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Por que a Basílica de Latrão é a Catedral do Papa?

Neste episódio de “A Resposta Católica”, Padre Paulo explica por que a Basílica de Latrão é a Catedral do Papa e menciona vários acontecimentos históricos, de glórias e tragédias, pelos quais essa Basílica passou ao longo de seus 1.300 anos.

Texto do episódio
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A Catedral do Papa é a conhecida Catedral de Latrão — Basílica romana do século IV. Por isso, é importante conhecermos a história dessa igreja que é chamada de “Mater et Caput omnium ecclesiarum”, a “Mãe e Cabeça de todas as igrejas”. 

Ora, durante os primeiros séculos do cristianismo, os cristãos, perseguidos, não podiam construir igrejas — eles se reuniam em casas particulares adaptadas para o culto. Porém, depois do Edito de Milão, em 313, o Imperador Constantino presenteou o Papa Melquíades com uma área na periferia de Roma, onde foi construída uma Basílica para os cristãos. Essa Basílica, mais tarde, foi sagrada pelo Papa São Silvestre, e dedicada ao Santíssimo Salvador. Esse era o principal templo cristão de Roma. É claro que, mais tarde, os cristãos quiseram honrar o túmulo dos dois grandes Apóstolos, Pedro e Paulo. Assim, foi construída uma Basílica no sopé do Monte Vaticano, a Basílica de São Pedro; e uma Basílica na Via Ostiense, sobre o túmulo de São Paulo. Porém, a Basílica principal era a do Santíssimo Salvador — onde os papas residiam. 

A cidade de Roma já sofreu com muitos terremotos — hoje, há poucos registros de tremores de terra, mas no passado era algo relativamente comum. Atualmente, portanto, a Basílica de São João de Latrão é uma construção inteiramente distinta do prédio original, por conta das inúmeras dificuldades. Em primeiro lugar, a Basílica enfrentou as consequências do despovoamento de Roma — a Roma Antiga teve, no seu apogeu, cerca de 1 milhão de habitantes. Com o tempo, a cidade foi se tornando insegura, tanto que São João de Latrão chegou a ser saqueada pela visigodos e depois pelos vândalos. A deterioração do prédio era tamanha que o próprio Papa São Leão Magno — do qual o Papa Leão XIV herdou o nome — teve de ordenar a restauração da Basílica, depois do saque dos vândalos. 

Chegada a Idade Média, Roma já havia se tornado uma cidade menos importante; agora, ela tinha uma população ínfima: cerca de 100 mil habitantes. Nesse período, o Papado sofreu nas mãos das poderosas famílias romanas, que, guiadas por interesses próprios, elegeram papas ao seu bel-prazer. Ademais, no período medieval, as comunicações eram bastante precárias: a cristandade rezava pelo Papa, tinha consciência de que o Pontífice estava em Roma, mas a influência objetiva que o Papa tinha nas dioceses era quase insignificante — por causa da comunicação deficitária. 

O período no qual o Papado ficou refém das famílias romanas, por assim dizer, é o chamado “século de ferro” — quando aconteceram coisas horríveis no trono de Pedro. No início do século X, por exemplo, houve um evento trágico: o Papa eleito, Estevão VI, decidiu julgar o seu antecessor, o Papa Formoso, que teve o seu cadáver desenterrado a fim de comparecer ao seu julgamento. Então, lá estava a múmia do Papa, paramentada, sentada na sua cátedra, na Basílica de São João de Latrão. O Papa Estevão VI ordenou que um diácono fizesse as vezes de porta-voz do cadáver. Assim, depois do julgamento, Formoso, que já estava morto, foi condenado. Evidentemente, o chamado “Sínodo do Cadáver”, o julgamento do cadáver, foi um grande escândalo. 

Acontece, porém, que logo depois desse episódio horroroso, a cidade de Roma foi atingida por um terremoto. A Basílica de São João de Latrão pegou fogo. À vista disso, o povo achou que fosse um grande castigo de Deus precisamente para a Basílica, como um sinal de que o julgamento do cadáver do Papa não agradou a Deus. Desse modo, a Basílica foi reconstruída e dedicada a São João Batista — seu primeiro título era apenas “do Santíssimo Salvador”. 

Passados alguns anos, nova tragédia: o exílio dos papas em Avignon. Foi um período na história da Igreja no qual os Pontífices não queriam morar em Roma e a cidade eterna ficou abandonada. A Basílica de São João de Latrão sofreu com novos terremotos, incêndios, saques etc. O prédio ficou em estado tão deplorável, que vacas pastavam no interior da Basílica, pois começou a crescer mato dentro do templo. Quando, depois do exílio de Avignon, os papas retornaram, no século XII, a Basílica já havia sido dedicada a São João Evangelista — primeiro, ela foi dedicada ao Santíssimo Salvador; depois, no século X, a São João Batista; por fim, no século XII, a São João Evangelista. 

Assim, restaurado o Papado em Roma, a Basílica passou a se chamar de São João de Latrão — o nome completo é Basílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista. Hoje, totalmente reformulada, ela é a Catedral do Papa, e também a sede do governo da Diocese de Roma. Enquanto no Vaticano estão os escritórios do governo da Igreja no mundo inteiro, em Latrão está localizada a sede da Cúria da Diocese de Roma. É lá também que fica o Vigário-Geral do Papa — atualmente, o Cardeal Reina, o arcipreste da Basílica, responsável por governar a Diocese de Roma em nome do Papa. 

Então, esse é um pouco da história da Basílica de São João de Latrão, a Catedral do Papa. Nós olhamos para ela como se o prédio fosse, de fato, um monumento vivo; sua história de dois mil anos está marcada por glórias e tragédias. É nesta Catedral que completa 1.300 anos — juntamente com o Concílio de Niceia, 1.700 anos — que nós encontramos a Cátedra de Pedro. Por tudo isso, ela merece, mais do que qualquer outra, o título de “Mãe e Cabeça de todas as igrejas”.

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VC
Vânia Carvalho
26 Mai 2025

Muita vontade de conhecer

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GN
Glória Neves
25 Mai 2025

Muito interessante! Sempre quis saber sua história, e ninguém melhor do q o Padre Paulo Ricardo para nos contar. Obrigada!

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Comentários dos alunos