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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Se Deus é, por essência, imutável, que sentido tem dirigir-lhe orações e súplicas? Afinal, se a oração consiste em elevar a mente a Deus para pedir-lhe o que nos falta, mas Ele não irá mudar de vontade nem de parecer, rezar não seria uma atividade, não já ociosa, mas carente de sentido? Para responder a essa dúvida, convém estabelecer, junto com S. Tomás de Aquino (cf. STh II-II 83, 2), os seguintes princípios:

Deve-se considerar que a divina Providência não se limita a dispor que efeitos se hão de produzir, mas também por que causas e em que ordem acontecerão. Ora, entre as causas, os atos humanos são também causas de certos <efeitos>. Por isso, é necessário que os homens realizem certas coisas, não para alterarem por seus atos a disposição divina, mas para cumprirem por eles certos efeitos, segundo a ordem disposta por Deus. E se isso acontece nas causas naturais, algo semelhante se deve dizer também da oração. Com efeito, não rezamos para alterar a disposição divina, mas para impetrar o que Deus dispôs que se haveria de realizar pela oração dos santos, ou seja, a fim de que “os homens, implorando, mereçam receber o que Deus, desde a eternidade, dispôs conceder-lhes”, como diz S. Gregório no livros dos Diálogos.

E nas respostas às objeções, acrescenta o Doutor Angélico:

[…] não é necessário dirigir a Deus nossas preces para lhe manifestarmos nossas indigências e desejos, mas para que nós mesmos consideremos que, nestes casos, devemos recorrer ao auxílio divino.
[…] a nossa oração não tem por fim alterar a disposição divina, mas obter, por nossas preces, o que Deus dispôs <conceder-nos por elas>. 
[…] Deus nos concede muitas coisas por sua liberalidade, mesmo que não as peçamos. Mas que Ele queria conceder-nos outras se as pedirmos, isto é para a nossa utilidade, ou seja, para termos confiança de recorrer a Deus e para reconhecermos que Ele é o autor de nossos bens. Por isso diz S. João Crisóstomo: “Vê quanta felicidade te foi dada, quanta glória te foi atribuída: falar a Deus em oração, conversar com Cristo, aspirar ao que queres, pedir o que desejas”. 

A oração, por conseguinte, não é um “recurso mágico” pelo qual se busca torcer nesta ou naquela direção, ao gosto de cada fiel, a vontade de Deus, senão que é parte da disposição providencial pela qual Ele quer que o homem coopere, como causa segunda e subordinada, com a realização de seus próprios planos. É o que diz o Catecismo da Igreja Católica, onde se lê: “A oração cristã é cooperação com sua Providência, com seu plano de amor para com os homens” (§ 2738).

Deus tem disposto e preordenado, em seus eternos desígnios, qual e como cada efeito se há de produzir na ordem criada, e a oração é um dos meios em virtude dos quais, servindo-se da livre cooperação dos homens, Ele quer que determinados efeitos se produzam. Não se trata nem de determinismo nem de uma deficiência do governo divino.

Não é determinismo, porque Deus, embora queira dar-nos certo bem, não o fará à força, mas sob condição: “Quero dá-lo, se mo pedir em oração”, nem de uma deficiência do governo divino, porque Ele poderia muito bem ter determinado que o daria, com ou sem a nossa cooperação: “Quero dá-lo, mesmo que não mo peça”. Tanto em um caso como em outro, Deus permanece absolutamente soberano e a sua vontade, infalível: soberano, porque tudo sucede conforme seus desígnios; infalível, porque não é a vontade divina que se frustra quando não nos dá o que queria: somos nós que deixamos de cumprir a condição sem a qual não nos seria dado.

Isso tampouco nos deve fazer pensar que Deus esteja sempre vinculado às condições por Ele mesmo estipuladas. Se é verdade que Ele não irá conceder o que condicionou à nossa oração, nem por isso ela constitui, em si mesma, um requisito necessário para que Deus realize seus planos. Nada impede, com efeito, que, além da nossa oração, Deus tenha condicionado a concessão de certo bem ou a outra circunstância ou à oração de outros. É o que vemos no Livro de Ester, por exemplo. Quando diz que Ester fora enviada por Deus para salvar o povo, Mardoqueu faz questão de reparar que, mesmo que ela se calasse, a salvação viria aos judeus de outra parte (cf. Es 4, 14).

Eis o grande mistério das disposições divinas, que dão ao homem a honra e a oportunidade de participar livremente de sua execução, embora a sua rebeldia e obstinação não possam jamais frustrar os desígnios eternos da santíssima vontade de Deus. A nós, pois, o que cabe fazer? Pôr em prática, com dócil obediência, o conselho do divino Mestre: “É necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18, 1).

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