O Evangelho deste domingo nos relata a multiplicação dos pães. Este evento milagroso sempre foi interpretado pela Igreja como um anúncio e antecipação da Eucaristia, o pão dos anjos descido do céu. Vejamos, pois, de forma bem prática como podemos comungar com fruto e, assim, progredir mais e mais no caminho da santidade.
Antes de tudo, há que repisar o óbvio: nunca se deve comungar em pecado mortal. Refresquemos a memória: são mortais os pecados cuja matéria atenta diretamente contra algum dos dez Mandamentos e que se cometem com plena advertência e pleno consentimento (cf. Catecismo da Igreja Católica, §1858s). Se estiver em pecado mortal, o fiel precisa recorrer o quanto antes à Confissão sacramental, que, para ser válida, supõe o arrependimento sincero de todos os pecados mortais de uma vez e para sempre, com o propósito firme de nunca mais pecar.
Uma vez recobrada a graça santificante, o fiel pode aproximar-se da SS. Eucaristia. Mas para que a comunhão eucarística seja, de fato, frutuosa, é preciso preparar-se dignamente. Ora, a preparação pode ser remota e próxima. A remota consiste na luta constante e habitual contra os próprios defeitos e imperfeições, ou seja, contra os pecados veniais. Com efeito, se nós mesmos não estivermos dispostos a mudar, não serão as comunhões que nos hão de mudar da água para o vinho, como por um “passe de mágica”. Trata-se de uma lei básica e fundamental da vida espiritual: se, apesar de tantas comunhões, não vemos em nós mudança alguma, isso não se deve à Eucaristia, mas à nossa falta de empenho em combater na raiz, com a ajuda da graça, tudo o que nos impede de receber o Corpo do Senhor com o coração mais bem disposto.
Diferentemente dos mortais, os pecados veniais nem sempre podem ser superados “todos de uma vez e para sempre”. Exigem luta, e luta constante. Ora, o método mais eficaz de os combater é o que nos propõe a Imitação de Cristo: “Se a cada ano nos livrássemos de um vício, nós em brevíssimo tempo seríamos santos” (I, 11, 5). Mas como é triste o espetáculo que vemos repetir-se tantas vezes: voltamos ao confessionário uma e outra vez, trazendo na consciência as mesmas faltas, e apesar de tantos “bons propósitos”, tropeçamos sempre nos mesmos obstáculos...
Que fazer contra essa lastimável reincidência nos pecados “de costume”? Um bom remédio é escolher, dentre os nossos pecados veniais, os que com mais insistência se repetem, e contra eles lutar com constância, perseverança e humildade, e isso por um tempo razoável. Assim cresceremos na virtude, de maneira disciplinada e concentrada.
Como resultado desse combate, veremos cada vez mais em nossa alma a disposição para mudar de vida e o desejo de que o Cristo eucarístico opere em nós essa mudança. Perceberemos aos poucos que, além do pecado concreto que vínhamos combatendo, fomos superando muitas outras imperfeições e realizando, com o auxílio da graça, uma profunda transformação interior. Temos disso um célebre exemplo em S. Teresa d’Ávila, que confessou ter passado 17 anos na tibieza, sem progredir na virtude, porque não combatia os pecados veniais. A partir do momento que a santa, por orientação de um dominicano, começou a combater os pecados veniais, passou a dar passos largos de perfeição.
Por fim, é necessário fazer a preparação próxima: concentrar-se no mistério que se está celebrando, não comungar com pressa e irreverência, receber a Eucaristia com fé e devoção e dedicar um tempo a Cristo após a comunhão, para ter com Ele diálogos de amor e reparação. Desse modo, conseguiremos nos unir a Cristo não só física como espiritualmente, tornando realmente frutuosas as nossas comunhões sacramentais.
Busquemos pois trilhar o caminho da santidade seguindo estes três passos essenciais: 1.º) não comungar em pecado mortal; 2.º) combater os pecados veniais, um de cada vez e com persistência; 3.º) e comungar com grande fé e devoção, unindo-nos a Ele de coração preparado. Peçamos a Deus que nos dê forças para seguir essas orientações, a fim de que Nosso Senhor opere em nós uma “multiplicação dos pães”, e a Eucaristia seja em nossas vidas uma rica fonte de graça e um eficaz meio de santificação.
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