Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 20-25)
Naquele tempo, os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ‘Está aqui’ ou ‘Está ali’, porque o Reino de Deus está entre vós”.
E Jesus disse aos discípulos: “Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. As pessoas vos dirão: ‘Ele está ali’ ou ‘Ele está aqui’. Não deveis ir, nem correr atrás. Pois, como o relâmpago brilha de um lado até o outro do céu, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”.
1. O Reino de Deus está dentro de nós. — O Evangelho deste dia nos fala que o Reino de Deus está dentro de nós. Notemos que o evangelho de S. Lucas nos diz textualmente que “o Reino de Deus está entre vós” (v. 21); mas se nós conferirmos o original grego, iremos perceber que a expressão “ἐντὸς ὑμῶν” admite uma dupla tradução possível. Na primeira, o Reino de Deus está entre nós, isto é, no nosso meio. No entanto, o Reino de Deus está também dentro de nós, e talvez seja esta segunda interpretação a mais importante para a nossa vida espiritual. Por quê? Porque o que Jesus nos está dizendo é: “Não procureis o Reino de Deus aqui, ali ou em outros lugares, porque ele está dentro de vós”. É como dizia S. Agostinho em suas Confissões, naquele belo hino à Beleza tão antiga e tão nova, a quem ele diz ter amado tão tarde. E diz por quê: “Eis que tu estavas dentro, e eu fora” (X 27, 38). Deus nos chama, e nos chama dentro de nós. Daí se vê a grande miséria que é viver uma vida totalmente exterior, dispersa, dissipada; que é ser chamado para dentro, e ser empurrado para fora por tantas coisas, com foi por algum tempo a vida da pobre Marta, inquieta no meio das panelas da cozinha, agitada com muitas coisas (cf. Lc 10, 40s).
2. Lutas contra o que dispersa. — De fato, o diabo, o mundo e a carne são especialistas em fazer isso conosco. Os três inimigos de nossa alma são hábeis em nos dissipar, dispersar, em nos pôr para fora, levando-nos a buscar Deus onde ele não se encontra. E assim nos perdemos. Mas nos perdemos por quê? Porque vamos buscar a felicidade nas lonjuras do nosso ser, fora do nosso centro. Excêntricos, buscamos a Deus e a felicidade sabe-se lá onde! Quanta coisa nos dispersa! É Facebook, é Instagram, é WhatsApp o dia inteiro, que nos chamam e levam para todos os lados. Ora, do que nós precisamos é ter um tempo para descobrir o Reino de Deus dentro nós. Eis então um conselho: tomemos uma decisão, a decisão de, ao menos numa parte do dia, cortarmos essas formas de distração das rede sociais, deixarmos um pouco o telefone de lado, deixarmos o que nos perturba e procurarmos nos recolher. Encontremo-nos com nós mesmos, e depois nos encontremos com o Deus que nos está chamando. A voz de Deus chama! É Deus quem faz o apelo, que nos chama no nosso coração; mas se não fizermos silêncio, como iremos ouvi-lo?
3. Um conselho prático. — Sendo, pois, bem concretos, façamos o seguinte. Nós, que estamos acostumados a ouvir estas homilias, reservemos todos os dias um tempinho para ler o Evangelho; depois de tê-lo lido, ouçamos de novo a homilia em espírito de “escuta”, de oração. Se algo na leitura e na homilia nos tiver chamado atenção, como que “brilhando” dentro de nós de alguma forma, levemos isso para a oração e, durante algum tempo — que sejam dez minutos apenas — estejamos em colóquio com Jesus. Demos-lhe este tempo de oração. Peguemos, se for o caso, papel e caneta e lhe escrevamos sobre o que nos tocou na homilia. Tenhamos esse tempo de amizade com Cristo, e veremos que Ele não está longe: Ele está dentro, Ele não nos fala em língua estranha, mas na linguagem do nosso coração. Porque o Reino de Deus está dentro vós!
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