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Memória de São João da Cruz

S. João da Cruz nos recorda que, em nossa subida do Monte Carmelo até o nosso Esposo, é necessário ir cortando os laços que nos amarram às coisinhas que impedem a jornada. Um passarinho, para voar, precisa estar livre e desimpedido de fios.

Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 21, 23-27)

Naquele tempo, Jesus voltou ao Templo. Enquanto ensinava, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se dele e perguntaram: “Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu tal autoridade?”

Jesus respondeu-lhes: “Também eu vos farei uma pergunta. Se vós me responderdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. Donde vinha o batismo de João? Do céu ou dos homens?”

Eles refletiam entre si: “Se dissermos: ‘Do céu’, ele nos dirá: ‘Por que não acreditastes nele?’ Se dissermos: ‘Dos homens’, temos medo do povo, pois todos têm João Batista na conta de profeta”. Eles então responderam a Jesus: “Não sabemos”. Ao que Jesus também respondeu: “Eu também não vos direi com que autoridade faço estas coisas”.

1. Oração, porta de entrada do Céu. — Com grande alegria celebramos hoje a memória de S. João da Cruz, grande pai e mestre na vida de oração. Como não agradecer e louvar a Deus por nos ter providenciado homens que nos ensinassem a rezar? Porque não é possível ser santo sem rezar, e sem rezar muito. É uma das verdades de que mais precisamos nos dar conta. Todos temos santos de nossa devoção, o Céu está povoado de santos: são milhares e milhares ou, como diz o Apocalipse, uma multidão incontável (cf. Ap 7, 9); mas olhar para essa multidão de homens que chegou ao Céu é olhar para uma multidão de homens que rezou. São santos porque rezaram; chegaram ao Céu porque rezaram. E os condenados ao Inferno... se perderam porque não rezaram. 

Eis por que é urgente entender a necessidade da vida de oração. A vida para a qual Deus nos chama, a vida de partilhar as alegrias do Céu, só pode ser produzida em nós por Ele. De fato, tudo o que se move é movido por alguma coisa; se, portanto, queremos mover o nosso coração egoísta a amar como Deus ama, necessitamos de uma intervenção divina. Não é possível que a caridade surja em nossos corações sem uma intervenção de Deus. Qual é, então, o caminho? Primeiro, compreender esta verdade: para ter vida de oração e trilhar o caminho da santidade, é preciso estar em estado de graça. Estamos no tempo do Advento: é momento de confessar-se e sair do pecado. Mas, uma vez confessados,  temos de fazer crescer a semente da graça plantada em nós. Há que regá-la, há que purificá-la, há que fazê-la crescer aos poucos, até que se torne a árvore frondosa que Deus quer que ela seja. E, para fazer isso, temos necessidade de mestres espirituais que nos indiquem os meios.

2. A oração que transforma. — S. João da Cruz é um desses mestres. Entendido que Deus nos ama, é preciso deixar-se atrair por este amor. S. João da Cruz nos recorda que, nesta subida do Monte Carmelo até o nosso Esposo, é necessário ir cortando os laços que nos amarram às coisinhas que impedem a subida. Afinal, um passarinho, para voar, precisa estar livre e desimpedido de fios. Quem se apega à terra, não alça voo! Atraídos pelo amor, pois, devemos ir-nos desapegando das coisas deste mundo. Esse é o grande ensinamento de S. João da Cruz, sobretudo em suas obras — por assim dizer — mais “negativas”, A Subida do Monte Carmelo e A Noite Escura. Mas essas obras negativas só têm sentido porque têm em vista desamarrar-nos para o grande amor, para o Cântico Espiritual, para a Chama Viva de Amor, isto é, para as obras em que se nos apresenta claramente o amor com que somos amados e ao qual devemos responder. Muita gente tem dificuldade com S. João da Cruz porque começa a lê-lo por suas obras mais negativas — o “nada da criatura”, a “noite escura da alma”... —, mas não entende que elas só têm sentido à luz do Amor que nos chama. 

Vamos lá, então! Decidamo-nos pela vida de oração! Oração, sim, que nos irá transformar. Se temos vida de oração, mas não mudamos de vida, é porque há algo de errado em nossa maneira de rezar. É preciso notar ao menos pequenos movimentos de mudança. São movimentos de desapego, atos de generosidade, purificações etc. É assim que, aos poucos, nos iremos aproximando cada vez mais daquele que nos amou, que se entregou por nós ao vir a este mundo. Eis a grande doutrina desse mestre espiritual e Doutor da Igreja, S. João da Cruz: Reze! Seja generoso na oração! Cristo se entregou por nós; entreguemo-nos nós por Ele.

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