O Papa Leão XIV irá tomar posse da sua Catedral, a Arquibasílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista — mais conhecida como Basílica de São João de Latrão. Essa ocasião solene nos leva à pergunta: o quê, afinal, é uma Basílica?

Ora, em primeiro lugar, nós temos de entender que Basílica é uma estrutura arquitetônica dos reis e imperadores; é, portanto, um prédio público próprio do Império Romano. E esse edifício, onde se tratava de negócios, de julgamentos, de assembléias públicas e de deliberações, foi adotado pelos cristãos como local de reunião dos fiéis. 

Vamos explicar como isso aconteceu, porque há aqui uma aplicabilidade espiritual bastante interessante. Vejamos: depois que o Edito de Milão, assinado pelo Imperador Constantino em 313, concedeu liberdade de culto aos cristãos, estes se viram diante de uma necessidade: onde se reunir? Você, no século XXI, responderia de imediato: em um templo. Acontece, porém, que o conceito de “templo”, como entendido até então, era o da casa do deus. Em Roma, os templos eram edifícios que podiam ser majestosos, mas a maioria era feita por edificações singelas, pequenas. Na conhecida área sacra de Roma, a Piazza di Torre Argentina, há uma série de ruínas de pequenos templos. Essas construções eram diminutas, precisamente porque eram projetadas para resguardar apenas a estátua do deus. As pessoas não entravam no templo, como nós pensamos hoje. Como o templo era o lugar onde o deus morava, os primeiros cristãos não queriam ter templos — porque eles não tinham deuses que pudessem morar em templos feitos pela mão do homem. Nosso Deus está no Céu, e o templo de Deus em nosso meio é a humanidade de Cristo. 

Os templos pagãos eram feitos com colunas externas na fachada; e no interior da construção entravam apenas os sacerdotes, que rezavam diante da estátua do deus. As pessoas, por sua vez, permaneciam diante dessa fachada, que era chamada de “fano”, formando, assim, os “profanos”, ou seja, aqueles que ficavam fora do ambiente sagrado do deus pagão. 

Ora, por causa da Celebração Eucarística, os cristãos precisavam de um local adequado para se reunir. Tinha de ser um local onde eles pudessem celebrar a Missa: ler a Palavra de Deus, a primeira parte da Missa, que é a Liturgia da Palavra; e celebrar a Eucaristia. Assim, por comodidade, os cristãos se valeram daquela forma arquitetônica que já existia: a Basílica romana antiga, que, enquanto prédio público, era uma espécie de praça coberta, cercada por um pórtico de colunas. Nesse lugar, havia uma abside — um tipo de concha acústica — na qual os juízes, sentados em suas cátedras, podiam emitir sentenças nos pórticos laterais. Mas a Basílica era o local onde as pessoas também podiam fazer negócios, consultarem-se com advogados etc. Há um correlativo arquitetônico moderno das basílicas: os shopping centers, cujo formato de construção lembra as basílicas antigas, ou seja, as lojas seriam as naves laterais, localizadas em torno do vão elevado, por onde as pessoas circulam. 

Pois bem, como os arquitetos já sabiam construir esse tipo de edifício, os cristãos só tiveram de adaptá-lo. Então, na abside, onde havia aquela concha acústica — é claro que, à época, não havia alto-falantes, tampouco caixas de som —, era o lugar perfeito para o pregador falar. Aliás, já havia também a cadeira do juiz, que se transformou na cadeira do bispo, isto é, a cátedra do bispo. Mais adiante, onde ficava a mesa da justiça, foi montado o altar para a Celebração Eucarística — frequentemente, esse altar era construído sobre o túmulo de algum mártir, como é o caso de São Pedro; é por isso que se colocava sobre o altar um tipo de arco do triunfo. E, por fim, na nave central, onde as pessoas se reuniam, foi colocado um ambão, um lugar próprio para a leitura do Evangelho. 

O exemplar mais antigo dentre as basílicas romanas é uma construção do século V, a Basílica de Santa Sabina. Se você quiser uma mostra paleocristã, por assim dizer, de como era o culto dos primeiros cristãos, Santa Sabina é esse exemplar.

Em suma, a palavra “basílica” vem de “basileus”, que significa “rei”; é, portanto, um edifício imperial. Trata-se de um prédio público onde as pessoas se reuniam para os negócios comuns, mas depois foi transformada para o culto divino. Foi nesse contexto que a primeira Igreja cristã, a Basílica de São João de Latrão, foi edificada no terreno doado pelo Imperador Constantino ao Papa e dedicada ao Santíssimo Salvador pelo Papa São Silvestre.