Com grande alegria, celebramos hoje a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Para nossa Paróquia Cristo Rei, de forma especial, esta alegria transborda do Céu . Para nós, hoje é dia de indulgência plenária, dia de recebermos os tesouros de Nosso Senhor que reina. Somos filhos do Rei, somos príncipes, porque participamos da glória de seu reinado.
Mas o que é celebrar a Festa de Cristo Rei? Quando a instituiu, o Papa Pio XI tinha em vista um problema histórico muito concreto. O fato de que no século XX manifestaram-se os poderes políticos mais anticristãos de toda a história da humanidade. Nem mesmo nos tempos do imperador César Augusto, em que os cristãos eram levados para serem torturados, jogados aos leões, crucificados e queimados vivos, os regimes políticos eram tão anticristãos como agora.
Alguém pode dizer: “Mas, padre, como assim? Aqui no Brasil não estamos sendo jogados às feras. Naquele tempo era pior!” Mas quero deixar uma pergunta para abrir os seus olhos: o que é pior? Perder o corpo ou perder a alma? Antes, havia um regime político que derramava o sangue de milhares de cristãos. Porém, com essa perseguição física, inadvertidamente esses governos abriram as portas do Céu para uma multidão de santos e de mártires. Agora, temos regimes políticos mais cruéis, que se especializaram em amordaçar a pregação do Evangelho. A evangelização está se tornando proibida e criminosa, e isso de tal forma que, enquanto os pregadores do Evangelho não podem pregar, os loucos, os insensatos, os ímpios e os maus recebem as maiores cátedras, os mais destacados púlpitos, a maior disponibilidade de meios para inocular o seu veneno. Deste modo, milhões, talvez bilhões de almas estão se precipitando no abismo, sendo condenadas ao Inferno para todo o sempre.
É importante partirmos do Evangelho de hoje (Mt 25, 31-46), que nos diz com toda clareza: o Inferno existe. Não é uma “criação medieval”. Há uns dez ou 15 anos, eu e o Padre Overland recebemos em casa um sacerdote amigo. Em um determinado momento da conversa, esse padre disse algo a que o Padre Overland respondeu: “Pelo amor de Deus, não podemos fazer isso, senão vamos terminar no Inferno.” O nosso amigo então reagiu: “Inferno? Mas que ideia medieval!”
Meus queridos, o Evangelho de hoje não foi escrito na Idade Média, mas no tempo dos Apóstolos! Foi o próprio Jesus quem lhes contou essa parábola, na qual diz que virá para julgar os vivos e os mortos. Parafraseando Santo Tomás de Aquino, temos a seguinte lição sobre essa parábola: por que o Evangelho começa com a expressão “Quando o Filho do Homem vier em sua glória… então se assentará em seu trono glorioso.”, em vez de dizer “Quando o Filho de Deus…”? Porque o julgamento é para todos, mas os condenados ao Inferno não conseguirão ver o Filho de Deus, mas somente um homem de carne e osso, ainda que resplandecente em majestade, revestido da glória divina. E isso se dará porque os maus nunca verão a face de Deus, não verão a Trindade face a face, a plenitude da glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo — a visão beatífica é algo reservado àqueles que alcançarão a vida eterna no Céu. Os maus poderiam ter visto a Deus, mas não tiveram fé, recusaram-se a ver Deus em Jesus.
Portanto, o Evangelho de hoje nos diz que o Inferno existe, e que Deus o preparou para Satanás e seus anjos e também para os ímpios, enquanto admitirá os bons no Reino da Glória. Essa verdade precisa brilhar, porque isso é o mais importante. A Igreja precisa ser livre, precisa ter a liberdade política para pregar isso, para dizer aos oito bilhões de pessoas neste planeta, em todos os povos e lugares: “O Reino de Deus está próximo, convertei-vos! ‘Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.’ (Mc 16, 16)”. Esta é a pregação da Igreja, a lição do Evangelho de hoje: o Inferno existe e as pessoas estão caminhando para lá.
Desde o século XX, a Igreja vem sendo cada vez mais limitada por poderes totalitários. O Império Romano era uma ditadura horrível. Napoleão estabeleceu uma tirania tremenda. Os regimes ditatoriais foram piorando ao longo dos séculos. Mas uma coisa é ser governado por um tirano; outra, ainda pior, é viver sob um regime totalitário, da forma como vimos surgir no último século, e que está em plena ascensão agora.
Mas afinal, o que são esses regimes totalitários? São aqueles em que o Estado, o poder político, tem a intenção de mandar em todos os aspectos da vida. Não é um governo que se dá por satisfeito em promover infraestrutura, saneamento básico, segurança pública, saúde. É um governo que age para mandar nos pensamentos, que quer governar aquilo que pode ou não ser dito, por exemplo.
Nos regimes totalitários, existe crime de opinião, e as coisas são arranjadas de tal maneira que as pessoas sentem-se até mesmo culpadas de ter aquela opinião proibida. É um regime em que nos sentimos vigiados o tempo todo, em que nos policiamos por não podermos dizer certas coisas. Nesses regimes, a arte, a música, a pintura, a dança, cada novela e cada filme — tudo isso — deve ser restrito e guiado por um pensamento ideológico único, próprio da ordem estabelecida pelo Estado. É uma realidade em que também a educação dada aos nossos filhos nas escolas e universidades segue uma mesma linha, controlada pelo regime. No totalitarismo, não existe mais o direito de ir e vir, e a liberdade de expressão sofre a mais terrível censura.
No início do século XX, vendo a ascensão desse tipo de regime que queria tomar o lugar que é próprio da cultura, da Igreja, do espírito e da liberdade, amordaçando a todos, o Papa Pio XI então instituiu a Festa de Cristo, Rei do Universo. Jesus quer verdadeiramente reinar no universo, na totalidade das coisas! Jesus quer reinar sobretudo em todos os corações, e por isso um regime político que tem essa mesma pretensão está querendo tomar o lugar que é próprio de Deus.
Jesus é Deus. Ele é Senhor e Rei. É Cristo quem deve, com a pregação e o convite do Evangelho, ir transformando os corações. Jesus deseja que nós, pregadores, e que você, cristão, dando testemunho em nosso trabalho, na escola, em todos os lugares, espalhemos essa Boa Nova. É assim que iremos nos entregar a Cristo e Ele entregará a Deus a totalidade do universo.
Em contraste, o que temos nos regimes totalitários, ainda que seja um “totalitarismo soft” como o que vivemos no Brasil? Temos um regime de domínio dos maus. E não estamos nos referindo somente ao governo! É toda uma forma de pensar que tomou conta da cultura, na qual a evangelização tornou-se algo mal visto. Por exemplo, se você trabalha numa repartição pública e pegar o seu terço, ou colocar uma imagem de Nossa Senhora em sua mesa, expressando a sua fé católica, será considerado “invasivo”, e logo alguém virá lhe repreender dizendo que “o Estado é laico”. No entanto, se o colega ao lado pregar em sua estação de trabalho um cartaz comunista, ou do MST, se pendurar uma bandeira gay, algo relativo à ideologia de gênero e todo tipo de atitude anticristã, neste caso o Estado (e as pessoas) não dirá nada.
No ambiente cultural da ditadura totalitária existem dois tipos de cidadãos: uma elite com plenos direitos, um pequeno grupo de ateus, materialistas, anticristãos, satanistas, daqueles que desejam desconstruir a cultura e a moral. É esta elite que tem o direito de se manifestar nas cátedras universitárias, nos meios de comunicação, nas tribunas parlamentares, nos discursos do Executivo e nas decisões do Judiciário. São eles que possuem o direito de advogar, de defender as suas causas e o seu pensamento. Graças a Deus, ainda não são a maioria do Brasil, mas conforme descrevemos, eles constituem uma pequena parte da população que mantém amordaçada a escória, aquele tipo menor de cidadãos: a maioria cristã. Uma maioria amordaçada, muda, que não tem mais o direito de se manifestar plenamente.
Os ideólogos podem dizer que o gênero é uma construção opressora de uma sociedade homofóbica, e que temos direito de escolher qualquer gênero, alegando que isso é científico. Mas nós, cristãos, não temos direito de contestar, dizendo: “Olha, para mim está claro que homem é homem e mulher é mulher. Eu não preciso de ‘pesquisas científicas’ para dizer isso, é algo que basta olhar, na realidade, para constatar.” Nós não temos o direito de dizer isso, mesmo mostrando que a verdadeira ciência está do nosso lado, pois, se o fizermos, perderemos cargos políticos, seremos perseguidos judicialmente, não teremos espaço na mídia ou na esfera pública.
Somos uma maioria de cristãos amordaçados, enquanto a minoria de militantes revolucionários implantam e estão à frente de um regime totalitário. Eles têm o poder. Por isso, celebrar Cristo Rei é declarar: “O poder é de Cristo! Convertam-se e creiam no Evangelho, porque o lugar de quem pensa como vocês, revolucionários e totalitários, será do lado dos cabritos e dos bodes, e não das ovelhas e dos carneiros.”
Santo Tomás de Aquino também nos explica por que naquela parábola Nosso Senhor colocou à direita as ovelhas boas que vão para o Céu, e à esquerda os cabritos que irão para o Inferno. A razão é muito óbvia: as cabras e bodes são animais “sem propósito”, agressivos, que se lançam nos abismos e possuem um grande apetite sexual. Ou seja, os cabritos e bodes são agressivos, “entregues às paixões”, e tomam atitudes despropositadas, lançando-se nos abismos e nas montanhas — não têm a mansidão, a pureza e a obediência das ovelhas.
Peçamos a Deus Nosso Senhor que não cometamos a loucura de nos lançar nos abismos. O nosso país, por vocação divina, é uma nação cristã, a Terra da Santa Cruz. Nós, cristãos, ainda somos maioria no Brasil, ainda que não tenhamos o direito de traçar os rumos do país, amordaçados pela cultura totalitária progressista que nos proíbe de pregar devidamente o Evangelho. Por isso, a democracia está com os dias contados e o regime espera que nós, como uma manada, simplesmente nos adequamos a esse pensamento totalitário, ou então seremos preparados para o abate.
Hoje, professamos a nossa fé em Cristo, Rei do Universo. E para que Ele reine no Brasil, é necessário que nós, brasileiros, deixemos que Ele reine em primeiro lugar nos nossos corações. Quem deve se converter primeiro sou eu! Para que Cristo reine no Brasil, Ele deve reinar antes em meu coração, em minha casa, na Paróquia Cristo Rei, nos paroquianos que se confessam e vêm à Missa. Devemos ter a consciência de que quando cometemos pecados graves, quando desobedecemos a Cristo, estamos saindo do lado das ovelhas e nos precipitando no abismo com os cabritos. Nós precisamos da Graça de Deus, da conversão! E depois de entendermos que precisamos nos converter, então devemos exercer a profunda e suprema caridade de ir convertendo as pessoas.
Nós ainda temos certa liberdade de evangelizar no Brasil, e devemos aproveitá-la. Podemos abordar aquelas pessoas mais dóceis — em vez de ir confrontando logo os militantes delirantes. Ao nos aproximarmos dessas pessoas mais predispostas à conversão, devemos aos poucos ir abrindo seus olhos, evangelizando, mostrando vídeos que respondem às suas dúvidas, levando-as à Igreja, ajudando-as a viver bem.
Está próximo de nós o Tempo do Advento. O Natal é um período muito propício à evangelização, época em que sentimos o Espírito Santo agindo nas almas, amolecendo os corações mais duros, ungindo com óleo e abrandando as feridas mais chagadas.
Neste Advento, faça seus propósitos de Missa e comunhão diária, prepare sua penitência, traga novas pessoas para a Igreja. É kairós, é tempo de Deus para anunciarmos a Boa Notícia de Jesus, entronizando Cristo como Nosso Rei e, consequentemente, como Rei do Brasil. Deste modo, conseguiremos deter essa cultura totalitária que anseia por criminalizar a nossa fé.
Ao evangelizar, que não nos prenda o fato de termos ou não a habilidade para pregar. Ainda que não o saibamos, todos são capazes de convidar para ir à Missa ou a um evento na paróquia. Todos podem rezar o Terço com alguém, juntar alguns amigos e levar uma imagem de Nossa Senhora à casa de uma pessoa afastada. Muitas dessas pessoas voltam justamente porque a Igreja foi até elas. Façam uma novena de Natal! Não é preciso se preocupar com o texto, basta levar a imagem de Maria Santíssima e dizer: “Nossa Senhora está grávida e nós queremos acompanhá-la. Vamos rezar um Terço!” É assim que todos podemos ser missionários, crendo no poder da intercessão que faz muitos voltarem para a Igreja.
Muitas vezes ficamos paralisados porque já tentamos evangelizar e não deu certo. Alguns já tentaram evangelizar a sua casa, mas o marido ou a mulher se fechou, os filhos não quiseram ouvir — porque não foram corretamente educados na fé desde pequenos. Mas devemos nos lembrar de que Deus geralmente nos faz instrumentos de evangelização na casa dos outros. Lembre-se de que “ninguém é profeta na própria terra”. É recorrente que, evangelizando a casa dos outros, em sua divina misericórdia, Deus providencie que alguém faça isso em nossa casa. Em nosso lar, devemos ser exemplos de virtude cristã: sendo sorridentes, amigos, simpáticos, dóceis, amorosos, cheios de perdão e de paciência. Devemos ser o Cristo em nosso lar! Podemos também experimentar trazer outras pessoas para a nossa casa: assim como vamos rezar o Terço na casa dos outros, podemos trazer outras pessoas para rezar em nosso lar.
Peçamos as luzes do Espírito Santo neste tempo especial, de grande conversão. Nós temos um mês para entregar a Jesus um coração melhor. Conquistar e entregar pessoas, para que o Cristo Rei Nosso Senhor reine em nossos corações e, assim, reine em todo o universo. Esta é a única forma de nos opormos à cultura totalitária e anticristã. Que o Rei do Universo viva e reine verdadeiramente em nossas vidas, para que possamos dizer como aqueles mártires cristeros do México: “Quem vive? Cristo Rei. É Ele que vive. Viva Cristo Rei!”
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