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Texto do episódio
03

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 19,13-15)

Naquele tempo, levaram crianças a Jesus, para que impusesse as mãos sobre elas e fizesse uma oração. Os discípulos, porém, as repreendiam. Então Jesus disse: “Deixai as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. E depois de impor as mãos sobre elas, Jesus partiu dali.

“O Reino dos Céus é das crianças”. O que é que Jesus quer dizer com esta palavra? Vejam, nós temos de compreender que, na realidade, toda a vida espiritual é um processo de renascimento, ou seja, algo precisa morrer em nós e algo precisa nascer. Por isso, dizer: “Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o Reino dos Céus” não significa que o ser humano, no seu estado natural infantil, é realmente aquele que deve ir para o Céu e que é santo. Não é isso.

Jesus está fazendo uma analogia: assim como uma criança realmente confia nos seus pais, também a alma do santo chegou a uma tal entrega a Deus que se deixa transformar por Ele. Nós podemos dizer que ela nasceu de novo e é como uma criança. É uma analogia, portanto.

Se nós formos olhar para as crianças, tais quais nós encontramos em nossa casa, vamos perceber um duplo aspecto: por um lado, essa confiança, uma certa ingenuidade, uma certa simplicidade infantil que é o que Jesus está pregando como ponto de partida para esse impulso: “Assim deve ser a alma do santo que entra no reino do céu”; mas se a gente virar a moeda, nós vemos também que as crianças são marcadas pelo egoísmo porque, infelizmente, por causa do pecado original, nós temos essa tendência para o egoísmo, e não é esse o tipo de coisa que nós devemos imitar, não é essa a criança que entra no reino dos céus.

Ali, nós estamos vendo o homem velho, que está em todos nós por causa do pecado original, e é este homem velho que precisa morrer. Portanto, é um processo de morte e de ressurreição, ou seja, nós precisamos matar em nós o homem velho para que nasça a criança, o filho de Deus totalmente confiante em Deus e, assim, nós possamos trilhar o caminho da santidade. Sendo bem prático: como é que isso acontece?

Nós sabemos o que causa em nós o não sermos confiantes em Deus como crianças, nos entregarmos como criancinhas no colo do Pai: é o fato de que as nossas paixões desordenadas, por causa do pecado original, nos impedem. Nós somos, infelizmente, como crianças mimadas que querem tudo e acham-se o centro do mundo: “Seja feita a minha vontade, assim na terra como no céu”.

Concretamente, o que precisamos fazer é nos dedicar a Deus em obras de apostolado. Quando nós, tendo uma vida de oração, depois nos dedicamos a Deus levando os irmãos para Deus, essas obras de apostolado têm a capacidade de matar dentro de nós o homem velho. Ou seja, a nossa doação, a nossa entrega, a nossa generosidade para com os irmãos exige de nós paciência, carregar a cruz do dia a dia, ser perseverante, perdoar as ofensas, e tudo isso vai como que matando o homem velho dentro de nós.

Então, na nossa vida espiritual, quando rezamos, devemos nos entregar nos braços do Pai como criancinhas, mas sabendo que, nas obras de apostolado, “infelizmente”, nós entramos no cadinho da humilhação e numa espécie de “betoneira” que vai moendo — digamos assim — as nossas paixões desordenadas para matar o homem velho e fazer com que realmente nos entreguemos nos braços do Pai como crianças confiantes.

“Deixai vir a mim as criancinhas”. Nosso Senhor Jesus Cristo diz isso a nós hoje, diz isso a mim. Eu preciso ser como criança para ir a Ele, para docilmente me entregar nos braços dele como um filho se entrega confiante nos braços do pai. Mas, para isso, o homem velho precisa morrer; pois, como está escrito no Evangelho de João: “É necessário nascer de novo”.

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