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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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É verdade que Jesus está fisicamente presente na Eucaristia? É a dúvida de alguns alunos do nosso site que, dada a insistência com que se procura falar do assunto nas homilias diárias, começaram a questionar-se sobre o sentido exato da expressão “fisicamente”. Para responder a esta pergunta, deve-se ter bem claro, antes de mais nada, que, segundo a doutrina católica, Jesus se faz realmente presente na Eucaristia pela transubstanciação, isto é, pela conversão de toda a substância do pão e do vinho em seu próprio Corpo e Sangue, permanecendo unicamente as espécies, quer dizer, os acidentes do pão e do vinho [1].

O modo dessa presença, portanto, é real e corresponde, como não poderia deixar de ser, ao tipo de presença de um corpo humano, a saber: histórico, objetivo e corporal, guardadas as devidas proporções. Por isso, o termo “fisicamente” pretende salientar, por contraste, que a presença de Cristo na Eucaristia não é simbólica nem apenas espiritual. Ora, se na Eucaristia estão presentes o Corpo e o Sangue de Cristo, é evidente que essa presença difere tanto da presença “moral” de Jesus em nossos corações, quando dele nos lembramos, como de sua presença espiritual, pela inabitação trinitária. Trata-se, antes, de uma presença concreta e substancial.

Para entendê-lo melhor, convém recordar, também segundo a doutrina católica, que, por força das palavras sacramentais da consagração, é somente a substância do Corpo que se contém sob a espécie de pão, e que é somente a substância de seu Sangue que está contida sob a espécie de vinho [2]. Essa substância, que ali está presente, é algo real e físico, o que não quer dizer que seja empírico, no sentido de ser detectável pelos sentidos ou por instrumentos de laboratório.

E isso, que na Eucaristia é um verdadeiro milagre, na medida em que os acidentes eucarísticos permanecem suspensos no ar e sem sujeito depois da consagração, desaparecidas as substâncias do pão e do vinho, não é contudo algo tão alheio à nossa experiência ordinária. A razão disto é que nós, de fato, não temos acesso sensorial e imediato à substância de nenhuma realidade, mas apenas às suas determinações acidentais e, de modo particular, àquelas que são capazes de afetar os nossos sentidos. A substância do que quer que seja é “sensível” apenas em sentido impróprio, pois o que percebemos são os acidentes (cor, cheiro, sabor, rugosidade etc.), que inerem na substância como em algo que as sustenta e lhes confere unidade.

Por este motivo, não há inconveniente algum em dizer que a presença de Cristo na Eucaristia é real, por ser substancial, e que é física, sem por isso ser empírica. Na Eucaristia, por conseguinte, o que os nossos sentidos atingem são as aparências de pão e de vinho, ou seja, os acidentes, que, antes da consagração, eram propriedades destas realidades, mas que, depois da consagração, permanecem sem inerir no Corpo e Sangue de Cristo graças à ação de Deus. Na hóstia consagrada, temos acesso real à substância do Corpo de Cristo, cujo tipo de presença não pode ser senão físico; e, no cálice consagrado, podemos verdadeiramente receber a substância do Sangue de Cristo, cujo tipo de presença, mais uma vez, não é outro senão físico.

Pela transubstanciação, em resumo, 

[…] as espécies do pão e do vinho tomam nova significação e nova finalidade, deixando de pertencer a um pão usual e a uma bebida usual, para se tornarem sinal de coisa sagrada e sinal de alimento espiritual; mas só adquirem nova significação e nova finalidade por conterem nova realidade, a que chamamos com razão ontológica. Com efeito, sob as ditas espécies já não há o que havia anteriormente, mas outra coisa completamente diversa: isto não só porque assim julga a fé da Igreja, mas porque é uma realidade objetiva, pois, convertida a substância ou natureza do pão e do vinho, no Corpo e no Sangue de Cristo, nada fica do pão e do vinho, além das espécies; debaixo destas, está Cristo completo, presente na sua realidade física, mesmo corporalmente, se bem que não do mesmo modo como os corpos se encontram presentes localmente (Paulo VI, Encíclica “Mysterium fidei”, de 3 set. 1965, n. 48).

Com relação à última afirmação do Papa Paulo VI, também não é demais notar que, justamente por ser substancial, a presença do Corpo e do Sangue de Cristo não equivale, sem mais, à presença de outras realidades corporais, apesar de não ser menos física do que elas. Assim, na Eucaristia Jesus está real e fisicamente presente, embora não ocupe o que se costuma chamar de “lugar circunscrito”, isto é, prescindindo por completo da extensão e do espaço. É verdade, pois, que Jesus está na Eucaristia, mas de uma forma completamente distinta de como ali estão presentes as espécies eucarísticas: estas estão presentes localmente num espaço determinado, “ocupando o lugar correspondente à quantidade ou extensão das mesmas” [3]; Jesus, porém, está ali substancialmente, presente todo inteiro, sem ocupar lugar algum, em cada um dos fragmentos da Eucaristia.

Eis aí um dos aspectos deste mistério tremendo, deste “modo de presença que supera as leis da natureza e constitui no seu gênero o maior dos milagres” (Paulo VI, op. cit., loc. cit), que todos devemos adorar com coração humilde, cientes da insuficiência de nossas luzes naturais para penetrar nesta que é uma das maiores provas de amor de Cristo aos homens.  Graças e louvores se dêem a todo momento, ao santíssimo e diviníssimo sacramento!

Referências

  1. Cf. Antonio R. Marín, Teología moral para seglares. 3.ª ed., Madrid: BAC, 1965, vol. 2, p. 130, n. 87.
  2. Mas por concomitância, em virtude da união hipostática, debaixo de cada espécie sacramental está presente o Cristo inteiro, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
  3. Cf. Antonio R. Marín, op. cit., p. 136, n. 89.
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