Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21, 1-4)
Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos e viu pessoas ricas depositando ofertas no tesouro do Templo. Viu também uma pobre viúva que depositou duas pequenas moedas. Diante disso, ele disse: “Em verdade vos digo que essa pobre viúva ofertou mais do que todos. Pois todos eles depositaram, como oferta feita a Deus, aquilo que lhes sobrava. Mas a viúva, na sua pobreza, ofertou tudo quanto tinha para viver”.
No Evangelho de hoje, Jesus, com olhar divino, volta-se para uma viúva que dá duas pequenas moedas como óbolo no Templo. O olhar de Cristo, sobrenatural, vê o coração daquela mulher e percebe que ela se entrega totalmente.
Nesse relato, está o grande mistério do que Deus pretende em nossas vidas e do que Ele quer de nós. Não interessa se somos grandes ou pequenos, ricos ou pobres, talentosos ou não; devemos entregar-nos por inteiro. Vemos nessa viúva a realização daquilo que era o sonho de Deus na profecia que Ele fizera a Israel, no Livro do Deuteronômio: “Shemá, Yisrael”, “Ouve, Israel: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração” (Dt 6, 4s). Deus quer um coração que se doe sem reservas, como quem diz: “Tudo que sou e tenho vos entrego, Senhor”.
No entanto, os profetas, ao longo dos séculos, lamentaram que o povo honrasse a Deus somente com os lábios, e não com o coração. Somos um campo de batalha: uma parte de nós quer ser de Deus, enquanto outra não quer se entregar. É esse conflito dilacerante o que Deus não quer para seus filhos e o que nós tampouco deveríamos querer. Contudo, olhamos para Deus como se Ele fosse nosso inimigo: não queremos nos entregar a Ele, mesmo sabendo que, com isso, nada perdemos.
Precisamos seguir o único caminho possível, que é o da pobreza espiritual. Santa Teresinha chamava-o de “Pequena Via”, essa ascese de diminuirmos de tamanho, porque, quanto menores nos fizermos diante de Deus, humilhando-nos e compreendendo o nosso nada, mais facilmente o sopro do Espírito Santo irá nos elevar para darmos a Ele todo nosso coração.
Se formos muito grandes e muito apegados às coisas deste mundo, Ele não nos erguerá nem nos tomará para si; por isso, precisamos nos desapegar. O óbolo da viúva é exatamente isso. Nesse gesto, ela mostra o desapego milagroso e sobrenatural que somente a graça de Deus, o Espírito Santo, é capaz de causar no nosso coração.
Como alcançaremos isso? Diminuindo de tamanho. Se formos ricos, soberbos espiritualmente, achando que somos importantes, nada acontecerá. Uma das dificuldades das pessoas que já largaram os pecados mortais é que, quando vão rezar, não se humilham diante de Deus e, ao invés de se aproximarem da verdade da própria miséria, elas se envaidecem de já não cometer pecados graves… O Espírito Santo, assim, nada conseguirá fazer em corações tão duros como os dos fariseus.
Por isso, peçamos a graça de ter o coração desta viuvinha, que, assim como o da Virgem Maria, era totalmente desapegado. Dessa forma, conseguiremos entregar-nos sem reservas, de modo que o nosso coração não fique dividido entre o Criador e as suas criaturas.
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