salvação de Deus acontece escondida na aparência do fracasso: no fracasso da cruz, mas também no fracasso daquela noite miserável, humanamente falando, que foi a noite do Natal. Nas portas batidas e fechadas na cara em Belém. Na solidão de uma virgem que dá à luz o seu primeiro filho, sem nenhuma assistência humana. No desconsolo de José, que tinha muito pouco a oferecer tanto a seu filho adotivo quanto a sua esposa. Ali, escondido no fracasso da Sagrada Família, estão o triunfo de Deus e a alegria do Céu.

Para que ficasse bem claro, Deus precisava revelar, precisava transmitir, precisava transbordar a sua alegria, enviando seus mensageiros, os anjos, para cantar: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados!” (Lc 2, 14), paz a essa humanidade que vive na luta, na luta de uns contra os outros ou, o que é pior, na luta de si consigo mesmo. Paz! Na noite de Natal, chega-nos a paz, o Príncipe da Paz. Naquela criança envolta em faixas encontra-se o Rei glorioso dos céus que veio nos salvar. “Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 10-11).

Esta salvação se manifesta, no entanto, através desta curiosa lei, a mesma por meio da qual Nosso Senhor pretende triunfar em nossas almas.

Talvez este Natal esteja bem diferente daquilo que você sonhava. Talvez seja um Natal de solidão, o Natal em que você não teve sequer coragem de montar a sua árvore de Natal, ou de montar o presépio; o Natal em que você talvez esteja cheio de dívidas; o Natal em que talvez, envergonhado, você não tenha presentes para dar aos seus filhos, a não ser um abraço ou um beijo; o Natal em que você esteja, pior, longe de seus familiares, e nem sequer um abraço e um beijo você lhes possa dar. Se é assim, no entanto, se o seu Natal está sendo um verdadeiro fracasso, saiba: você o está vivendo tal como ele foi vivido na primeira vez.

Talvez você não tenha tido a graça de, como aqueles pastores, escutar a sinfonia extraordinária de anjos que cantavam glória a Deus e paz aos homens, mas, mesmo na obscuridade da fé, esteja certo: o triunfo de Deus acontece no “fracasso”. Por isso, não se espante, se você segue a Jesus e a sua vida segue também os fracassos dEle. Porque a graça nos visita exatamente assim. Essa é a lei de Deus na vida de Cristo, na sua alma ao doar a graça, e é a lei de Deus também na história da Igreja.

Sim, quantas vezes páginas terríveis da história da Igreja nos fazem duvidar da assistência divina! Quando o pequeno barquinho da Igreja parece soçobrar, quando as ondas impetuosas invadem este barco, quantas vezes não nos pegamos perguntando: “Mas por que Jesus dorme? Por que Ele não vem em resgate da sua esposa? Por que Ele demora? Por que tudo parece fracassar?”

A resposta se encontra na vida de Cristo: se a Igreja é verdadeiramente Corpo Místico de Cristo, ela precisa seguir as leis do Corpo de Cristo. Do presépio até a cruz, o fracasso foi o caminho do triunfo. Não nos espantemos, pois, de ver a Igreja crucificada, ou até mesmo empobrecida e pequenina, envolta em faixas nesta noite de Natal. Se tantos fecham as portas rejeitando a Igreja, se ela recebe tanta indiferença, não nos espantemos. O triunfo da Igreja não virá de um modo humano, não virá através de um triunfo histórico, mas com a Igreja seguindo os passos do seu divino Esposo.

Somente assim este Natal será feliz, somente se crermos nisto. Se, no meio de tantos fracassos, de tanta miséria, de tanta confusão, de tanta perplexidade, de tanto escândalo, você erguer os olhos e, mesmo sem ver, abrir os seus ouvidos e, mesmo sem escutar, abrir o seu coração e acreditar que Deus se doa mais uma vez a nós. Na Eucaristia de que nós iremos participar na noite santa, quando a Hóstia divina se erguer nas mãos do sacerdote, mesmo na mais recôndita capela, na mais miserável e pobre das igrejinhas, quando aquela Hóstia se erguer, Deus estará transbordando o seu amor mais uma vez sobre a humanidade. Será Natal!

Sim, será Natal porque Ele estará conosco, será Natal porque não seremos abandonados, será Natal porque, embora o fracasso humano esteja aí abundante, existe uma alegria no Céu porque Deus se doa, e se doa à sua alma. Creia nisto!

Creia sim, mas não creia como uma espécie de autoajuda: “Ah, eu preciso crer, faz de conta que Deus se doou”. Não! Creia verdadeiramente! Porque no ato de fé você é visitado, no ato de fé Ele ressuscitado e triunfante toca você. Só assim o Natal será feliz.

Sim, os mensageiros de Deus anunciarão a felicidade, embora as páginas dos jornais não noticiem o triunfo da Igreja, embora as páginas dos jornais só tragam más notícias. Não parece, mas Ele está triunfando em cada ato de fé, em cada fiel que, apesar de tudo, diz: “Ele reina”, “Ele chegou, o Príncipe da Paz”.

Meu irmão, minha irmã, que a Virgem Maria lhe dê esta fé. Cante com os anjos a verdade invisível do triunfo de Deus e tenha um feliz e santo Natal do Senhor!

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