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Quem é o nosso real inimigo?

“Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos”.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 43-48)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!’ Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.

O amor aos inimigos. — V. 43. A antiga Lei mandava “amar o próximo” (Lv 19, 18) e, entendido pelo escribas como dedução lógica deste preceito, “odiar o inimigo”, isto é, os outros povos, a quem os judeus deviam destruir, se assim pudessem (cf. 1Sm 15, 3). De que maneira os hebreus levavam à prática este preceito, narra-nos o escritor Tácito: “Entre eles, é inquebrantável a fidelidade e pronta a misericórdia; mas, contra os de fora, impera um ódio hostil” (Hist. V, 5; cf. Flávio Josefo, Antiq. XI, 6, 5; Cícero, Pro Flacco, 28). No entanto, a Lei antiga prescrevia, mais de uma vez, o amor aos inimigos, quer dizer, aos estrangeiros (cf. Ex 22, 21; Lv 19, 33s; Dt 10, 19 etc.). Essa aparente contradição se desfaz com facilidade: de fato, Deus queria, sim, que o povo judeu estivera apartado dos demais, mas de nenhuma forma permitia o ódio entre particulares. Ao que parece, porém, foram os fariseus que estenderam o princípio geral referente às nações estranhas a qualquer pessoa, inclusive aos inimigos privados. — V. 44. Cristo aperfeiçoa, pois, o preceito da Lei antiga sobre as relações com o próximo e corrige a interpretação perversa que lhe tinham dado os fariseus. Os discípulos da Nova Lei, portanto, devemos amar não somente o próximo (amigos, familiares, conterrâneos etc.), mas também os inimigos, quer dizer, os que nos “odeiam, perseguem e caluniam”, e a este tríplice ato de ódio hemos de responder com uma tríplice obra de caridade: “amar, fazer bem e rezar”.

V. 45-47. E, para melhor nos persuadir deste nosso dever de amor para com os inimigos, o divino Mestre recorre a três argumentos. Assim, temos de amar os nossos inimigos: a) para nos tornarmos filhos do (isto é, “semelhantes ao”) nosso Pai, que “faz nascer o sol sobre maus e bons” etc., ou seja, que dá a todos, indiscriminadamente, a graça de seus múltiplos benefícios; b) para termos direito a alguma recompensa, isto é, para que as nossas ações sejam dignas de prêmio, pois quem ama apenas os seus, com amor puramente natural ou por proveito próprio, não receberá de Deus retribuição alguma; c) para fazermos mais do que já fazem os pagãos e publicanos (em Lc 6, 32, “os pecadores”), a quem os judeus execravam com profundo desprezo (cf. Dt 7, 2; Mt 18, 17; At 10, 28 etc.). — V. 48. Este v. contém a regra de perfeição que nessa matéria hemos de seguir: “Portanto, sede perfeitos (gr. ‘τέλειοι’) como o vosso Pai celeste é perfeito”. Como se depreende do contexto e, de modo particular, da versão de S. Lucas (Lc 6, 36: “Sede misericordiosos”), toda esta cláusula final contém um resumo da exortação à caridade fraterna, ainda que possa interpretar-se também em sentido genérico e aplicar-se, dessa forma, a qualquer outra virtude.

O amor aos inimigos pode parecer, de todos os ensinamentos morais de Cristo, talvez o mais “ilógico” e “antinatural”, dada a nossa inclinação à vingança e aos particularismos. Trata-se, contudo, de um preceito fundamental: a) primeiro, porque nos previne contra o maior pecado que se pode cometer contra o próximo (seja ele amigo ou inimigo), que é o ódio, oposto à máxima virtude da caridade, por causa do qual podemos condenar-nos à perdição eterna (cf. Pe. Santiago Ramírez, De caritate, n. 1140); b) segundo, porque impõe ordem à nossa vontade e afetos, na medida em que nos prescreve amar os inimigos, não enquanto tais, mas como homens iguais a nós, capazes de irem um dia para o céu; c) enfim, porque nos recorda que o nosso verdadeiro inimigo não é quem nos faz mal, calunia ou despreza, mas o demônio, que está sempre à espreita para nos enredar nos seus laços, instigando-nos, para a nossa própria condenação, a pagar o mal com mal e o ódio com ódio.

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