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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 16,15-20)

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.

Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

Celebramos hoje a Festa de São Marcos Evangelista. João Marcos era o seu nome e ele, segundo a tradição, está ligado àquela família que hospedou Jesus para realizar o Cenáculo. Ou seja, a família do evangelista João Marcos tinha uma casa em Jerusalém com um andar superior, e foi naquele andar superior que aconteceu a Última Ceia. Saindo de lá, terminada a Última Ceia, Jesus foi com os seus discípulos, cantando salmos, até uma outra propriedade da mesma família, no Getsêmani, no Horto das Oliveiras. O Horto das Oliveiras era uma pequena propriedade, um sítio que produzia azeitonas para fazer azeite, e foi ali, naquela propriedade, que Jesus viveu a sua agonia na noite de Quinta para Sexta-feira Santa.

Observando a prisão de Jesus, havia um menino. O evangelho de Marcos nos narra o fato de que o menino ouviu a movimentação dos guardas, enrolou-se num lençol e foi ver o que estava acontecendo. Marcos, então, seria esse menino anônimo do seu próprio evangelho que, observando a prisão de Cristo, é pego de surpresa pelos guardas, que o seguram pelo lençol, do qual ele se desprende e sai correndo.

Pois bem, esse menino que viu a prisão de Cristo é o segundo evangelista, o segundo evangelista que, no entanto, não foi Apóstolo. Era pequenino quando Jesus foi aprisionado; mas depois, quando os Apóstolos precisaram pregar o Evangelho pelo mundo, ele passou a ajudar o velho pescador, Pedro, que só sabia o seu aramaico rudimentar e precisava de um tradutor. João (nome hebraico) Marcos (nome grego) vinha de uma família cosmopolita, poderíamos dizer; ou seja, de judeus que tinham e guardavam suas raízes judaicas e aramaicas (João, “Yohanan”), mas também provavelmente pertenciam a essas comunidades judaicas da diáspora que falavam grego e liam a Bíblia através da tradução da Septuaginta, por isso chamava-se Μάρκος.

A tradição nos conta que Pedro adotou o pequeno Marcos como seu tradutor, o seu hermeneuta. Ouvindo o velho Apóstolo narrar suas lembranças, ele teve acesso aos acontecimentos fundamentais da vida de Cristo.

É interessante que, quando o Papa João Paulo II quis preparar o ano 2000, ele dedicou para o ano 2000, Ano da Santíssima Trindade, três anos preparatórios, para que nós estivéssemos assim em sintonia espiritualmente com aquele grande Jubileu: os anos de 97, 98 e 99. 97 foi o ano de Jesus, 98 o ano do Espírito Santo, 99 o ano de Deus Pai, e o ano 97, dedicado a Jesus, é o ano do evangelho de São Marcos, exatamente porque Marcos, mais do que os outros evangelistas, presta atenção na psicologia de Jesus.

Embora o Evangelho de Marcos seja muito breve, concentra-se nas reações emocionais e internas de Jesus: a sua tristeza, a sua alegria, o encher-se de compaixão, tudo aquilo que eram os movimentos da alma, do Coração de Jesus. Ali temos o atestado, a assinatura do velho Pedro, que foi testemunha ocular dessas realidades. Por isso, o Evangelho de Marcos traz palavras carregadas ainda do aramaico de Pedro, como no episódio da ressurreição da filha de Jairo, ocasião em que Pedro (um dos poucos presentes no local) ouviu aquelas palavras de Jesus: “Talita cum!”, “Menina, levanta-te!”; ou como na agonia, quando Pedro ouviu Jesus dizer: “Abba”, “Pai”. Aquilo ficou marcado, aquele “Abba”, em aramaico; ou como na cruz, quando Pedro narra o grito aramaico de Cristo: “Eloi, Eloi, lama sabactâni?”, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

Este é o Evangelho de Marcos e é este o grande santo que nós hoje celebramos, amigo íntimo de Pedro e, pela narrativa e testemunho de Pedro, o evangelista que nos coloca mais perto do Coração de Jesus.

* * *

De acordo com a doutrina católica, o segundo evangelho é obra de São Marcos e como tal é reconhecido e venerado desde os primeiros séculos do cristianismo. Nos livros do Novo Testamento, menciona-se com frequência certo discípulo dos Apóstolos chamado ora João (cf. At 13,5.13), ora João Marcos (cf. At 12,12.25; 15,37ss), ora simplesmente Marcos (cf. At 15,39; Col 4,10; Fil 24; 2Tm 4,11), o qual também é dito amigo e companheiro de Paulo em suas viagens apostólicas. A Tradição, sobretudo por meio de Papias (cf. Eusébio de Cesaréia, HE III 39, 15), a ele se refere e permite identificá-lo com o “filho caríssimo” cujas saudações transmite São Pedro, já em Roma, a várias comunidades cristãs (cf. 1Pd 5,13). É sentença comum que todas essas passagens se referem a uma única pessoa, designada com um dúplice nome, hebraico e latino: Yohanan Markos. Na época de Cristo, com efeito, o prenome romano Marcus já se havia vulgarizado em seu equivalente grego, Μάρκος, e é provável que o segundo evangelista fosse de cultura helênico-judaica.

Do pouco que a seu respeito nos chegou dos tempos apostólicos, sabemos que São Marcos era filho de certa Maria, a cuja casa Pedro se dirigiu após escapar do cárcere e na qual muitos fiéis costumavam reunir-se para rezar (cf. At 12,12). Parece, portanto, ter nascido em família de posses, o que lhe permitiu ser instruído em grego desde pequeno. Além disso, era primo do levita Barnabé (cf. Col 4,10; At 4,36) e, a julgar por alguns escritos do séc. IV, talvez ele mesmo tenha exercido o levirato. Seja como for, é certo que Marcos acompanhou Paulo de Jerusalém a Antioquia (cf. At 12,25), onde lhe serviu de auxiliar (cf. At 13 5b). No entanto, por algum motivo que os Atos silenciam, não quis seguir o Apóstolo até Perge, na Panfília, senão que decidiu retornar a Jerusalém (cf. At 13 13), razão por que Paulo não o admitiu mais como companheiro de ministério (cf. At 15,38). Por volta dos anos 49-50, viajou com Barnabé a Chipre e, pouco depois da primeira prisão de Paulo, reconciliou-se com o Apóstolo e voltou a ajudá-lo a pregar o Evangelho (cf. Col 4,10; 2Tm 4,11).

Também o vemos ao lado de Pedro, príncipe dos Apóstolos, em cuja epístola aos cristãos do Ponto, da Galícia e de outras regiões lemos o seguinte: “A igreja escolhida de Babilônia” (ou seja, de Roma) “saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho” (lt. filius meus, gr. ὁ υἱός μου), isto é, “aquele a quem muito quero”, “meu auxiliar no apostolado” ou “que foi batizado por mim”. Estas palavras de Pedro parecem confirmar o constante testemunho da Tradição de que Marcos foi discípulo, intérprete e tradutor do primeiro Papa, cuja doutrina tratou de compilar e transmitir o mais fielmente possível a todos os que haviam de ler o seu evangelho, escrito em cores tão vivas e reais que apenas uma testemunha ocular e apaixonada como Pedro seria capaz de descrever. De fato, uma das características mais chamativas do II Evangelho são as descrições psicológicas de Cristo, tão humanas e ao mesmo tempo tão divinas: sua tristeza, sua alegria, sua angústia, sua compaixão etc.

As demais circunstâncias da vida de Marcos são incertas. Alguns autores opinam que o segundo evangelista foi um dos 72 discípulos do Senhor, o que está em desacordo com o testemunho de Papias: “Marcos […] nem ouviu nem seguiu o Senhor” (Neque enim audiverat Dominum neque eum sectatus fuerat). Há ainda quem pense ser Marcos o adolescente de que se fala em Mc 14, 1. Por fim, autores como Eusébio (cf. HE II 16), São Jerônimo (cf. De vir. ill. 8) e outros afirmam que foi este evangelista quem fundou a igreja de Alexandria; não se sabe porém quando, senão depois da morte de Pedro (67 d.C.), isso teria acontecido.

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