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Texto do episódio
02

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 12,38-44)

Naquele tempo, Jesus dizia, no seu ensinamento, à multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.

No Evangelho de hoje, Jesus, com o seu olhar que observa e vê o coração das pessoas, narra o grande mistério do óbulo da viúva. Somente o olhar de Jesus, que conhece os corações, seria capaz de enxergar aquele gesto. Ele diz: “Muitos ricos depositaram grandes quantias. Chegou a pobre viúva e deu duas pequenas moedas. Em verdade vos digo: essa pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram o que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver”.

Nós costumamos chamar esse Evangelho de “evangelho do óbulo da viúva”, quando o deveríamos chamar de “evangelho do holocausto da viúva”. Ela deu tudo, pois é isso que quer dizer a palavra “holocausto”. Este Evangelho nos ensina que o valor do sacrifício não está ligado à dificuldade de realizá-lo ou à quantidade, fisicamente falando, mas ao amor, à totalidade do amor com que amamos.

Deixe-me explicar os conceitos que estão por trás disso. Primeiro, sacrifício. A palavra “sacrifício”, para nós, é palavra negativa. Vemos nela a ideia de dor, de uma coisa insuportável, de uma coisa terrível. No entanto, não é esse o significado profundo da palavra “sacrifício”. Mesmo que os seres humanos nunca tivessem pecado, o sacrifício seria necessário. Explico: Deus criou Adão e Eva para que eles, crescendo e se multiplicando, dominassem o mundo e, a partir disso, o entregassem a Deus em sacrifício.

Então, o que é sacrifício? Vamos definir: sacrifício é pegar algo bom e entregá-lo a Deus como um ato de amor. Então, esse é o conceito originário de sacrifício. Deus nos criou para sacrificar, eis a razão de ser da nossa vida. Não é que o sacrifício seja um adereço. A razão de ser de nossa vida é sacrificar, ou seja, é dominar a nós mesmos e ao mundo e, sendo “dominus”, senhor disso tudo, entregá-lo a Deus.

Infelizmente, pelo pecado, nós que deveríamos ser “domini”, senhores, nos tornamos escravos. Começou um principado; o príncipe deste mundo começou a ter domínio sobre nós, seres humanos. Ou seja: a maldade, o pecado, o diabo começaram a dominar, e nós nos tornamos escravos — escravos do diabo, escravos dos nossos próprios pecados.

Então, o que era a razão de ser da nossa vida, sacrificar por algo bom, tornou-se mais difícil, porque a nossa escravidão não nos dá domínio para entregar. Nós temos medo de entregar; nós, miseravelmente, como Eva, olhamos para os bens e queremos pegá-los para nós, ao invés de alegremente os sacrificar.

Deus quer nos dar a graça de nos libertarmos disso tudo para então nos entregarmos em sacrifício. Jesus, que veio nos dar esta libertação — a liberdade da graça —, vê naquela pobre viuvinha alguém dócil à graça de Deus. Sim, aquela mulher era pobre, sim, materialmente falando; mas era riquíssima, de uma liberdade interior que só podia ser efeito da graça e da bondade de Deus.

Somente Deus pode fazer cair no chão os grilhões de nossas escravidões, de nossos apegos, de nossos medos, de nossas misérias. Somente Deus pode fazer com que a Eva desordenada — que está dentro de nós, agarrada a esta vida e aos seus bens —, solte alegremente tudo a que se apegou e a faça entregar, sacrificar, oferecer. 

Deus quer realizar essa vitória em nossos corações. Ele realizou essa vitória de forma prodigiosa no coração de uma Mulher, da nova Eva, a Virgem Maria, que soube sacrificar. Que ela gere em nós corações assim também, para que, dóceis à graça de Cristo, possamos entregar, sacrificar e nos libertar.

Um instrumento maravilhoso para crescer em desapego é o que nós chamamos de consagração total à Virgem Maria. Consagração total quer dizer isto: pela graça que Deus nos dá e pela Virgem Santíssima, vamos entrando na escola da entrega total, na escola da viuvinha, que é a escola de dar o pouco, mas o pouco que é o nosso tudo. Dar tudo a Deus, “totus tuus”, pelas mãos santíssimas e do Coração Imaculado da bem-aventurada Virgem Maria!

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